Tenho
38 anos. Um emprego pela primeira vez na vida. Um contrato por 2 anos, com tudo
a que um trabalhador tem direito. Mas, para isso, tive que mudar a minha vida
toda. Deixei a minha casa com tudo o que de confortável e conhecido tem. Os hábitos. Uma cadela que encontrei quando
ela tinha 4 meses e da qual achei que nunca me iria separar. A família, Os
amigos.
Não é
a primeira vez que mudo na vida. Já vivi em 3 cidades diferentes. Esta é a
quarta. Braga, Houston, NY, Genova. Durante
anos, com tantas mudanças de casa e 3 cidades, não me sentia em casa em parte
nenhuma. Mas depois de alguns anos seguidos em Braga comecei a sentir que pelo
menos aquele apartamento fora sido preenchido à minha imagem. Começar
de novo com uma mala de 32 kgs, uma mala de mão e uma mochila. Tudo o resto
ficou para trás. Desenhei um cenário catastrófico. Pensei que não ia gostar de
nada e criticar tudo. Está a ser mais fácil do que pensava. Diria que são duas
coisas muito importantes: o tempo e as pessoas. As pessoas são o melhor.
Acolhedoras. Simpáticas. Mesmo sem partilharmos a mesma língua conseguimos
perceber-nos. Falam muito com as mãos. Falam alto. Riem muito. São parecidas, nas qualidades com os portugueses.
Felizmente, como diria o Eça não têm o aspecto desconsolado dos doentes dos
intestinos. Vivo pela primeira vez na vida em frente ao mar. Mas não há a angústia do mar. Apesar de haver dias com
ou sem chuva, cinzentos, o mar nao adquire aquela cor depressiva cinza chumbo.
Não tenho elevador. Vivo num quarto andar. O local de trabalho é bom. Deram-me
um computador, 3 batas brancas e duas azuis. Tenho 2 cacifos e uma secretária.
A cantina e o bar são óptimos. Bom, bonito e barato. Comida boa a preço de
cantina. Estou viciada em cappuccinos. E na simpatia das senhoras do bar.
Sinto-me acolhida. Aqui não tenho carro. Felizmente, dizem os meus amigos. Com
as ultrapassagens que fazem pela direita
e esquerda, não demoraria muito a causar uma tragédia com as milhares de
scooters. Um destes dias deixaram-me em frente a casa, e apesar do aviso para ter cuidado com a porta e com as
scooters, causei estragos. Ando a pé, de metro e de autocarro. Acho os
transportes eficientes, embora o metro feche às 9 da noite, ridiculamente. Os
táxis são caros mas muitas vezes, por preguiça, não lhes resisto. Ainda tenho
uma casa praticamente vazia, só com o indispensável. Mas dizem-me que
agradável, parece uma casa de praia. Ainda não tenho internet ilimitada nem
telemóvel italiano. Foi este o grande problema encontrado e que mais demorei a
resolver. Todos os outros foram rapidamente solucionáveis. Não tenho televisão
nem vou ter, eu que não adormecia sem ela. Não tenho fotografias. Trouxe 10
livros. Ainda me custa olhar para os cães e para crianças e não ter saudades. Falo
todos os dias com as mesmas pessoas que falava em Portugal, até mais. Saudade é
a palavra que mais me ocorre desde que me mudei. Quem,
quando está sozinho, não se intimida com o silencio? Planos, ao
contrário do que esperava, não faço a longo prazo. Só (ainda) não consigo
conjugar os verbos no futuro. No presente, sempre no presente. Sobre o texto da
mudança, uma das minhas amigas achou-o triste. Falhei o objectivo porque nada
nele é triste.
Tenho
dinheiro, mais do que algum dia. Mas quero coisas que ele não compra.
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