Há anos, no tempo da Presidência Bush (filho) ouvia:
“Bush é Presidente dos EUA, como posso sentir-me segura?”. Sou uma optimista
mas sempre achei que haveria pior do que Bush. O buraco pode sempre ser mais
fundo. Esta América elegeu democraticamente um Presidente que defendeu a
construção de um muro para separar dois países, que diz “nós e eles”, sendo
esses “eles” os maus, a causa do crime, do insucesso, da delinquência, que a
inexistência desses “eles” seriam a salvação do país. O Presidente que ousou dizer que não aceitava
trans no exército. O Presidente que ignora os homossexuais. O Presidente que
ousou um dia duvidar e questionar a nacionalidade de outro Presidente. O
Presidente que pinta o cabelo de loiro e quer parecer sempre bronzeado ao estilo
Miami beach. O Presidente que precisou de dois dias para comentar o que se
passou em Charlottesville. “Let’s make America great again”? Mesmo? Nunca nos
poderemos esquecer que este Presidente foi eleito democraticamente. Esta América
que deu grandes lições ao mundo, foi a mesma que elegeu o presidente mais
xenófobo, homofóbico, racista e idiota que a América conheceu. Pior do que isto
é impossível. A história já nos mostrou como se dão, democraticamente, as grandes tragédias da humanidade.
Sobrevivente do Holocausto @Union Square-NY |
Aqui no nosso cantinho, o PSD de Sá Carneiro, com o
qual me identifiquei um dia, não sei onde está ou o que resta dele. O Pedro
Passos Coelho, que na sequência do acontecimento da Virgínia poderia ter, no
mínimo, algum recato lançou esta pérola: “Não podemos acolher toda a gente”. O
que é toda a gente? Por acaso, PPC já foi emigrante alguma vez? Soube o que é
ser olhado de lado por ser identificado pelo sotaque não nativo? Ou ser
descriminado pela cor da pele? Não. PPC teve a sorte de nascer branco, homem, heterossexual,
loiro, alto e na classe média. E não conseguirá, nunca, colocar-se na pele dos
outros. PPC que já soube o sabor amargo da crítica à sua trajectória pessoal
(terminou a licenciatura bastante depois dos 30 e numa universidade privada). Este
PSD foi o mesmo que elegeu para líder da sua bancada o Hugo Soares que há uns
anos mostrou que em política vale tudo. Para quem não se lembra, o Hugo Soares,
depois da votação na generalidade da lei da co-adopção
e adopção de crianças por casais homossexuais, achou que um
referendo é que era. [Não esquecer que Teresa Leal Coelho demitiu-se do cargo de vice-presidente
da bancada parlamentar do PSD nessa altura por ser a favor da co-adoção e considerar que esta
matéria não devia ser referendável]. Estes reaccionários
ultraconservadores não me representam e o que me deixa ainda mais triste é
haver (ainda) gente mais nova do que eu a pensar assim...
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