Com
Anastasia Lukovnikova, Mariano Marovatto, Matilde Campilho e Tomás Cunha
Ferreira na Feira do Livro do Porto, mais precisamente, na Biblioteca
Almeida Garrett. Uma sessão, como foi apresentado, com “palavras, imagens e um fio
de música”. Foi (bem mais) do que isso. Palavra dita, imagem, diversidade de idiomas e
sotaque, som, música, real e passagem tempo.
Para
os apresentar, Anabela Mota Ribeiro, leu o seguinte texto: “Um
grande ecrã ao fundo, instrumentos, livros e quatro amigos no palco. Uma
conversa de esquina a quatro vozes, um cordel que será desenrolado a oito mãos.
Anastasia, Matilde, Mariano e Tomás são poetas, mesmo quando não são. Falarão
da revolução e da memória, dos monumentos e do futuro, do silêncio, sem o
ferir, e das estórias das ruínas. Com eles: Chris Marker e Chantal Akerman,
Leonard Cohen e Susan Sontag, um canto tupi e as câmaras da NASA em direto do
cosmos. Copacabana Mon Amour, Meredith Monk, as cores de Pancetti sobre o Tejo,
o golo que Maradona marcou com a mão e outras impossibilidades. Maiakovski,
James Bond e John Cage. Bashō, Darwin e os habitantes de todas as ilhas. São
todos poetas, mesmo os que não são. Estão entre Ana Hatherly e Tarkovski,
porque tudo sempre está”.
A primeira imagem (não
sei bem se a primeira mas a que me lembro), na grande tela por trás dos quatro
foi a de Philippe Petit (que atravessou as torres gémeas do Word Trade Center em
1974)
a equilibrar-se num cabo, com a Harbor Bridge como cenário. Petit, o homem que
desafiou as vertigens e que disse que nada é impossível. "O fio não tem medo".
De Helio Oiticica, o parangolé, que Adriana Calcanhotto eternizou numa música como: “um rectângulo de pano de uma cor só/ E é só dançar/ E é só deixar a cor tomar conta do ar/ Verde Rosa/ Branco no branco no preto nu”. Haroldo de Campos referiu-se ao parangolé como uma “asa delta para o êxtase”.
De Helio Oiticica, o parangolé, que Adriana Calcanhotto eternizou numa música como: “um rectângulo de pano de uma cor só/ E é só dançar/ E é só deixar a cor tomar conta do ar/ Verde Rosa/ Branco no branco no preto nu”. Haroldo de Campos referiu-se ao parangolé como uma “asa delta para o êxtase”.
Uma foto de Leonard Cohen, ao fundo. O
dono daquela voz grave e sussurrada e cujo timbre nos cuidou tantas vezes. Aquele que viveu em Hydra, em Londres e no
Chelsea Hotel em NY. Aquele que cantou Marianne e Suzanne. Aquele que disse que a resposta era sempre sim. Aquele que nos
ensinou tanto sobre tanta coisa. Que escreveu para os introspectivos, para os
amantes platónicos, para os amantes de todos os graus de sofrimento, para os
que se autoflagelam, para os traídos, para os que querem chorar e para muitos
mais. E eternizou-se, para todo o sempre, enquanto houver som.
Falaram também de Bashô, o famoso poeta
japonês, (re)conhecido pelos haicai (poemas de três versos e dezassete sílabas) .
Exibiram a imagem de John Cage a apanhar
cogumelos no seu livro Silence. Sobre os cogumelos, de se saber ou não
distinguir entre os cogumelos venenosos ou não, “como a vida seria chata sem uma certa
incerteza”.
Foram exibidas imagens em tempo real do espaço, de onde estamos a ser permanentemente observados, à la Orwell.
Foram exibidas imagens em tempo real do espaço, de onde estamos a ser permanentemente observados, à la Orwell.
Leram Tarkovski em russo e em português.
Falaram de nitrogénio (em inglês é
nitrogen), que não sei se quiseram dizer em português do Brasil, mas que em
português de Portugal é azoto.
Marovatto e Tomás cantaram uma música inédita
e outra de Caetano Veloso “Enquanto seu lobo não vem” que cita a Mangueira e a
Avenida Presidente Vargas.
Li algures que a Matilde nunca foi a NY nem aos EUA.
“Quem diria por aquilo que escreve? É aqui que
ficção se confunde com o real e a imaginação para formar geografias privadas e
imaginárias? Quem sabe?
O auditório da Biblioteca Almeida Garrett
estava composto, mas não cheio nem a abarrotar, como parece ter sido tendência em
todos os eventos da Feira do Livro do Porto. No entanto, parece que o concerto
dos Mão Morta & Remix Ensemble roubou parte do público. Eles nunca saberão mas foi o que perderam. O momento que não se repete.
Copyright: Anabela Mota Ribeiro |
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