Passaram-se 21 meses e 15 dias desde que ele se foi
embora. Sem uma explicação. Sem um pronúncio. Sem uma sugestão. Sem nada que
indicasse um fim. Tudo é “eterno
enquanto dura”. Ela escolheu ser infeliz. Uma eremita. Uma anti-social. Uma
Greta Garbo (que não vive em NY). Fechou-se para a vida. Só se pergunta o que
fez de errado, como se houvesse (alguma) ciência nos finais. Podia ter optado
por sair todas as noites até de manhã e dormir de dia. Sendo livre, podia
abraçar toda a gente. Tinha a liberdade de escolher com quem sair. Bebia todas.
Pedia uma bebida e traziam-lhe uma bandeja. Saía como se não houvesse amanhã.
Beijava bem. Não era de ninguém. Tinha sempre o copo cheio, pela madrugada
dentro, até ser dia. Até que sentia-se mais sozinha com o passar do tempo. Era
mais uma no meio da multidão. Agora, não perde tempo a conhecer ninguém. Como
se tempo não fosse o que mais tem.
Tem vivido o inferno de Dante. Não vive no presente,
só no passado. Não tem futuro. Deixou de saber conversar. Só frases curtas e
soltas. Toda a gente desistiu dela. Ninguém aguentava (mais) aquela depressão.
Aquelas frase feitas. O pessimismo. A crítica ao ser humano. Cansaram-se de que
lhes pedisse espaço. Não deixa que tomem conta dela. Nem que se aproximem. Os amigos
desapareceram. Depois os colegas. Depois os conhecidos. Depois os que acabava
de conhecer. E no fim, ficaram apenas os cães, que não cobram nada.
Não consegue distinguir a pessoa que foi nem na que
se tornou. A irracionalidade tolheu-lhe o juízo. Não consegue mais ver o lado
mais bonito de si. De como é bonita por dentro e por fora. O que ela sente é uma tristeza sem fim. Tem
estado muito doente. Os médicos dizem-lhe para fazer o que lhe apetecer. Mas
nada lhe apetece. Passa os dias a olhar o céu e o mar. Olha para o infinito.
Vive de memórias. Ele não lhe sai da cabeça. Acha que amar sozinha também vale.
Melhor um monólogo que nada. Vive de migalhas. O coração, esse orgão tão físico
e tão complexo só lhe dá (falsas) esperanças e (falsos) sinais. O coração é o
mais irracional dos orgãos. A razão mostra uma coisa e o sentimento indica a
direcção contrária. A esperança que não cessa. Apesar do tempo que passou, não
consegue entender a palavra fim. E que essa palavra, segundo as estatísticas,
não tem continuação nem (re)começo. Não conseguiu mudar a página.Talvez um dia
consiga reparar, dentro dos seus olhos cor de amêndoa, no instante que passa. A
vida é uma viagem curta. Sente-se a morrer por dentro. As lágrimas não param de
lhe cair. E todos os dias as seca. Os diamantes duram para sempre mas as
pessoas não. Mas agora, ela (apenas) conta as horas e os minutos para que a
morte chegue.
Coração bordado em tela by Daniela Ktenas. |
Sem comentários:
Enviar um comentário