Tudo na minha vida profissional sempre me indicou que não
podia ser (demasiado) optimista. Quando achei (alguma vez) que tinha alguma
coisa para o ser, o universo encarregou-se de mostrar-me o meu devido lugar. Fiz
um doutoramento sem nunca ter tido uma bolsa da FCT. Perdi as vezes que
concorri e não tive. Acho que bati o recorde: no número de vezes que alguém
concorreu e que não conseguiu. Podia entrar para o Guiness. Talvez tenha sido
esse facto que treinou a minha paciência e a minha “não desistência”. Nunca
desisto de nada antes de achar que acabou. A célebre frase: “se o fim não foi
bom é porque não acabou”. Depois, quando acabei o doutoramento, uma ideia
revolucionária dada por um grande amigo e a leitura obsessiva sobre o assunto
durante um mês, resultou numa das maiores alegrias da minha vida profissional:
uma bolsa de pós-doutoramento da FCT. Essa bolsa permitiu-me arriscar numa nova
área, viver na cidade que sempre quis, trabalhar com quem quis e evoluir.
Comecei de novo. Do zero. E com isso, com todo o banho de humildade de aos 31
anos começar a (re)aprender tudo de novo. Sem vergonha de questionar, de não
saber, de pedir. Ao contrário da maioria dos pós-docs do meu laboratório, fui
para fora e apostei numa nova área. Com todos os contras que isso implicava,
teve as suas vantagens: ensinou-me muito e permitiu-me independência. Perder a
vergonha foi o maior ensinamento. E o outro foi acreditar nas minha
capacidades. A minha auto-estima profissional cresceu muito. Quando o elogio vem
de pessoas que defendem e acreditam na meritocracia, esse é o desfecho.
No ano passado concorri pela primeira vez a Investigador
FCT. A saga das rejeições regressou. Não tive. Este ano concorri novamente.
Passei à segunda fase. Um dia antes das férias recebo o veredicto. Foi a maior
pancada profissional deste ano. Foi um KO imediato. Não o resultado mas o
comentário. Para mim, não existe nada pior do que a crítica injusta. Aceito
(quase) tudo mas não lido bem com a injustiça e a ingratidão. Nesse dia fui
para casa e fechei-me. Uma amiga disse-me “Podes gritar. Eu deixo-te”. Não consegui.
Nem gritar nem chorar. Mas uma dor
imensa tomou conta de mim. É nestas alturas, em que o nosso ego é posto em
causa, que vacilamos e descemos à nossa humilde condição de humanos. Olhamos
em frente, relativizamos e descobrimos que a melhor maneira de continuar é não
nos levarmos muito a sério. Por cada vitória e conquista teremos sempre uma
proporção imensa do outro lado da moeda. A vida é assim. E a melhor recuperação
é pensar sempre que não há nada como dormir porque amanhã será outro dia.
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