quarta-feira, 9 de março de 2016

Marcelo Rebelo de Sousa

Faz 21 anos para o Outono que Cavaco Silva deixou de ser Primeiro-Ministro (PM). Eu tinha 16 anos e lembro-me como se fosse hoje desse acontecimento. Nesse Outono, exactamente em plena campanha legislativa, eu filiei-me numa Jota. Nessa altura não percebia nada de política. Filiei-me porque alguns dos meus melhores amigos me convenceram. E eu, fácil como sou, não resisti. Não estou com isto a dizer que me arrependo. Quase nunca me arrependi na vida. Embora a palavra “nunca” faça poucas vezes parte do meu vocabulário. Continuando, foram as legislativas Fernando Nogueira vs António Guterres. A vitória foi De António Guterres. O tempo, que nos ensina tudo e que é sempre sábio mostrou-nos muita coisa. O inadequado, desajeitado, pouco empático Fernando Nogueira veio a mostrar que o PSD fizera uma má escolha a escolhe-lo para substituir Cavaco Silva que governara com uma minoria e duas maiorias absolutas. António Guterres chefiou dois governos minoritários, durante os quais, teve como sua principal paixão, a educação. Deu muito aos professores. Naquela altura, apesar de o popular e bom orador, achei-o sempre um PM com pouca autoridade e até um pouco frouxo (anos depois, o tempo ensinou-me que tudo muda). Quando Cavaco Silva se candidatou pela primeira vez a Presidente da República participei na campanha. Participei fervorosamente, debaixo de chuva, insultos e afins. Já nessa altura lhe vislumbrei um ar distante, pouco afável, nada empático, carrancudo, até. Mas nem isso me fez mudar. Estava ali inteira, e sou como as árvores: morrem de pé. Nunca abandono.

Conheci o Marcelo Rebelo de Sousa numa noite fria de Inverno na Universidade do Minho, não me lembro em que iniciativa. Lembro-me que ele era líder do PSD e que pouco tempo depois se demitiria por causa de Paulo Portas. Era o mesmo de hoje, simpático, sorridente, bem-disposto, excelente orador, comunicativo, popular. Vi-o anos mais tarde numa conferência no meu antigo colégio. A minha opinião sobre ele manteve-se.

Anos mais tarde, votaria na primeira maioria de Cavaco Silva para Presidente da República. Como hoje escrevia o Herman, Cavaco Silva teve duas maiorias absolutas e foi eleito para PR duas vezes. E eu não renego que votei nele no primeiro mandato. No segundo, apesar de já discordar muito, as alternativas eram piores. Mas não votei porque estava em NY. As críticas e ficarão para outro texto. Apenas digo que um político que admirei, e que li as duas biografias, me desiludiu profundamente. Foi com Cavaco Silva que comecei a achar que (afinal) os políticos são todos iguais.

Não vou sequer referir José Sócrates, pois faço parte das pessoas que discordam em absoluto dele, a quem ele nunca enganou nem iludiu. Ele revelou-se o que sempre foi para mim:  e que o maior mentiroso de todos os tempo. A montanha que pariu um rato. O tempo mostrará que a sua vida assentava em muitos telhados de vidro. Mas isso não me cabe a mim, mas à justiça.

Também não vou falar de Passos Coelho porque hoje não é dia de críticas mas de celebração e isso ficará para outro texto.

Marcelo Rebelo de Sousa não precisa de elogios nem de descrições. Um brilhante aluno e professor de Direito. Muitas pessoas que conheço e amigos de família foram alunos dele. O que mais admirava nele nos últimos anos era a divulgação dos livros e os elogios aos prémios e feitos dos portugueses. De resto, como a maioria que o elegeu, acho que é a pessoa mais preparada para ser PR. Deixando de lado o político e o professor, o que mais admiro nele são os afectos. Tem como defeito (para mim) ser demasiado conservador. De aplaudir a forma como não renega as origens e as mantém. Colocou Celorico de Basto no mapa e doou a sua biblioteca pessoal à biblioteca da terra, tal como Adriano Moreira fez com Bragança. O homem publicamente afectuoso, que não esconde a relação próxima que tem com os filhos e netos e por quem o rodeia. Um homem que não tem vergonha do que sente nem de o demonstrar. Um chefe de Estado humano, como qualquer um de nós. Terrestre, físico, próximo. Um homem culto que sabe citar políticos poetas e escritores. Finalmente, acho que Portugal tem o PM que merece. O que mais podemos querer?

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