A apresentação do livro “Desumanização”, o mais recente de
valter hugo mãe, começou pela classificação de estranho. Para quem conhece os
livros de valter, este é muito diferente e é isso que causa a tal estranheza.
A principal diferença centra-se na deslocalização no espaço. O hino à portugalidade e Portugal que são sempre tão
caros a valter, desaparecem neste livro. A escrita fluída dos seus livros
também não existe neste. Os personagens são islandeses. Daí a impossibilidade de
qualquer comparação. Nada pode separar tanto um povo. Depois, a imagem visual
é quase um inédito. As palavras neste livro parecem mais escolhidas. Este livro
parece um grande poema . Quase uma oração ou evocação.
Quando o valter começou a falar referiu a intensa relação
que tem com a Centésima Página. Uma
relação pessoal, segundo ele, muito antiga que “antes de ser conhecido já as
pessoas desta livraria acreditavam em mim”. E disse também que acha que esta livraria é uma das mais
bonitas do mundo.
Valter começou por dizer sobre este novo livro que procura
escrever livros que não sejam redundantes, que não sejam um livro “parte 2”.
Procura escrever livros onde “não haja receitas”. Segundo o próprio, andava há
muito tempo a ganhar coragem para escrever um livro que não parecesse um
português a escrever sobre a Islândia, mas um islandês. Acrescentou que os
livros não vivem do relato puro e simples. A trama deste livro não é a grande
questão. O que lhe interessa é a intensidade e que os personagens sejam reais.
Cresceu a pensar que a Islândia era um país de fantasias,
crendices estranhas, mitologia e do universo fantástico. Realçou que os
islandeses foram capazes de derrubar um governo e fazer os banqueiros pagar a
crise. A Islândia tem um inverno agreste e um verão que é uma tristeza. É um
país interior, enclausurado. Tem 300000 habitantes, menos que a população do
Porto, mas é o país que tem o maior número de orquestras do mundo.Toda a gente
fala inglês fluente “com o sotaque da Bjork”. São uma comunidade absolutamente
letrada. Foi o único país do mundo que fez um referendo no Facebook. É um país
totalmente desburocratizado, com uma “anarquia prática” a “piscar o olho aos
EUA”. Os islandeses viajam para a Dinamarca, para o sul de Espanha e para NY.
Os islandeses não são nada simpáticos mas são extremamente eficientes no seu
local de trabalho. No horário de trabalho, um pedido é sempre atendido. Os
códigos de intimidade dos islandeses não são iguais aos nossos. São muito pouco
receptivos.
A morte está muito presente neste livro. Muito mais do que
em qualquer outro livro anteriormente escrito pelo valter. Quando lhe perguntam
sobre a morte: “Tudo na vida tem que ver com a morte”. Literariamente tenta que
a morte seja boa. A morte pode ser a nossa grande oportunidade”.
Sobre o amor, diz que ficou de tal maneira sufocado por este
que o próximo livro que escrever não terá amor nenhum.Será muito pragmático e
seco. (Apesar de eu achar que era a brincar). Disse que se sentia “um triste”.
Que inventa todos estes “amores assolapados” e depois vai para casa “chuchar no
dedo”.
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