O espectáculo é baseado na
obra "Be Mine", da britânica Angela Clerkin, e explora a
relação entre mãe e filha. Jackie (Regina Duarte), e a sua filha Elaine
(Mariana Loureiro) que é advogada, vivem num pequeníssimo apartamento em
Londres. É este o cenário da peça: o escuro e as várias divisões do
apartamento. A relação delas é conturbada e oscila entre o extremo afecto e o
insulto. Percebemos que Jackie teve a filha com 12 anos. Jackie é uma personagem
complicada e fascinante. Deve ter sofrido muita para ser assim. Uma mãe
manipuladora, profundamente amorosa, quase sufocante de tão apaixonada que é
pela filha. Tão carente e tão incapaz de olhar para si mesma e incapaz de viver
sozinha sem a “muleta” da filha. Uma egocêntrica nata. É daquelas
pessoas que acha que a solidão é a morte e abomina-a. Gosta de ser mimada e de
ser o centro das atenções, e consequentemente, usa todos os recursos possíveis
para prender a filha junto de si "até que a morte nos separe.” O
exagero da Jackie em relação à filha e é que gera o humor. É mesmo muito
exagerada. Veste-se sem noção da idade, sai para “tomar todas”, totalmente
descontrolada. Chega a ter graça de tão exagerada que é.
Um dia surge um estranho que pode “roubar” a
filha. Com a chegada de Joseph (Kiko Bertholini), o misterioso namorado de
Elaine, que se prepara para viver no mesmo apartamento provisoriamente, a
atmosfera de suspense entra em erupção, levando a um conflito de desejos
incontroláveis cujas consequências são imprevisíveis. Joseph, acusado da
morte bárbara da namorada, foi defendido
em tribunal por Elaine. E ela conseguiu provar a sua inocência e conseguiu a
sua absolvição. Ela acredita, de facto, na sua inocência. Elaine é uma
filha carente e insegura e
faz o papel da boazinha, de submissa e de certinha.
Humor, suspense e tensão, pautadas por uma
banda sonora exemplar. Momentos de um suspense intenso e absorvente misturam-se
com um humor muito perspicaz e inteligente. O publico oscila entre o riso e a
gargalhada, o susto, a sugestão, o medo e a hipótese. O final é surpreendente,
e tal como Regina pediu no final: “não contem pra ninguém”. Regina Duarte já
conquistou o papel de diva. É esta a palavra que me ocorre usar. Uma
interpretação magistral regadas pelas suas gargalhadas, gritos e voz
inconfundíveis. A interpretação é acompanhada pelos enormes talentos dos outros
dois actores.
A peça fala do ser humano. De sentimentos,
emoções, desejos, frustrações e descontroles de seres humanos. Uma peça do tamanho
do talento de Regina Duarte. Uma peça onde ela brilha e faz brilhar os dois
outros actores. Regina Duarte mostra que está em plena forma aos quase 70 anos.
Sem comentários:
Enviar um comentário