Ao contrário do que acontece muitas vezes, vi primeiro o filme, e só depois li o livro. Depois de ter lido o livro acho que o filme está muito parecido. Nesse ano, a Nicole Kidman ganhou o Oscar de melhor actriz no papel de Virgínia Woolf. Não é que discorde, mas as interpretações da Meryl Streep, e principalmente, da Julianne Moore são uma lição de interpretação. É fácil gostar-se da personagem da Meryl Streep (Clarice) que sempre fez tudo direitinho na vida, que nunca ousou, que nunca pisou o risco. E é fácil odiar-se a personagem da Julianne Moore (Laura Brown). Não sei se pela interpretação da personagem já velhinha a tentar explicar o inexplicável, não consigo condenar o que ela fez: “Laura Brown, a mulher que tentou morrer e falhou, a mulher
que fugiu da família, está viva quando os outros, todos os que lutaram para
sobreviver na sua esteira, morreram. Ela está viva agora, depois de um cancro
do fígado ter levado o seu ex-marido, depois de a sua filha ter sido morta por
um condutor bêbado. Está viva depois de Richard ter saltado da janela para um
leito de vidro partido”.
sexta-feira, 29 de junho de 2012
192 Books
Tempo é mesmo o que me falta. Mesmo dormindo
poucas horas não consigo fazer tudo o que quero. NY lá fora e eu enfiada no
lab. Pelo menos as coisas começaram a correr melhor. Consegui uns minutos para
me sentar a uma sexta à noite e quero escrever sobre a apresentação do livro do Daniel Mendelsohn onde se falou da compilação dos poemas do
grego C.P. Cavafy na 192 Books em Chelsea.
O que me levou a esta
apresentação não foi o autor do livro, nem o poeta sobre o qual escreveu, não
conhecia nenhum dos dois. Fui porque na apresentação estaria também o Michael
Cunningham. Sou mesmo admiradora dele. Primeiro dos livros, e mais tarde, da
leitura teatral e enfática dele. Quando cheguei à 192 Books, atrasada como
sempre, quase nem tinha espaço para estar espremida no meio de tanta gente. É
este tipo de coisas que admiro em NY. As apresentações de livros, as livrarias
independentes, as leituras, as palestras, qualquer coisa que tenha livros, está
sempre lotada. Nesta apresentação em particular falou-se de C.P. Cavafy
e as três pessoas que apresentaram o livro: Jonathan Galassi, Michael Cunningham
e Daniel Mendelsohn (autor) leram cada um 5 poemas escolhidos por eles.
Comprei o livro, que para além de pesadíssimo, foi bastante mais caro do que se
comprasse na Amazon... Aqui ficam uns recuerdos:
Da esquerda para a direira (bem lá no fundo): Jonathan Galassi, Daniel Mendelsohn e Michael Cunningham (Copyright: 192 Books) |
quarta-feira, 27 de junho de 2012
A importância dos resultados
Estive “desaparecida” alguns dias, mergulhada em
preocupações de trabalho e em procurar respostas
para uma experiência não estar a resultar. Depois de vários dias e várias
noites, em que dormi poucas horas, e que o meu foco foi (quase só
este), tinha decidido que hoje era o dia da decisão final. Hoje ou seria o
começo da luta contra o tempo ou seria o dia que desistia do trabalho e
aproveitaria (apenas) a cidade e iria para Miami. Por volta das 6 a C. perguntou-me se queria ir
jantar. Eu disse logo que sim, fosse para comemorar ou para chorar. Passava
pouco das 7 quando a resposta para o meu imbróglio apareceu! Dias assim são
raros em ciência. E é sempre uma catarse de emoções, em que entendo as razões
de alguns sacrifícios valerem a pena. Cheguei 10 minutos atrasada ao encontro
com a C. em frente ao hospital. E gritei-lhe de longe (com a folha de
resultados na mão) que tinha sido por uma boa causa.
domingo, 24 de junho de 2012
Pride em NY
Enquanto escrevo estou sentada num café pequenino em West
Wilage chamado 11th street Cafe. Queria ter encontrado um café que descobri com
o L. no ano passado no dia do pride. Mas como sempre, quando não tomo noto, a
minha memória (extremamente) selectiva aka “de peixe” descarta tudo.
