As pessoas que me conhecem bem sabem o quanto a música está
ausente na minha vida e o quanto sou ignorante neste tema. Ouço cada vez menos,
menos, menos música. E acho que há cada vez mais música desnecessária e que só
polui o mundo. E com o passar dos anos, não me consigo concentrar na presença
dela. Uso-a apenas para “mascarar” o barulho quando me incomoda, no ginásio
(que vou com muita pouca frequência) e a andar de bicicleta (que era o meu meio
de transporte em Houston). Para piorar os meus conhecimentos musicais, saio
cada vez menos à noite e a pouca música nova que vou conhecendo limita-se à
obra do acaso. Ou à grande transposição de resistência que às vezes concedo às
músicas que os meus amigos me enviam.
A Luana foi uma das grandes surpresas do último ano. Conheci-a,
e a sua voz, num fim de tarde lindo em Óbidos. Fiquei encantada. Falou bem,
cantou bem e vim a saber que escreve (ainda) melhor. Acompanhada da poeta Alice
Sant’Anna, do baterista e baixista da banda Tono. Foi daqueles encontros
memoráveis e irrepetíveis que ficam apenas gravados na memória, em que tudo
parece ser perfeito. Ali era apenas a Luana. Com as letras, as canções, a voz,
a música, os óculos e o violão. Lembro-me, para sempre, que se falou de Machado
de Assis, de baleias, de mar, de Moby Dick, da Mangueira...
Em Outubro foi convidada especial do Moreno Veloso no S.
Luiz. Cantou “Deusa do amor” e “Invente-me” que serão para sempre a imagem
dela, para mim. E no final do concerto foi-me apresentada pela Anabela Mota
Ribeiro. Pessoalmente Luana é tal e qual como a cantora que se revelara no
palco, como leitora de poesia dela e dos outros, como compositora, como instrumentista:
gentil e delicada. Disse-me que os discos seriam lançados em Janeiro, e assim
foi. Cumpriu-se.
“Sul” saiu saiu primeiro em todas as plataformas digitais.
Ouvi do princípio ao fim, repetidamente, sem me cansar. Tem sido a minha
companhia, como barulho (bom) de fundo. A capa, na primeira vez que a vi,
lembrou-me “Moby Dick”. Não sei se era essa a intenção. E estão lá, tão
perceptíveis a guitarra de Pedro Sá e o violoncelo de Moreno Veloso. “Invente-me”
é de morrer de amores. E já sei o significado de “cabrocha”.
“Branco” é diferente. Parece-me um trabalho muito mais
experimental e autoral, muito decantado. Um conjunto de sons e palavras
cuidadas que não se parece com nada. Talvez daí o nome branco. Ou um zero (não
absoluto). Algo no disco me fez (re)lembrar da sonoridade de “Cantada” de
Calcanhotto. Sou só eu que achei?
Este trabalho duplo da Luana não é só música, nem canção,
nem interpretação. É muito mais. Mais além. Para lá. Muitas expressões artísticas
numa só. O muito que se transforma em pouco. A simplicidade tão difícil de
conseguir, atingida. A beleza da arte como uma coisa só.
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