sábado, 31 de agosto de 2013

Tudo fica bem quando acaba em bem

Ontem, uma sexta que parecia igual à outras. Quente, ventosa e a última de Agosto. Portugal estava em chamas. À hora de almoço, avistava-se muito fumo ao longe. Em pouco mais de uma hora as chamam começaram a ver-se. E nós dentro do edifício, através de uma janela enorme de vidro, assistíamos e comentávamos.  Nenhum de nós achava que as chamas chegariam ao Avepark e atravessariam a estrada. Mas em pouco tempo o que parecia improvável aconteceu. As chamas estavam em todo o lado. A principal preocupação era proteger o tanque de propanol e o tanque de azoto líquido. A coisa mais incrível que vi acontecer foi uma autêntica peregrinação de anónimos a querer ver aquele cenário dantesco. Famílias inteiras, com crianças inclusivé, só faltava o cão... este comportamento tão português...

Eu já tinha deixado o meu carro na via rápida que dá acesso ao Avepark e fui andando em direcção ao Avepark e aproximando-me do edifício do 3B’s. Apesar de eu não poder fazer nada estavam lá amigos meus e queria saber se aquilo estava controlado. Deram-me uma máscara para me proteger do fumo, que naquela altura tudo o que se via era cinzentoe o laranja das chamas. Como não havia nada que pudesse fazer vim embora com mais duas colegas. Começou a dar-me tosse e eu percebi que a máscara estava a provocar-me dificuldade em respirar. Era como se a máscara tivesse qualquer coisa. Disseram-me depois que a máscara não era apropriada para fumo mas para solventes orgânicos. Aquilo tem um revestimento que parece um tecido e era isso que me estava a provocar a crise de asma. Sem entrar em pânico, sentei-me e pedi às minhas colegas que chamassem uma ambulância. Deitei-me no chão e tentei manter a calma. Fechei os olhos para não me incomodar com as pessoas que me estavam a rodear. Pelo barulho apercebi-me que deviam ser algumas dezenas. Todos (as) queriam ajudar. Perguntaram-me se queria um saco para ventilar, se queria café, deram-me a mãe. Faziam-me festas na testa. Pensei:  “Se morrer já não morro sozinha”! Depois chegou alguém profissional que me dizia para inspirar pelo nariz com calma. E dizia-me que a ambulância estava a chegar. Ouvi-a dizer: “A vítima aparenta entre 25 e 30 anos”. O meu estado para quem me via devia ser deplorável mas lembro-me de ter pensado: “Mesmo nesta condição não me dão a idade que tenho! Se não morrer vou gabar-me deste trunfo!”. Lembro-me de ter perguntado se os meus olhos estarem inchados. E lembro-me que me responderam que estavam um bocadinho mas para não me preocupar com isso.  Chegou a ambulância, lembro-me que a mão que segurava a minha já era outra.  Lembro-me que a L. me disse “Miúda, vou contigo”. Não tinha documentos, nem carteira, nem nada. Só eu e o meu telemóvel. As duas bombeiras que me assistiram colocaram-me imediatamente a máscara e ligaram o O2. Melhorei um pouco. Estava cheia de sono. Pediam-me que falasse com elas. E eu pedia-lhes que me aumentasse o O2. Perdi a noção do tempo mas tenho a sensação que não demoramos mais do que 5 minutos a chegar a Guimarães. Só me lembro de as bombeiras espetarem-se de um lado para o outro tal era a velocidade. E eu só pensava: “Não morri da asma vou morrer num acidente”. Quando parámos lembro-me de ter pensado: “Não foi desta”. Fui assistida imediatamente. Expliquei à médica que estava com uma crise de asma por causa da máscara e expliquei-lhe que tinha estado num cenário de incêndio mas que quase não tinha inalado fumo... ela não ficou muito convencida. Colocaram-me um cateter, retiraram-me sangue venoso para hemograma,  a médica recolheu-me sangue arterial para gasometria. Esta parte foi dolorosa. Ainda para mais porque não me encontrava a artéria radial...Injectaram-me um corticoide. Aí fiquei perfeitamente bem. Colocaram-me um nebulizador com algum tipo de fármaco que perguntei se era normal cheirar mal... responderam-me que sim. Fui eficientemente bem tratada, desde a enfermeira à médica foram excepcionais. Quando questionei a médica se podia ir jantar fora ela respondeu-me: “Claro que sim!”. Eu continuava ali à espera das análises com a L. ao meu lado. Já estava bem. A médica regressa e diz que tenho que fazer um RX, análises e outra gasometria porque os valores de O2 estavam extremamente baixos. E eu lá lhe repeti que não tinha estado exposta ao fumo, mas ela não quis saber. Quando lhe perguntei quanto tempo demorava respondeu-me que uma hora e meia... Pedi à L. que fosse buscar o meu carro e o levasse para Braga. Entretanto, chegou o meu irmão. Neste tempo de espera só vi misérias. Só velhinhos acamados. E uma bombeira que tinha ficado ferida num incêndio. Retiraram-me o O2 e médica tirou-me novamente sangue da artéria radial, desta vez no pulso esquerdo. Fiquei com uma bola altíssima no pulso.... mas não me queixei. Os segundos resultados da gasometria vieram normais e pude sair apenas com uma receita de uma bomba de flucasona + salmeterol. Ainda falei no carro com os meus sobrinhos ao telefone que ainda me fizeram rir com frases do Madagascar 2: "uuuuaaaaauuuuaaaa"; "és um gatinho muiiiiitoooo mauuuuu!". Fui jantar fora, como tínhamos inicialmente planeado, só cheguei atrasada. Tudo fica bem quando acaba em bem!






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