Hoje no dia do Pride, tudo lá fora é multidão. Multidão de pessoas, de lixo, de cores. Este ano celebra-se o primeiro Pride depois da legalização do casamento em NY. Como a maioria das pessoas que me conhece sabe, não sou grande adepta de multidões, nem de manifestações, sejam elas referentes ao que for. Provavelmente, este é um traço da minha personalidade. Acho o significado de todas as manifestações importantes, eu é que não participo nelas. Mas estar em NY e não assistir ao Pride é daquelas coisas, que quem tiver oportunidade, não deve perder a experiência. Tanta gente, tão diferente, diferentes tribos e credos. Mas há uma parte muito exibicionista e folclórica. Homens quase nus, travestidos, demasiado maquilhados, drag queens, algumas mulheres a mostrar as mamas, mas a indumentária dominante parece ser a moda dos minúsculos calções, quer se tenha corpo ou não. Faz parte do show, como diz a música. Invejo, muito honestamente, a auto-estima destas pessoas.
Este ano vim ao Pride, lamento, não para ver a marcha mas para encontrar as massagens de 10 mins a 10 dólares de asiáticos no Pride Street Fair que acontece na Hudson Street desde a W 14 até (quase) à 11. Já estava desanimada quando, finalmente, encontrei a barraca das massagens. Estava mesmo a precisar. O senhor (que não falava inglês) mas que no fim soube dizer “dear, tip!”, insistiu no meu ombro esquerdo e aquilo doeu mesmo e depois demorou-se no trapézio...será este o nome?....No final dos 10 minutos não sei se saí de lá melhor ou pior.... sei q saí a ver mal do olho esquerdo por estar com a cara enfiada naquelas cadeiras... No percurso ainda me colaram um autocolante “Obama Pride”!
Ontem fui jantar a um restaurante português, Pão, que (quase) todos os portugueses que moram em NY conhecem. Portugueses mesmo, só este, o Alfama e o de inspiração portuguesa, nouvelle cuisine, com uma estrela Michelin, o Aldea. Fiquei na esplanada. Estava uma noite quente, abafada, como a maioria das noites de verão de NY, quase não corria brisa, mas talvez por estar perto do rio, torna-se uma das zonas mais suportáveis de se estar.
Hoje no dia do Pride, tudo lá fora é multidão. Multidão de pessoas, de lixo, de cores. Este ano celebra-se o primeiro Pride depois da legalização do casamento em NY. Como a maioria das pessoas que me conhece sabe, não sou grande adepta de multidões, nem de manifestações, sejam elas referentes ao que for. Provavelmente, este é um traço da minha personalidade. Acho o significado de todas as manifestações importantes, eu é que não participo nelas. Mas estar em NY e não assistir ao Pride é daquelas coisas, que quem tiver oportunidade, não deve perder a experiência. Tanta gente, tão diferente, diferentes tribos e credos. Mas há uma parte muito exibicionista e folclórica. Homens quase nus, travestidos, demasiado maquilhados, drag queens, algumas mulheres a mostrar as mamas, mas a indumentária dominante parece ser a moda dos minúsculos calções, quer se tenha corpo ou não. Faz parte do show, como diz a música. Invejo, muito honestamente, a auto-estima destas pessoas.
Este ano vim ao Pride, lamento, não para ver a marcha mas para encontrar as massagens de 10 mins a 10 dólares de asiáticos no Pride Street Fair que acontece na Hudson Street desde a W 14 até (quase) à 11. Já estava desanimada quando, finalmente, encontrei a barraca das massagens. Estava mesmo a precisar. O senhor (que não falava inglês) mas que no fim soube dizer “dear, tip!”, insistiu no meu ombro esquerdo e aquilo doeu mesmo e depois demorou-se no trapézio...será este o nome?....No final dos 10 minutos não sei se saí de lá melhor ou pior.... sei q saí a ver mal do olho esquerdo por estar com a cara enfiada naquelas cadeiras... No percurso ainda me colaram um autocolante “Obama Pride”!
