Faço aqui uma declaração de interesses: Não simpatizo com o
PT, não partilho da ideologia política e não tenho particular admiração por
Lula. A mesma coisa achava de Dilma. Não achei a sua eleição (no primeiro
mandato) tudo aquilo que escreveram. Não fiquei comovida por ter sido a
primeira mulher presidente do Brasil. E não concordei com o título de
“Presidenta” em vez de “Presidente”. No entanto, depois da segunda eleição, que
ela ganhou no limite, considerei ter sido o mal menor. A sua oposição era
constituída por gente menos preparada do que ela e por gente mal relacionada
e/ou ligada a coisas menos sérias. Depois da segunda eleição comecei a admirar
a força desta mulher que tem lutado estoicamente contra tudo e contra todos.
Como as árvores, Dilma escolheu morrer politicamente de pé. Com a destituição
de Dilma ficamos a saber o que há muito desconfiamos: os políticos brasileiros
são na sua maioria corruptos, o poder é passado de geração em geração como se
de uma Monarquia se tratasse, a política serve para enriquecer, na política
vale tudo, a maioria dos deputados são analfabetos funcionais, os evangélicos
têm um dos maiores poderes no Brasil ( o domínio e o aproveitamento sobre a
ignorância de um povo), os políticos brasileiros são muito bem pagos e têm
regalias incomparáveis com o cidadão comum. Apesar de tudo isso, a corrupção e
as acusações sobre quase todos os políticos não os envergonha. Não se demitem
por nada, seja qual for o teor da acusação. São como lapas. Seguem de cabeça
erguida como se nada fosse. E como os vermes, em vez de se recatarem pelo mal
causado, lançam ameaças de não caírem sós. Analisando a vida, a biografia, o CV
e o percurso de cada político brasileiro poderemos contar pelos dedos aqueles
sobre quem nada paira. Quase não existem imunes ou intocáveis. No entanto,
apesar de todas as perseguições, de todo o escrutínio, depois de todas as
investigações, a Dilma parece um oásis no deserto. Se ela é perfeita? Não. Se
está bem rodeada? Não. Se seguiu a política que devia? Não. Mas é o mal menor,
de facto. A questão é que tudo está mal. Num país com os milhões de pessoas que
tem o Brasil, onde a educação e a saúde não é igual para todos, “quem tem um
olho é Rei”. As classes mais desfavorecidas, das periferias, dos morros, do sertão,
do interior, dos subúrbios serão sempre facilmente enganados e cativados pelos
políticos mais populistas e que nada farão por eles. Servirão, apenas, como um
degrau para a sua escada para chegarem ao topo da pirâmide. Um país em que a
elite caucasiana, será sempre instruída, continuará a viajar para o
estrangeiro, para fazer compras em Miami e NYC, continuarão a comprar
apartamentos em Lisboa nos metros quadrados mais caros, continuarão a viver em
condomínios fechados resguardados por grades electrificadas e separadas do
mundo real, continuarão a viver no séc passado em que existe o mundo para a
elite eo mundo para o subalterno, continuarão a ter contas na Suiça e a fugir
aos impostos, continuarão a viajar em primeira classe e em executiva. Mas
apesar disso continuarão a não ser evoluídos nem educados: o carro continuará a
ser o que mais poluí, continuarão a atirar lixo para o chão para alguém de uma
classe inferior apanhar, continuarão a perpetuar o desperdício, os seus cães
continuarão a sujar as cidades para alguém as limpar, continuarão a ter
cozinheira, faxineira, diarista e motorista, continuarão a passear pelas
cidades com as babysitters atrás vestidas de branco. Enquanto a elite não se
envergonhar destes comportamentos e perceber que o mundo mudou e que estamos no
séc XXI, nada mudará. Enquanto a elite não perceber que comportamentos assim
envergonham uma sociedade, serão sempre a piada do exterior. Enquanto a elite
não perceber que os caucasianos não são o povo eleito e que toda a gente tem
possibilidade de ascender socialmente, não há como esperar melhoras. O Brasil
só mudará quando a elite não se sentir ameaçada. O Brasil só mudará quando os
privilégios acabarem para quem teve a sorte de nascer caucasiano. O Brasil
precisa ter orgulho de ser negro. E apostar na educação. Demora gerações, mas a
mudança será visível. Enquanto a menor percentagem da sociedade continuar a
comandar os seus destinos e tiver este tipo de poder, o Brasil continuará
condenado.
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