domingo, 12 de junho de 2016

O elogio a uma vida boa e longa

Hoje vamos exaltar apenas as virtudes e a qualidades de um homem de família. Marido. Pai. Irmão. Amigo. Um homem austero. Sério. Duro. Forte. Conservador. Tradicional. De bom gosto. Antecipava cenários e crises. Por vezes, exagerado. Trabalhador. Crente. Defensor das mulheres. Sempre defendeu a sua emancipação e a sua independência, sobretudo profissional. Conversador nato. Recto.

Teve uma vida boa. E quando a doença apareceu não houve muito que a Medicina pudesse fazer para o curar. Aceitou a doença e foi um bom doente. A voz, que era a sua característica e identidade, modificou-se, mas não se perdeu.

A última vez que o vi, tinha já sido diagnosticado. Uma semana antes da Páscoa. Se eu não soubesse não acreditaria. Estava igual ao que sempre foi. Crítico da política. Elogiou grandes homens. Criticou maus exemplos. Propunha soluções. Acompanhado, como sempre, pelo seu vinho branco que tanto orgulho tinha. Como sempre à volta da mesa e do famoso lanche. O que eu vi naquele dia foi um homem (ainda) cheio de energia e optimismo que me mostrou como se via mensagens no telemóvel e um cartão pré-pago especial para falar quando quisesse com a minha madrinha na Austrália. Nesse dia, levei duas garrafas de jeropiga, que lhe disseram que eu gostava. De facto, a melhor jeropiga do mundo. 

Como no salmo, o Senhor foi sempre o seu Pastor e por isso nada lhe faltou. Nos últimos dias, quando as forças lhe começaram a faltar, nos limites da condição humana, viveu uma vida de qualidade, apesar de difícil. As noites eram longas e silenciosas. Sempre contou com a melhor das ciências dos homens e com a Graça de Deus para não ter medo. Aceitou e soube viver com isso. Não se revoltou nem desistiu.

Nunca é fácil perdermos uma pessoa que gostámos. E sobretudo, achamos (sempre) que foi cedo demais e que tinha (ainda) tanto para dar. Mas a parte boa é que teve 79 anos de vida saudável e sem limitações.Teve o fim da vida ideal e que todos desejam. Rodeado e assistido pela família, que tudo fizeram. Nunca esteve só. Suportado pelo amor. Em casa. Em paz. Preparou tudo. Esteve lúcido, quase até ao fim. 

Em especial, para a família, sintam-se orgulhosos deste homem e do que por ele fizeram. A forma como o acompanharam e se apoiaram na doença é um exemplo. Sintam-se abraçados e confortados pelo vosso exemplo. Bem-hajam.

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