Ontem fui jantar a um restaurante português, Pão, que (quase) todos os portugueses que moram em NY conhecem. Portugueses mesmo, só este, o Alfama e o de inspiração portuguesa, nouvelle cuisine, com uma estrela Michelin, o Aldea. Fiquei na esplanada. Estava uma noite quente, abafada, como a maioria das noites de verão de NY, quase não corria brisa, mas talvez por estar perto do rio, torna-se uma das zonas mais suportáveis de se estar.
Comi um caldo verde, pastéis de bacalhau e ameijoas à Bulhão
Pato, acompanhado por um branco Quinta de Cabriz. Para sentir-me ainda (bem) mais
culpada comi uma mousse de chocolate. Para desgastar, e porque estava mesmo
cheia, resolvi andar, que é uma coisa que aprendi a gostar em NY. Sempre ruas
diferentes, percursos alternativos, nunca nada é igual. Da Spring Street segui até à 34 (Penn
Station). O melhor destes percursos são sempre as pessoas. E ontem,
particularmente por ser sábado, como deve acontecer em todas as cidades do
mundo, os subúrbios “visitam” a cidade. Por muitos lugares que frequente, ao
sábado à noite, parece que há uma hegemonia na vestimenta. Aqueles vestidos
colados ao corpo que deixam (quase) tudo à vista. Podia até ter um toque de
classe, mas não, este traje não favorece a maioria das pessoas, digo eu. Mesmo
as mulheres com o corpo melhor do mundo ficam com um aspecto vulgar. E então, ontem no meu percurso era vê-las a
passar por mim todas iguais, só as cores mudavam, e os tamanhos. A maioria, não
sei bem qual a razão usa números que lhes deixaram há muito de servir. E a
maioria também, tenta equilibrar-se, o melhor que pode (e sabe), nos seus
saltos altos. Nunca vi tanta gente a não saber andar de saltos altos! É quase
um esterótipo.
sábado, 23 de junho de 2012
Fim de semana passado
O melhor de NYC é que raramente se repete alguma coisa.
Descobrimos sempre coisas novas e lugares aos quais talvez não voltaremos.
Desta vez tive a visita da S. Que chegou duas horas atrasada por causa da
trovoada em Miami. Acabamos por ir jantar ao Metro Diner que foi talvez onde mais
jantei no ano passado. Não sei que branca me deu mas quando fomos para pagar,
quando o gerente dá o troco, eu pego em
todas as notas e moedas e saio. Mal saio do restaurante a S. pergunta-me da
gorjeta e aí voltei à realidade. Não sei o que me deu mas por momentos pensei
estar em Portugal e esqueci-me completamente da obrigatória gorjeta. A maioria
dos turistas, principalmente europeus, discorda. Muitos deles escapam-se de dar
a “aconselhada” gorjeta de 15-20% e é por isso que muitos dos restaurantes
quando desconfiam que são turistas incluem na conta a gorjeta. Se me
perguntarem se concordo, discordo completamente. Mas é um sistema enraizado. A
maioria das pessoas que trabalha nos restaurantes ou não tem ordenado ou recebe
pouquíssimo e o seu salário baseia-se na “aconselhada” gorjeta. Agora
imaginem-me a não dar gorjeta e pensar que a pessoa que me serviu fica sem
salário. É que aqui não tem nada a ver com Portugal, a gorjeta não é um
complemento ao ordenado, é mesmo o ordenado.
