Acordo
às 5 da manhã sem motivo aparente. Pego no iPAD e vejo a inesperada notícia.
Congelei. Não percebi. Reli várias vezes. “Escrevo com esperança... E chegou a hora em que teria que me
despedir...... Estás por uns segundos... Entre mim e ti todos os fios se
desprendem... Tão grande a vida que fizeste, atravessaste
o século 20, até agora... 91 é um número supremo... Sei que não ouvirei a tua
voz mais... Só dentro de mim... E com o tempo, até essa ficará esbatida e eu
infeliz tentarei compor para meu consolo outra. Olharei as tuas fotos de vedeta
de cinema americano... Que eras, de parar o trânsito... Esquecendo os outros
que para além da casca eras de fibra da melhor proveniência... Grande, imensa,
forte, suave, apaziguadora, de humor irresistível... Lutaste, construíste,
nunca viraste a cara a adversidade, Foste a minha heroína.. Tinhas pinta,
classe... Poucas ou nenhumas sabiam estar como tudo em todo o lado... Se
quisesses serias a dona do mundo, mas não, escolheste o trabalho e a família e
com isto deste-me tudo o que alguma vez alguém teve...”. Não dormi mais. E essa
parte já falei aqui.
O funeral foi
em Cepães. Terra Natal.Uma capelinha pequenina. Nossa Senhora da Guadalupe.
Chovia torrencialmente. Chegámos uma hora mais cedo da hora marcada para o
início da missa de corpo presente. Lá estava o R. Sempre com aquele sorriso
lindo. A cara da mãe. E o grande amor da tia. Foi o último a vê-la com vida.
Ainda o reconheceu. Que despedida boa foi, imagino eu. Partir com 91 anos com
total independência. E não morreu sozinha. Teve até ao fim qualidade de vida. O
que mais se pode pedir e desejar para os que amamos. O caixão estava fechado e
em cima uma fotografia linda de quem foi a L. Tão bem. O instante captado no
seu melhor, pela máquina fotográfica. Ao lado, uma jarra de rosas pérola.
Adorava flores. A capela, com o aproximar da hora foi-se enchendo. Chegou a C.
e o P. com os filhos (M., C., J. e A.). Vi a tia L. com tantas tantas flores.
Um ramo por cada sobrinho e família. Depois vi também o M. e a J. com os filhos
(M., A., A. e L.). Ao meu lado ficaram as pequeninas A . e T. Portavam-se
exemplarmente. Perguntavam porque não podiam ver a L. No decorrer da missa vi
muitas lágrimas a correr nas caras dos meninos. Mas também dos grandes. Mas as
lágrimas eram acompanhadas de muitos abraços e de muitos sorrisos. A M. e o P. Fizeram
as leituras. Nunca vi um funeral com tantas crianças. O que se podia esperar
triste, transformou-se numa celebração. As crianças que a L. tanto gostava e
que ajudou a criar. Duas gerações de pais e filhos gratos a esta grande mulher.
A família emprestada em peso. A L. deveria ficar orgulhosa. Tinha um dom
intrínseco para a alegria e felicidade. Quando vi todas estas pessoas juntas, reunidas
na celebração da vida da L. comovi-me até às lágrimas. Mas o momento alto foi
quando a C. foi ler um texto. Aí não me aguentei. Um texto tão lindo, tão bem
escrito e tudo o que a L. era. Todos choraram dos grandes aos pequenos. A C.
lia alto e bem, avoz trémula e com as lágrimas a escorrerem mas ao mesmo tempo,
a cara, como a L. queria era alegre. No final da missa a M. tocou viola e todos
(quem sabia) cantaram juntos. Mais lágrimas e mais sorrisos e mais soluços. A
capela foi-se esvaziando e a C. despediu-se da L. com tantas festas e beijos. O
bilhete do elogio fúnebre foi colocado junto à cara. Como é bom terminar a vida rodeada de amor.
Saudade, falta e memórias. É isto que fica. É assim que me lembro da L., bem
disposta, doce, carinhosa, amiga, alegre,
sorridente, optimista, festeira. Com uma vida e uma alegria de viver que fazia
inveja aos novos. A L. teve, tudo balançado, uma vida boa e uma boa vida. Viveu
os últimos 40 anos com a família que não era de sangue mas que foi a família do
coração. Todos os meninos e meninas dela, com um raminho na mão acompanharam-na
debaixo de um dilúvio. As lágrimas confundiam-se com a chuva. As flores da
minha madrinha P., ZL, C. e A. também não foram esquecidas. Estes pais e estes
filhos que eram a perdição da L. Também eles estiveram lá em pensamento. A
nossa L. vai fazer muita falta e deixa uma saudade tão boa. Mas o exemplo dela,
aquela jovialidade, as palavras e a força vão ser para sempre admiradas. E
enquanto cada um de nós que conheceu a L. viver, ela não morrerá nunca.
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