Lisboa,
20 de maio de 2017
Passa das 5 da tarde. Calor de verão. Surdo, como
dizia a minha avó. Esplanada em frente ao Tejo. Esse rio que parece mar. Esse
Tejo que parece ter a dimensão do oceano. Cheira a maresia (embora, me
garantam, que cheira a rio). Almoço tardio. Habituei-me a observar o rio com a
ponte à direita. Desta vez, a ponte está ao longe, à esquerda. No meio da vista, o Padrão dos Descobrimento, de perfil. Na mesa ao lado, um casal de franceses.
Atrás italianos. Quem nos atende, brasileiros. O passeio junto ao rio parece o
calçadão do Rio de Janeiro, tal o congestionamento de pessoas. Uma amálgama de
cores, géneros, nacionalidades, línguas. Estudantes finalistas trajados que
tiram fotos. A família dos subúrbios que se veste no seu melhor traje para vir
à cidade. Turistas de chinelos. Turistas de sandálias e meias.Turistas muito brancos que estão queimados pela
falta de hábito de fotossíntese. Casais de mão dada. Casais que tiram fotos a
beijarem-se. Muita gente de chapéu. E de calções. Pais sozinhos a passear os
filhos. Homens giros e bem vestidos. Um marido que passeia com a mulher que tem
o lado direito paralisado. A mulher que sai da esplanada a ajudar o marido com
mobilidade reduzida. Mulheres que tapam a cabeça com um lenço (provavelmente
por causa da quimioterapia). Turistas bêbedos. Turistas muito ressacados. Mas o
turista preferido é: " trajado a rigor, e pronto
para enfrentar os 30º da selva lisboeta, o turista-attenborough, ostenta um
chapéu de abas, calças e botas de caminhada e uma camisa que lhe cobre todo o
torso superior deixando apenas expostos os ruborizados rosto e pescoço. Quando visto sem camelback ou
mochila, é dado a algum cambalear e passível de desfalecimento”.
A bebida mais comum
nas mesas é vinho branco gelado. Não dá vontade nem tempo para ler. O livro
fica pousado na mesa à espera de horas melhores. Ou de cenários menos
apelativos. Este filme em movimento é imperdível. O instante irrepetível que
passa.
Mas esta vista tem um preço. Um café, por exemplo, custa 2 euros e a garrafa de vinho mais barata tem o preço de um qualquer Chardonnay (rasca) em NY?
Mas esta vista tem um preço. Um café, por exemplo, custa 2 euros e a garrafa de vinho mais barata tem o preço de um qualquer Chardonnay (rasca) em NY?
A Madonna esteve a
visitar o Liceu Francês. Foi o acontecimento para os alunos. Os vídeos abundam
e partilham-se nas redes sociais. A qualquer lado que se vá, fala-se dela. Alguém a viu, ou
conhece alguém que viu, ou diz que viu, ou mente e jura que viu.
Como perguntava a Anabela Mota Ribeiro há dias a duas convidadas do programa: "o que é a felicidade?". Uma
delas respondeu, citando Guimarães Rosa, que é (in)felicidade sem prefixo. A importância do prefixo é (quase) tudo nas palavras.A outra, que é a libertação química de serotonina.
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