Eu, tal como muita
gente, mas principalmente tal como o João Miguel Tavares (com quem partilho
muitas das opiniões), na passada sexta-feira, tive vergonha da democracia
portuguesa. Não tenho vergonha de ter contribuído com o meu voto para eleger os
deputados do PSD (mas podia ter tido, caso tivesse tido oportunidade de votar).
Mas, principalmente, vergonha de quem “inventou” um referendo à última da hora por puro oportunismo
político, já depois do projecto de lei ter sido aprovado na Assembleia da
República. Hugo Soares “lançou-se” como
o arauto do referendo mas desconfio que não passa de um fantoche que só cumpre
ordens e abana com a cabeça. É que a pouca preparação que demonstra ter, mesmo
com formação em Direito, envergonha qualquer pessoa. Nem a defender o “seu”
referendo mostra-se à vontade. Vazio de ideias é o que me parece. O debate em
que participou na TVI24 com a Isabel Moreira foi um KO sucessivo do princípio
ao fim. Como se diz na minha terra de nascença (ou nossa, para minha vergonha)
o Hugo Soares levou uma coça da Isabel Moreira.
Hugo Soares é mais um
jotinha que foi subindo na hierarquia do seu partido, muito provavelmente, por
lamber botas. Acresce que não é um grande orador ou um grande argumentador. Não
se lhe conhecessem desempenhos profissionais, fora da política, relevantes. A
minha grande questão, que continua sem resposta, é: qual é o objectivo de
propor um referendo “em cima do joelho” a mando do boss ao boy Hugo Soares?
Tenho vergonha de
quem aceitou a disciplina de voto numa matéria de consciência individual. O
projecto de lei tinha sido aprovado com os votos a favor de mais de uma dúzia
de deputados do PSD. Onde estão eles? O que lhes aconteceu para mudarem de
opinião? Não me lembro em matérias tão delicadas de não haver liberdade
individual. Estamos numa ditadura? O pastor ordena e o rebanho vai atrás?
Palmas para a Teresa Leal Coelho que esteve à altura da sua consciência e dos
eleitores. E palmas para os militantes do PSD que não tiveram receios de
criticar o referendo, entre eles, Marques Mendes, Pacheco Pereira e José Eduardo
Martins. Se ouvir mais alguma vez algum deputado ou governante do PSD invocar a
crise para poupar em qualquer coisa, a minha arma de arremesso será sempre o
referendo.
As famílias de duas
mães e dois pais existem. Ninguém as poderá apagar ou fazer desaparecer. A
única injustiça é que não estão protegidas pela lei. E é nisto que os deputados
que votaram a favor do referendo deveriam envergonhar-se: esta situação existe,
não vai mudar. O que esta lei da co-adopção pretende mudar é o direito de uma
criança ter no papel o que existe na realidade.Agora, para quem ainda não
percebeu o que está em causa: Um casal criou junto um filho e apenas um dos
cônjuges é mãe/pai biologico (a). Separam-se. Todos sabemos como muitas pessoas
se transformam nas separações/divórcios. Que direito tem o conjuge que apesar
de ter sido pai/mãe, que passou noites a fio em claro quando o filho estava
doente, que acompanhou ao médico, que o protegeu? Neste momento, o direito
sobre a criança que criou é zero. Agora imaginem outra situação: imaginemos a
morte de um dos membros do casal que é pai/mãe biológico da criança. Que
direito tem o membro que sobrevive?
Estas famílias já
existem. Só temos que lhe dar um direito que lhes pertence. Não custa nada. Não
prejudica ninguém. Não faz mal a ninguém. Quem for a favor continuará a ser e
quem for contra poderá continuar a sê-lo, democraticamente.
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