terça-feira, 31 de julho de 2018

O amor no meio da multidão

No final do concerto, a sair do Parco della Musica vejo-as mesmo à minha frente. São da mesma altura. De costas são parecidas. Altas, magras, muito bronzeadas, cabelos curtos. Os braços das duas cruzam-se no fundo das costas. Caminham elegantemente mas em passo apressado. Uma tem cabelo curto, calças largas de linho, uma t-shirt sem mangas colada ao corpo e umas havaianas. A outra tem cabelo rapado à Sinead O’Connor, um vestido preto comprido e é a mais nova das duas. Dez anos devem separá-las. Uma deve passar dos 50 e a outro deve estar a chegar aos 40. Devem estar no início da relação. O entusiasmo do começo. O desejo dos principiantes. A sede da descoberta. Têm a cara e o sorriso de quem começa de novo. Sente-se a admiração mútua. Vê-se ali inteligência. Arrisco-me a adivinhar o que as aproxima e o que lhes interessa. A mais velha não exibe a mais nova como um troféu que acaba de ganhar. Nem displicência. A mais nova não venera a mais velha nem a idolatra. Tratam-se de forma igual. Riem e inclinam levemente a cabeça para trás e desfazem o abraço. Dão as mãos. Continuam no ritmo apressado. São italianas, ouço-as. Abrandam o passo e beijam-se. Retomam o passo apressado e perco-as no meio da multidão.

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