Há mais de um mês que tinha comprado os bilhetes. Na altura
já ouvira falar que escolhiam uma pessoa da plateia para interagir com os
actores. Com o pânico de poder ser a escolhida (já que achava que seriam os
actores a escolher), os lugares que comprei não tinham acesso directo nem ao
palco nem à plateia. Como seria de esperar, pelo sucesso da Porta dos Fundos,
os bilhetes esgotaram rapidamente.
No dia antes do espectáculo vi uma entrevista com o Gregorio
Duvivier na Sic Notícias e percebi, que ao contrário do que pensava, a pessoa
do público não seria escolhida pelos actores mas seria voluntária.
Como (quase) sempre, não sabia para o que ia. Nem sabia o que
me esperava. Pois bem, Portátil é um espectáculo de improvisação com os actores
Gregório Duvivier, João Vicente de Castro, Luís Lobianco e Gustavo Miranda e
que conta com a ajuda de um pianista. O cenário é simplesmente um tapete
branco, uma tela gigante e quatro cadeiras e os actores estão magnificamente
vestidos de Gilda Midani. Nos primeiros minutos os actores dizem o que estão a
fazer e apresentam-se, arrancando do público muitas gargalhadas:
- Quando era pequeno eu queria ser grande (Gregorio Duvivier)
- Quando eu era criança eu não queria estar na plateia,
queria estar no palco (Luís Lobianco).
A partir daí, começam a fazer perguntas à plateia: “quem é
português?”, “quem nasceu em Braga?”, “quem tem filhos?, “quem não tem filhos
mas gostaria de ter?”... Depois pedem voluntários.
No Theatro Circo,
foi escolhida uma senhora de meia idade a quem foi feita uma breve entrevista
na qual falou sobre como os seus pais se conheceram, onde vivia, família, trabalho
e o seu maior sonho. Este é o ponto de partida para a peça de improvisação que os
actores farão ao longo de 60 minutos. Basicamente, a peça será a história daquela
pessoa, resumindo a sua vida. A pessoa escolhida em Braga era chamava-se Luísa
brasileira, os pais conheceram-se na Ponta do Caju no Rio de Janeiro, o pai era
motorista de ministério e a mãe tecelã, o pai era “brabo” feito “siri na lata”,
adorava brincar no milharal, em criança tinha um amigo imaginário, era
apaixonada pelos personagens de Monteiro Lobato, era aposentada mas trabalhou
como funcionária pública, o maior defeito era dormir muito e acordar tarde e a
maior virtude era o senso de localização (como um pombo), era turista em Braga
e estava acompanhada pelo genro, o seu maior sonho era voar.
Eu estou a
escrever este texto e estou a rir à gargalhada. Eu não me lembro da última vez
que me ri tanto como nesta peça. A minha opinião: quem tiver oportunidade, assista. O
dinheiro mais bem dado dos últimos tempos.
Sobre o Theatro Circo, Gregorio Duvivier disse ser o “teatro
mais bonito do planeta”.
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