quinta-feira, 14 de julho de 2016

Cumpriu-se Portugal

O Infante

Deus quer, o homem sonha, a obra nasce.
Deus quis que a terra fosse toda uma,
Que o mar unisse, já não separasse.
Sagrou-te, e foste desvendando a espuma.

E a orla branca foi de ilha em continente,
Clareou, correndo, até ao fim do mundo,
E viu-se a terra inteira, de repente,
Surgir, redonda, do azul profundo.

Quem te sagrou criou-te português.
Do mar e nós em ti nos deu sinal.
Cumpriu-se o Mar, e o Império se desfez.
Senhor, falta cumprir-se Portugal!

Este foi o poema de Fernando Pessoa do livro “Mensagem” que saiu no meu exame de Português no 12º ano. Começámos pequenos, com a conquista do que é agora Portugal aos Mouros. Fomos grandes na época dos Descobrimentos, que apesar de todo o mal causado aos povos nativos, teve o mérito de espalhar a língua portuguesa pelo Mundo. Tivemos as invasões Napoleónicas. Sobrevivemos e resistimos. Um grande português deu a independência ao Brasil (Grito de Ipiranga). Demos a independência a Goa, Damão e Diu, Timor e a todas as colónias de África. E finalmente Macau. Voltamos ao pequenino que sempre fomos. Não sendo, como se dizia no tempo do Estado Novo que Portugal era “do Minho a Timor”, mas do Minho ao Algarve (Portugal Continental) e ilhas (Açores e Madeira).

Os franceses demonstraram mau perder. Acreditavam que já estava ganho. O autocarro já estava pronto. A Torre Eiffel que sempre se iluminou com as cores da bandeira nacional que ganhara, apagou-se. Ganhar é bom mas saber perder é uma virtude. Um país a achar que era superior...

Pelo Ronaldo que saiu pequenino da Madeira que teve uma infância mais do que humilde e que, como a mãe, sonhou o sonho de ser feliz. Ele é o exemplo para muitos meninos espalhados pelo mundo. E a mim, particularmente, faz-me acreditar que tudo é possível e que nada está predestinado à nascença. Um menino que disse em tempos à sua mãe:  “A mãe que não chore. Quando for grande, vou ganhar bastante dinheiro. Vou comprar uma casa e tirar a mãe do trabalho”. Dizem que todo ele é força de vontade e muito trabalho. E um homem bom.

Pelos portugueses espalhados pelo mundo que já ouviram uma piada/crítica/comentário xenófobo, pelos emigrantes que algum dia foram humilhados, pelos portugueses que fazem sucesso, pelos muitos que brilham, pelos muitos estudantes, pelos que trabalha arduamente e honestamente. Isto também é a vitória deles.

Como diz Fernando Pessoa “a minha pátria é a minha língua”, talvez seja isso que une os portugueses espalhados pelo mundo. Dizem que somos 11 milhões, mas somos mais. Mundial ou um Europeu como o deste ano, só vivi o de 2004 ou quando estava nos EUA. Nessa altura que me senti uma emigrante. Privilegiada mas emigrante. Estar longe da pátria. E quando se está longe é quando mais se sofre e quando mais se ama. Saudade, essa palavra tão portuguesa que não tem tradução.

Como escreveu uma grande amiga “Porque já estive lá fora e sei a falta que o nosso país nos faz e a alegria que é quando aterramos em casa. Pode ser futebol e 11 malucos com a bola nos pés, mas hoje é uma alegria que dão aos 11 milhões. Aproveitemos. E acreditemos que conseguimos. No futebol e na vida”. É (só) isto! Ontem e hoje. “Sonhar é grátis”, como disse o Ronaldo. Só vacilei quando ele saiu lesionado. Aí achei que estava tudo perdido. Mas os 11 em campo, apoiados pelos milhares no estádio e milhões em Portugal e espalhados pelo mundo, continuaram a acreditar. Se não tivéssemos ganho não seria o mesmo. Mas o sentimento de gratidão seria igual. É (só) futebol. Mas sonhar e acreditar que é possível é a melhor metáfora da vida.

Ganhámos contra tudo e contra todos. Dizem que jogámos mal, que não merecíamos. Pelos que nos chamaram nojentos, que nunca acreditaram que seria possível, que nos criticaram, que falaram mal, que nos consideraram menores, que só sabíamos construir casas e ser porteiras, que nos humilharam. “Não importa se jogamos bem ou mal, o que importa é levar a taça para o nosso Portugal”.  

Que esta vitória sirva para termos orgulho e acreditarmos sempre. Nada é impossível. E como dizia alguém: “O céu é o limite”.

E domingo, merecidamente, com justiça e pelos portugueses espalhados pelo mundo, ganhamos! Demonstramos união e espírito de missão, e isso é quase tudo! E no dia seguinte fui de directa trabalhar, depois de muito festejar e de o barulho na minha rua não ter terminado até de manhã. No dia 10 de Julho cumpriu-se Portugal! Obrigada!














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