O Infante
Deus quer, o homem sonha, a obra
nasce.
Deus quis que a terra fosse toda uma,
Que o mar unisse, já não separasse.
Sagrou-te, e foste desvendando a espuma.
E a orla branca foi de ilha em continente,
Clareou, correndo, até ao fim do mundo,
E viu-se a terra inteira, de repente,
Surgir, redonda, do azul profundo.
Quem te sagrou criou-te português.
Do mar e nós em ti nos deu sinal.
Cumpriu-se o Mar, e o Império se desfez.
Senhor, falta cumprir-se Portugal!
Deus quis que a terra fosse toda uma,
Que o mar unisse, já não separasse.
Sagrou-te, e foste desvendando a espuma.
E a orla branca foi de ilha em continente,
Clareou, correndo, até ao fim do mundo,
E viu-se a terra inteira, de repente,
Surgir, redonda, do azul profundo.
Quem te sagrou criou-te português.
Do mar e nós em ti nos deu sinal.
Cumpriu-se o Mar, e o Império se desfez.
Senhor, falta cumprir-se Portugal!
Este foi o poema de Fernando Pessoa
do livro “Mensagem” que saiu no meu exame de Português no 12º ano. Começámos
pequenos, com a conquista do que é agora Portugal aos Mouros. Fomos grandes na
época dos Descobrimentos, que apesar de todo o mal causado aos povos nativos, teve
o mérito de espalhar a língua portuguesa pelo Mundo. Tivemos as invasões
Napoleónicas. Sobrevivemos e resistimos. Um grande português deu a independência
ao Brasil (Grito de Ipiranga). Demos a independência a Goa, Damão e Diu, Timor
e a todas as colónias de África. E finalmente Macau. Voltamos ao pequenino que
sempre fomos. Não sendo, como se dizia no tempo do Estado Novo que Portugal era
“do Minho a Timor”, mas do Minho ao Algarve (Portugal Continental) e ilhas (Açores
e Madeira).
Os franceses demonstraram mau
perder. Acreditavam que já estava ganho. O autocarro já estava pronto. A Torre
Eiffel que sempre se iluminou com as cores da bandeira nacional que ganhara,
apagou-se. Ganhar é bom mas saber perder é uma virtude. Um país a achar que era
superior...
Pelo Ronaldo que saiu pequenino da
Madeira que teve uma infância mais do que humilde e que, como a mãe, sonhou o
sonho de ser feliz. Ele é o exemplo para
muitos meninos espalhados pelo mundo. E a mim, particularmente, faz-me
acreditar que tudo é possível e que nada está predestinado à nascença. Um
menino que disse em tempos à sua mãe: “A mãe que não chore. Quando
for grande, vou ganhar bastante dinheiro. Vou comprar uma casa e tirar a mãe do
trabalho”. Dizem que todo ele é força de vontade e muito trabalho. E um homem
bom.
Pelos portugueses espalhados pelo mundo que já
ouviram uma piada/crítica/comentário xenófobo, pelos emigrantes que algum dia
foram humilhados, pelos portugueses que fazem sucesso, pelos muitos que
brilham, pelos muitos estudantes, pelos que trabalha arduamente e honestamente.
Isto também é a vitória deles.
Como diz Fernando Pessoa “a minha
pátria é a minha língua”, talvez seja isso que une os portugueses espalhados
pelo mundo. Dizem que somos 11 milhões, mas somos mais. Mundial ou um Europeu
como o deste ano, só vivi o de 2004 ou quando estava nos EUA. Nessa altura que
me senti uma emigrante. Privilegiada mas emigrante. Estar longe da pátria. E
quando se está longe é quando mais se sofre e quando mais se ama. Saudade, essa
palavra tão portuguesa que não tem tradução.
Como escreveu uma grande amiga
“Porque já estive lá fora e sei a falta que o nosso país nos faz e a alegria
que é quando aterramos em casa. Pode
ser futebol e 11 malucos com a bola nos pés, mas hoje é uma alegria que dão aos
11 milhões. Aproveitemos. E acreditemos que conseguimos. No futebol e na vida”.
É (só) isto! Ontem e hoje. “Sonhar é grátis”, como disse o Ronaldo. Só vacilei
quando ele saiu lesionado. Aí achei que estava tudo perdido. Mas os 11 em
campo, apoiados pelos milhares no estádio e milhões em Portugal e espalhados
pelo mundo, continuaram a acreditar. Se não tivéssemos ganho não seria o mesmo.
Mas o sentimento de gratidão seria igual. É (só) futebol. Mas sonhar e
acreditar que é possível é a melhor metáfora da vida.
Ganhámos contra tudo e contra
todos. Dizem que jogámos mal, que não merecíamos. Pelos que nos chamaram
nojentos, que nunca acreditaram que seria possível, que nos criticaram, que
falaram mal, que nos consideraram menores, que só sabíamos construir casas e ser
porteiras, que nos humilharam. “Não importa se jogamos bem ou mal, o que
importa é levar a taça para o nosso Portugal”.
Que esta vitória sirva para termos
orgulho e acreditarmos sempre. Nada é impossível. E como dizia alguém: “O céu é
o limite”.
E domingo, merecidamente, com
justiça e pelos portugueses espalhados pelo mundo, ganhamos! Demonstramos união e espírito de missão, e isso é quase tudo! E no dia seguinte
fui de directa trabalhar, depois de muito festejar e de o barulho na minha rua
não ter terminado até de manhã. No dia 10 de Julho cumpriu-se Portugal! Obrigada!
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