quarta-feira, 11 de maio de 2016

Dilma

Faço aqui uma declaração de interesses: Não simpatizo com o PT, não partilho da ideologia política e não tenho particular admiração por Lula. A mesma coisa achava de Dilma. Não achei a sua eleição (no primeiro mandato) tudo aquilo que escreveram. Não fiquei comovida por ter sido a primeira mulher presidente do Brasil. E não concordei com o título de “Presidenta” em vez de “Presidente”. No entanto, depois da segunda eleição, que ela ganhou no limite, considerei ter sido o mal menor. A sua oposição era constituída por gente menos preparada do que ela e por gente mal relacionada e/ou ligada a coisas menos sérias. Depois da segunda eleição comecei a admirar a força desta mulher que tem lutado estoicamente contra tudo e contra todos. Como as árvores, Dilma escolheu morrer politicamente de pé. Com a destituição de Dilma ficamos a saber o que há muito desconfiamos: os políticos brasileiros são na sua maioria corruptos, o poder é passado de geração em geração como se de uma Monarquia se tratasse, a política serve para enriquecer, na política vale tudo, a maioria dos deputados são analfabetos funcionais, os evangélicos têm um dos maiores poderes no Brasil ( o domínio e o aproveitamento sobre a ignorância de um povo), os políticos brasileiros são muito bem pagos e têm regalias incomparáveis com o cidadão comum. Apesar de tudo isso, a corrupção e as acusações sobre quase todos os políticos não os envergonha. Não se demitem por nada, seja qual for o teor da acusação. São como lapas. Seguem de cabeça erguida como se nada fosse. E como os vermes, em vez de se recatarem pelo mal causado, lançam ameaças de não caírem sós. Analisando a vida, a biografia, o CV e o percurso de cada político brasileiro poderemos contar pelos dedos aqueles sobre quem nada paira. Quase não existem imunes ou intocáveis. No entanto, apesar de todas as perseguições, de todo o escrutínio, depois de todas as investigações, a Dilma parece um oásis no deserto. Se ela é perfeita? Não. Se está bem rodeada? Não. Se seguiu a política que devia? Não. Mas é o mal menor, de facto. A questão é que tudo está mal. Num país com os milhões de pessoas que tem o Brasil, onde a educação e a saúde não é igual para todos, “quem tem um olho é Rei”. As classes mais desfavorecidas, das periferias, dos morros, do sertão, do interior, dos subúrbios serão sempre facilmente enganados e cativados pelos políticos mais populistas e que nada farão por eles. Servirão, apenas, como um degrau para a sua escada para chegarem ao topo da pirâmide. Um país em que a elite caucasiana, será sempre instruída, continuará a viajar para o estrangeiro, para fazer compras em Miami e NYC, continuarão a comprar apartamentos em Lisboa nos metros quadrados mais caros, continuarão a viver em condomínios fechados resguardados por grades electrificadas e separadas do mundo real, continuarão a viver no séc passado em que existe o mundo para a elite eo mundo para o subalterno, continuarão a ter contas na Suiça e a fugir aos impostos, continuarão a viajar em primeira classe e em executiva. Mas apesar disso continuarão a não ser evoluídos nem educados: o carro continuará a ser o que mais poluí, continuarão a atirar lixo para o chão para alguém de uma classe inferior apanhar, continuarão a perpetuar o desperdício, os seus cães continuarão a sujar as cidades para alguém as limpar, continuarão a ter cozinheira, faxineira, diarista e motorista, continuarão a passear pelas cidades com as babysitters atrás vestidas de branco. Enquanto a elite não se envergonhar destes comportamentos e perceber que o mundo mudou e que estamos no séc XXI, nada mudará. Enquanto a elite não perceber que comportamentos assim envergonham uma sociedade, serão sempre a piada do exterior. Enquanto a elite não perceber que os caucasianos não são o povo eleito e que toda a gente tem possibilidade de ascender socialmente, não há como esperar melhoras. O Brasil só mudará quando a elite não se sentir ameaçada. O Brasil só mudará quando os privilégios acabarem para quem teve a sorte de nascer caucasiano. O Brasil precisa ter orgulho de ser negro. E apostar na educação. Demora gerações, mas a mudança será visível. Enquanto a menor percentagem da sociedade continuar a comandar os seus destinos e tiver este tipo de poder, o Brasil continuará condenado. 

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