No dia seguinte fomos ao Boathouse no Central Park a
conselho de um conhecido da S. Antes disso passamos por Strawberry Fields que
eu não conhecia e pela Bethesda Fontain. O Boathouse tem uma vista espectacular
para o lago com barcos no Central Park. É um lago do Bom Jesus gigante, como
disse a S. Esperamos uma hora por uma mesa. O brunch não foi dos melhores mas o
lugar e a vista valem a visita e o preço. Percorremos o Central Park até
Columbus Circle e fomos de Metro até Chelsea onde entramos no High Line até ao
MeatPacking District. Continuamos a descer pelas ruas de West Village e paramos
para um copo no White Horse Tavern onde Dylan Thomas bebeu até morrer. O
objectivo era “ver o ambiente” no Top of the Standard Hotel (o antigo Boom Boom
Room) famoso pela melhor vista de de NY, tudo em vidro, inclusive as casas de
banho. Mas como não atinei com o hotel, decidimos ficar na esplanada do White
Horse Tavern. E grande escolha, segundo a S., que acabou por ver a Julianne
Moore e a filha. Pequenina, magrinha e tão bonita ao vivo como na tv, de preto
e com uns óculos Ray-Ban iguais aos meus! Continuamos a descer em direcção à
Freedom Tower, passamos por Chinatown e por Tribeca e paramos numa trattoria
italiana para um aperitivo. Acabamos a comer uma salada e mais copos de vinho.
O objectivo era ver o pôr-do-sol em Battery Park. Ainda chegamos a tempo e
tivemos a ideia de atravessar o Ferry até Staten Island porque a S. Nunca tinha
andado e eu nunca o tinha feito ao fim da tarde/noite. Vale a pena! Depois,
continuamos à beira rio até ao Pier 17 e seguimos para Chinatown onde levamos a
S. ao mítico Joe’s Shanghai para provar os soup dumplings. A S. não ficou fã.
Eu, por mais que lá vá, gosto cada vez mais... Seguimos para Little Italy para
a sobremesa na Little Ferrara. Depois do dia inteiro a andar ainda faltava mais
uma coisa: Stone Rose Lounge, aconselhado por um expert de Miami. O sítio só
podia valer a pena. Lá regressamos a Columbus Circle e estavamos vestidas com a
roupa que andamos todo o dia, e eu especificamente de ténis All Star. A S.
deu-me a táctica infalível de colocar os óculos de ler. Ahahhaha. Entramos sem
problema. Tinha uma vista espantosa sobre Columbus Circle e Central Park. Tinha
um DJ com música boa, pessoas bonitas mas que não vêm à cidade só ao fim de
semana, o dress code não era o típico “quanto mais mostrar melhor” nem os
tacões (que a maioria não sabe equilibrar-se com classe neles). Os cocktails
eram bons e fortes, pelo menos os que experimentamos. Ao entrar no táxi de
regresso a casa reparamos que duas miúdas com o habitual dress code de fim de
semana não conseguiram entrar... A táctica dos óculos funcionou!
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sexta-feira, 22 de junho de 2012
THREE LIVES & COMPANY
THREE LIVES is an anachronism.
It is the shop around the corner.
A touchstone in a neighborhood.
A place with a human face and a cast of characters.
84 Charing Cross Road colored by the time and place.
A haven for people who read.
"One of the greatest bookstores on the face of the Earth. Every single person who works there is incredibly knowledgeable and well read and full of soul. You can walk in and ask anybody, really, what they've read lately and they'll tell you something - very likely something you've never heard of. [But] it's always going to be something interesting and fabulous. I go there when I'm feeling depressed and discouraged, and I always feel rejuvenated".- Michael Cunningham.
