Se eu quisesse ser má diria que
alguém com este nome não augura nada de bom. O Feliciano, tal como o Relvas, o
Vara, o Sócrates, mais outros tantos políticos menos conhecidos, e
assessores dos aparelhos partidários são
o resultado do “chico-espertismo” português. Um país onde o tratamento por
“doutor” e “engenheiro” chegou (quase) ao nível do Brasil. As universidades
privadas proliferaram como fungos nos anos 90. Venderam licenciaturas aos betos
jotas dos partidos que não tinham notas para entrar nas universidades públicas,
aos betos que não conseguiam terminar os cursos nas universidades públicas, aos
trintões que queriam uma licenciatura que lhes concedesse o tratamento pelo
grau e/ou lhes legitimasse a desempenho profissional. Para melhorar tudo, esta
semana, ficamos a saber que os licenciados pré-Bolonha vão ter equivalência a
Mestrado. Estamos conversados quanto a facilitismos.
Voltando ao Feliciano, é outro dos
casos que envolve a dupla maravilha de combinar um curso tirado numa
universidade privada com a demora da obtenção do curso. Dir-me-ão que a conclusão
desta combinação é uma generalização e um preconceito. Pode ser, mas convido
quem tiver tempo e paciência a analisar os políticos e os seus boys que tiraram os cursos em
universidades privadas. Infelizmente, a política portuguesa está cheia destas
ervas daninhas que ajudam a sustentar os partidos e os governos.
Não é preciso ter tirado um
doutoramento numa universidade americana ou em colaboração com uma universidade
americana para saber que quando se é aluno de doutoramento ou aluno de
doutoramento visitante, o processo começa com uma carta/convite da universidade
americana em inglês, nunca em português. Juntamente com isso vem a obtenção do
DS e do visto J1. O esperto do Feliciano não só demorou o dobro dos anos da
duração da licenciatura numa universidade privada como se aproveitou de uma
carta de uma Professora de Berkeley em português a dizer que orientaria o seu
doutoramento. Como todos os espertos, aproveita-se de tudo o que pode. Dizem à
boca pequena que mal fala inglês e que, quando contrariado, diz mal de toda a
gente e que queria chegar a Ministro, coisa que nunca aconteceu. Mas, pasme-se,
chegou a Secretário de Estado em dois governos e foi chefe de gabinete de
Passos Coelho (que não gostava dele... imaginem se gostasse). Li das coisas
mais anedóticas sobre este senhor desde ter publicado mais de 20 livros a
fazer-se anunciar no Bombarral à sua chegada com buzinadelas do motorista
oficial.
Mas onde eu quero chegar é que
Felicianos há muitos. E o exemplo do Feliciano é um dos exemplos de como se
ascende na vida. Depois, também há os que sem mácula e sem nada que se lhes
aponte têm uma biografia irrepreensível e repleta de graus mas subiram na vida
porque se encostaram às pessoas certas. Porque se é verdade que há muita gente
que não consegue tirar uma licenciatura sem ter sido paga, há muita gente que
não se pode gabar de grande inteligência mas ter conseguido tirar um
doutoramento. É célebre a frase: “um burro com livros é sempre um burro”. Há
muitos anos uma pessoa que era respeitadíssima, e que caiu anos depois em
desgraça, dizia uma coisa que nunca esqueci: “ não interessa o que diz a tua
tese mas quem é o teu orientador”. De facto, a vida depois de 38 anos ensinou-me
que é (quase) uma verdade absoluta. Com
raras excepções, nunca chegaremos a lado nenhum
sem um telefonema ou sem uma (boa) carta de recomendação.
Pedro Passos Coelho chegar ao
topo da hierarquia académica pelo simples facto de ter sido Primeiro-Ministro causou
grande indignação. Um licenciado por uma
universidade privada, depois dos 30, leccionar numa Universidade pública com a
equiparação a Professor Catedrático Convidado? Que sacrilégio! Concordemos ou
não, não é ilegal. Podemos lembrar-nos de outros como Vitor Constâncio e Guilherme
de Oliveira Martins. O que a mim me
causa perplexidade e azia não é ele ser professor catedrático convidado numa
universidade pública, que é legal, mas
eu não poder fazer o mesmo. E nunca me esqueço do comentário infeliz que fez
sobre aconselhar os melhores qualificados a emigrar. Foi o que fiz. Na
inevitabilidade de não conseguir no meu país um emprego, conseguiu-o no
estrangeiro, aos 38 anos pela primeira vez. O que me faltava?
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