terça-feira, 19 de junho de 2012
segunda-feira, 18 de junho de 2012
Sidi Hustvedt e Paul Auster
Como tantos outros
escritores, que tive a sorte de ver em NY, Paul Auster era um dos que estava na
lista. Há algum tempo tinha comprado bilhete para ver uma conversa com ele num
dos eventos da Pen. Infelizmente, a presença dele foi cancelada e não foi dessa
vez que o vi. Soube há uns tempos que le iria apresentar o livro de Sidi
Hustvedt na Strand. Não sabia quem era Sidi Hustvedt, nem tão pouco se era homem ou mulher. E por falta
de tempo, nem isso fui pesquisar... Mas achava que era um homem. Quando cheguei
à Strand, atrasada, como sempre por ser muito cedo para mim, já a Sidi estava a
ler partes do livro. Percebi que era uma mulher. E mesmo sem saber nada sobre
ela e sobre os livros dela achei a conversa interessantíssima. Sidi Hustvedt é uma escritora com vários livros
publicados, é doutorada em Literatura Inglesa por Columbia University, tem um
enorme interesse e conhecimento sobre neurociências, conhece Antonio Damasio, é
muito viajada... Tudo isto fiquei a saber lá. Estas foram muitas das respostas
dela às perguntas do Paul Auster. O livro “Living, thinking, looking” é uma
colecção de crónicas. Ainda não o li, mas pouco mais de uma hora em que a
escritora leu passagens do livro e em que repondeu às perguntas de Paul Auster,
deixaram-me muito entusiasmada. Claro está que entrará para a pilha de livros
que me acompanha e que aumenta a cada dia. Acabei de saber hoje que Sidi
Hustvedt é a mulher de Paul
Auster e estão casados desde 1981.
sexta-feira, 15 de junho de 2012
Dia de Portugal em Newark
Nunca tinha estado em Newark a não ser no aeroporto ou de passagem. Sabia que havia uma enorme comunidade portuguesa. Como o dia de Portugal foi no domingo decidimos passar lá o dia com um objectivo principalmente gastronómico. Newark, pelo menos o que vi, nem parece uma cidade. Nunca vi diferenças tão contrastantes entre uma cidade e outra separadas por poucos kms. Há casos de diferenças visíveis como Lisboa vs Almada/Montijo/Alcochete ou Porto vs Gaia. Mas NYC vs Newark é gritante. Mal saímos da estação de comboios sentimos imediatamente o cheiro a sardinhas! Várias barracas, com diferentes nomes, música pimba aos berros, imensos portugueses de boné e t-shirts da selecção. A maioria usava calções e boné. Deve ser a adaptação aos novos tempos. Após uma rápida ronda pelas barracas decidimos pedir bifanas e sardinhas. Afinal já era hora de almoço e as saudades de comida portuguesa era mais do que muita. O destino final era o "Seabra´s Marisqueira". Até chegarmos lá passamos por uma rua onde quase tudo era português, desde TAP, BES, agências de viagem portuguesas, quiosques, cafés, pastelarias, supermercados e a maioria das pessoas com quem nos cruzávamos era portuguesa. Falavam num diferente dialecto que misturava português com inglês, mas a maioria até falava inglês entre eles. A sensação que tive é que este micro-mundo correspondia algures a um Portugal que só me lembro de ver nas aldeias. Um mundo fechado, parado no tempo, sem evoluções e que não corresponde de todo ao Portugal que somos agora. Contudo, a maioria destes emigrantes não se assemelha em nada ao Portugal moderno e muito menos parecem viver a poucos kms de uma das cidades mais fervilhantes e cosmopolitas do mundo. Quando chegamos ao restaurante, aí sim parecíamos ter chegado a Portugal. Parecia uma das muitas cervejarias/marisqueiras que existe em Portugal. Um grande balcão, aquários, azulejos na parede, garrafas de vinho, cozinha visível.... Eu fiquei fã deste restaurante. Melhor do que muitos restaurantes em Portugal. A mesa tinha toalha de pano, ao contrário da maioria dos restaurantes em NY. O pão nem tenho palavras para descreve-lo. Acho que nunca comi pão tão bom na minha vida. Quem vive nos Estados Unidos sabe da dificuldade que é encontrar pão razoável... Seguia-se a escolha da comida. Tanta variedade, coisas tão boas , que a dificuldade era mesmo escolher. Escusado será dizer que as minhas escolhas são (quase) sempre desastrosas. Quem é que se lembra de escolher leitão numa marisqueira?!. Podem atirar-se para o chão a rir!. Sim, escolhi leitão! E quando chegou à mesa, apenas pelo aspecto, percebi o erro (mais uma vez) acabara de cometer... Percebi imediatamente que o tal do leitão pelo tamanho já era adolescente para não dizer adulto... e não fora assado em brasas... Péssima escolha, nem consegui comer o que trouxe para casa. As outras escolhas foram mais acertadas. Açorda de marisco e carne de porco à alentejana. Como não sou grande fã desta última optei por nem provar. Mas a açorda de marisco estava divinal. Tudo era fresco. E polvilhada com imensos coentros. Ainda consegui comer uma mousse de chocolate caseira que também estava óptima. Depois ainda fomos aos supermercado Seabra. Este senhor deve ser o magnata lá do sítio. Tinha imensa coisa portuguesa e os produtos estavam cheios de neologismos: rosca de coconut, regueifa cinnamon....
Ao deixarmos Newark ainda tive tempo de ir a um quiosque compra a "Visão" que me custou $8!!! E ainda vimos este fenómeno do youtube pessoalmente....
quinta-feira, 7 de junho de 2012
Patti Smith: World Premiere of "Banga" @ Barnes&Noble-Union Square
Desde que estou em NY que queria ver a Patti Smith. Dois dos concertos que deu estavam esgotados nas primeiras horas que os bilhetes foram colocados à venda. E uma apresentação que ia fazer numa das Barnes&Noble foi cancelada. Já estava a perder a esperança até que soube que o lançamento do novo CD dela "Banga" ia ser hoje. Um lançamento destes, de uma pessoa com a idade dela, depois de tanto tempo, sendo um ícone em NY e no mundo, era de esperar a confusão que estaria. O lançamento estava marcado para as 7 e, como sabemos, aqui tudo começa a horas. Planeei o trabalho para poder sair às 6... mas como sempre, nada corre como queremos...eram 6:30 ainda não tinha saído do lab e estava quase a não responder por mim (mas isso são outros quinhentos). Quando percebo, pelo barulho na janela, estava a chover torrencialmente... Como?! Mas ainda estava sol há pouco!!! Saio pelo Presbyterian Hospital e tento apanhar um dos táxis (Gypsy)...Começo por perguntar quanto levam até Union Square debaixo daquele dilúvio... uns 40, outros 30, outros 25... Parecia a cantiga da feira! Quem leva menos. E eu disse que só podia dar 20 porque era o que tinha na carteira e eles não aceitam cartões... nada feito... 25 foi o valor final! Como só tinha 20 decidi-me a andar 100 metros e entrar no metro, claro, a achar como às vezes consigo ser muito estúpida a apanhar com um chuveiro daqueles para ir de táxi quando podia ir de metro!!! Sentadinha no metro da 168 até à 14 e aí mudar para outro que me levaria a Union Square. Não demorou mais do que 30 minutos. Quando cheguei a Union Square já não chovia e estava quente e húmido bem à NY. Sabia onde era a Barnes&Noble de Union Square mas nunca tinha lá entrado. Quando vou a Union Square vou sempre à Strand. Não se vai à Fnac quando se tem uma Livraria Lello ao lado. É mais ou menos isso que se passa com a Strand e a Barnes&Noble. Subi as várias escadas rolantes. E percebo que a última que faltava subir estava com um polícia a bloqueá-la. Não se podia subir porque o evento estava cheio! E eu a não acreditar que tinha saído do lab aquela hora, que tinha levado com um banho e agora a 100 metros de ver a Patti Smith a lançar o "Banga" ia ficar ali? Durante uma hora só a ouvi. As perguntas que lhe fizeram, as respostas que deu, os parabéns que cantaram a um membro da banda e as 3 canções que cantou. Para quem achava que a Patti Smith tinha acabado, este show case mostrou que a senhora está aí para as curvas. Os loucos anos 60 com as drogas psicadélicas, os ácidos lisérgicos e o álcool (legal) só conservaram esta senhora de 66 anos! Quando terminou a apresentação e ela começou a assinar livros, CDs, e afins, tudo o que lhe levavam... abriram as escadas. Nunca vi coisa tão organizada. As pessoas que esperavam pelas assinaturas mantinham-se sentadas e eras chamadas por filas. E foi assim que passei duas horas. Sentadinha. Mas claro, como nunca nada corre completamente bem, sentou-se um maluquinho ao meu lado. E começa a meter conversa por causa do meu cartão de Columbia que estava pendurado na mochila (que estava no chão). Começa-me a perguntar o que faço já que ando naquela universidade "só para pessoas inteligentes) mal ele sabe... E eu lá lhe explico, à espera que o assunto ficasse por ali. Mas não. O homem saca de um jornal e começa a desenhar um coração e a classifica-lo anatomicamente. ventrículos, aurículas, veias, artérias, válvulas.... E eu a achar que estava perdida!! E como se chama esta intersecção? E isto e aquilo...Depois mudou ligeiramente a conversa e começa a perguntar porque é que eu não vou para Medicina, ou para Dentária ou para Farmácia... Eu a tentar explicar-lhe e à espera que o homem se calasse. Ele fingia que percebia e daí a dois minutos começa outra vez com as mesmas perguntas e porque se mudasse para medicina ia ganhar muito dinheiro... E porque só entra em Medicina quem tem A+, e porque este ano concorreram 4000 alunos para as faculdades de Medicina de NY e cada uma delas só tem 160 vagas... E eu só me apetecia dizer-lhe "Ó homem, cale-se um bocadinho"! Mas não o fiz. O senhor tinha as unhas grandes e sujas, barba mal aparada, boné, cheio de roupa (quando a temperatura é de verão) e estava cheio de sacos. E eu lá tentei mudar o assunto: "Gosta da Patti Smith?" Mas estava mais do que visto que o homem não queria mudar de assunto porque respondeu que a conhecia mal mas que tinha aproveitado para comprar o CD e o livro e já tinha gasto o dinheiro de amanhã com isso... E lá volta outra vez, porque é que eu não ia para Medicina...E que tinha escrito muitos papers e passado muitas horas em bibliotecas e e que a investigação dele era sobre a desintegração da Jugoslávia. Eu acho que muita gente à nossa volta já se ria sem querer. Passei duas horas nesta conversa!!! E quando nos chamaram para a fila dos autógrafos propriamente dita, felizmente o senhor meteu conversa com outra pessoa atrás dele. A Patti Smith é muito muito simpática, notava-se o quão cansada estava depois de 3 horas a assinar tudo o que lhe punham à frente. Tem uns lindos olhos azuis. E um bigode de fazer inveja à JD Samson (Le Tigre/Men).
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Riverside Symphony season finale
Há algum tempo tinha visto no site de Columbia bilhetes para o concerto da Riverside Symphony no Lincoln Center. O que eu queria mesmo ver era a New York Philarmonic, mas os preços para este concerto a metade do preço num bom lugar da sala do Alice Tully Hall, Starr Theater, prometiam valer a pena. Cheguei em cima da hora, como sempre, mas a atravessar uma das ruas do Lincoln Center pareceu-me ouvir uma voz conhecida, um verdadeiro vozeirão de homem, mas quando olho para saber quem era vi um homem vestido de mulher a fumar. Olhei melhor e percebi quem era: o Antony (the johnsons). Vou à bilheteira a correr levantar o meu billhete, entro na sala e percebo que o meu lugar era um lugar espectacular. Mesmo no centro próximo do palco. Percebo imediatamente que tenho que pedir para metade da fila se levantar...Quando avisto o único lugar vazio vejo que ao meu lado estã não mais do que um gordo, ou melhor, um obeso daqueles mesmo obesos e ocupava a minha cadeira. Sento-me e percebo o quão espremida vou ficar nas próximas horas. Respirei fundo, afinal estava pela primeira vez naquela sala, num bom lugar, tinha que aproveitar. Não se pode ter sorte em tudo. Respiro fundo, ponho os óculos, começo a ver o programa que me tinham dado na entrada. Afinal não estava assim tão atrasada. Levanto os olhos para ver a orquestra e quem está imediatamente à minha frente: Cynthia Nixon com a mulher (sim, porque cheguei a casa e fui ao Google informar-me e vi que se tinha casado no domingo) e mais um miúdo que devia ser o filho. Ela assistiu a todo o espectáculo da Riverside Symphony que tocou HAUSE "The Tree Without End" que também estava na plateia e foi muito aplaudido. Seguiu-se BEETHOVEN "Piano Concerto No 4 in G Major, Op.58) acompanhado pelo pianista Shai Wosner. Depois do intervalo a Cynthia Nixon foi a narradora de"The Story of Babar, the Little Elephant" (POULENC). Adorei o concerto. O que não percebi foi como tanta gente dorme nestes concertos. As duas senhoras ao meu lado até ressonavam e o gordo ao meu lado se esteve acordado 5 minutos foi muito. Até a cabeça lhe pendia para o lado... Provavelmente em muitos outros espectáculos as pessoas também dormem mas como é menos eluminado torna-se menos perceptível. Pronto, confesso que também adormeci na "Tosca" mas era inverno, estava numa sala quentinha, e a ópera demorou perto de quatro horas...
terça-feira, 5 de junho de 2012
The Susan Sontag Prize for Translation 2012
Este ano o prémio de tradução atribuído pela Susan Sontag Foundation, no valor de $5000 for para dois tradutores da escritora brasileira Hilda Hilst: Julia Powers pela tradução de "Contos d'escárnio/Textos grotescos" de Hilda Hilst e para Adam Morris pela tradução de "A obscena senhora D".
segunda-feira, 4 de junho de 2012
Pôr-do-sol frustrado em Seaport e Battery Park
O C. deu a ideia e eu senti-me tentada. Nunca tinha estado no Seaport ou no Pier 17. Como é possível? Mesmo estando um dia cinzento e com temperaturas baixas para esta altura do ano arriscamos ir mesmo sem sol. E descobri um novo mundo! Só tinha ficado impressionada assim com Bryant Park e com High Line. É um porto com uma relação magnífica com o rio, cheio de pessoas (mesmo com mau tempo) e preparado para as pessoas. Tem imensas cadeiras e camas de madeira e relva. Depois correr por ali até apetece. Ali até eu corria. E tem um cheiro a algas que já tinha saudades. Para além de tudo tem restaurantes animados e tem uma vista fantástica sobre a ponte de Brooklin e sobre a baixa de Manhattan. Fizemos pé toda a beira rio do Pier 17 até ao Battery Park onde era suposto ver o pôr-do-sol. O dia não deu para isso.
Acabamos no "Fraunces Tavern and Museum"(frauncestavernmuseum.org) no Financial District (54 Pearl Street). Felizmente pouco conhecida dos turistas, é uma taberna das mais antigas de NYC ainda em funcionamento. A história deste estabelecimento, que é um bar, restaurante e museu, inclui a preparação da revolução que culminou na independência dos EUA. A carta de cervejas é gigantesca. E como estava um dia frio escolhemos uma das stout da lista: "plain porter" que estava descrita como "the best stout in the world". Se é a melhor ou não, não sei, mas era muito boa. Ainda por cima tinha pouco álcool e poucas calorias!!! Para jantar a C. escolheu "Fraunces Tavern Pot Pie"(era o prato preferido do George Washington) e eu escolhi "Colonial Style Sheperd's Pie". Os dois pratos estavam muito bons, pareciam até caseiros (caso raro em NYC). E de sobremesa escolhemos uma tarte de maçã quente.
Credits: Fraunces Tavern Homepage |
Credits: Fraunces Tavern Homepage |
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