Graça Fonseca. 42 anos. Vereadora da Câmara Municipal de
Lisboa para a Economia, Inovação, Modernização Administrativa e
Descentralização. Licenciou-se em Direito na
Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa. Foi assistente de investigação
do Centro de Estudos Sociais da Universidade de Coimbra, integrada no
Observatório Permanente da Justiça Portuguesa na área de direito de menores e
família, tendo aí concluído o mestrado em Sociologia do Direito.
Trabalhou aí com José Manuel Pureza, Boaventura Sousa Santos, João Pedroso e Maria Ioannis Baganha. Passou
pelo Brasil, Washington D.C. (Georgetown University), Coimbra e Cabo Verde. Infelizmente, a orientadora
Maria Ioannis Baganha, não viveu para vê-la defender a tese de doutoramento. Doutorou-se
em Sociologia pelo ISCTE-IUL em 2010. Dá um semestre de aulas, que é o que consegue.
Falou de acreditar no projecto de António Costa, que acompanha desde o Ministério
Justiça. Low profile. Pontalidade britânica, tão pouco portuguesa. Sem gravação
nem notas. Somente a cábula das perguntas estritamente programada para uma
hora, que por princípio cumpriria à regra. Como não sou jornalista nem para lá
caminho, a atrapalhação levou-me a começar pelo fim. Não posso ainda falar
daquilo que deu início à conversa, mas ao contrário daquilo que esperava,
aquela mentirinha piedosa tão portuguesa “vamos ver o que se pode fazer” ou
“talvez”. Não, nada disso, a resposta foi um sincero não. E eu aprecio isso nas
pessoas. Sinceridade. Um não é um não e passa-se à frente. Ninguém corta os
pulsos por isso. Os meus óculos haviam
ficado no táxi, valeu-me o tamanho da letra. Está cansada. Confidencia-me que o
dia começara cedo, às 8 da manhã. Passa pouco das 7 da tarde. Olhos muito
verdes. Aspecto de quem já aproveitou o sol de Lisboa ou a praia na tímida Primavera.
O cansaço só se nota nos bocejos. iPhone
em cima da mesa mas pouco ou nada olhou para ele, ou se o fez, não notei.
Também me pareceu nunca ter olhado para o relógio. Um caderno A5 da Emílio Braga, português, fechado, garrido, em tons de vermelho. Lá fora o céu de Lisboa, sem
vista para o Tejo. Mas a sala onde falamos já valeu a pena. Elogiei a sala.
Pouco funcional, nas palavras da própria. Enorme, como o rio, diria eu. A um canto, pendurada, uma portuguesíssima mala da Ideal&Co. Conversa informal. Uma hora au point.
Quando questionada sobre a razão pela qual mudou da academia para a política
respondeu que “quer marcar a diferença” e fazer várias coisas ao mesmo tempo.
Abraçar projectos e desafios. É isso que a move. Nunca se importou com cargos.
Isso não importa. Apetece fazer a analogia com o escritor que é a imagem de
Lisboa (ou será Lisboa a imagem do escritor?): “Não sou nada/ Nunca serei nada/
Não posso querer nada/ À parte disso, tenho em mim todos os sonhos do mundo”.
As palavras são sempre de optimismo, mesmo quando provocada. Diz que existem pessoas extraordinárias na política portuguesa.
E que há muitos “Miguel Relvas” em todos os quadrantes da sociedade. Não
insulta, não injuria, não há uma palavra amarga. Só boas palavras e optimismo.
Hoje é melhor que antes. Salienta que há coisas muito boas mas que os
portugueses gostam de exagerar o lado negativo. Fala claro e detalhadamente.
Quando lhe falo de cargos de nomeação e de confiança política, insurge-se
(pacificamente) e relembra-me que foi eleita. Não acredita que não haja
meritocracia, na maioria dos casos. Defende Portugal fervorosamente. Percebe-se
que é uma optimista, apesar das minhas provocações. É daquelas pessoas para as
quais o copo está sempre meio cheio e não meio vazio. Fala-me que quando era
criança havia racionamento de comida em Lisboa. Havia muito analfabetismo e a
maioria tinha a 4ª classe. Temos apenas 40 anos de democracia. As mudanças
demoram décadas a notarem-se. E de repente, estamos no séc XXI, somos da mesma
geração e temos ambas doutoramento. Fala com conhecimento de causa de todos os
projectos. Percebe-se o orgulho daquilo que ajudou e ajudará a construir.
Refere que há duas ou três start up que muito em breve vão dar que falar na
área das ciências. Falamos de mecenato e filantropia, coisa pouco comum em
Portugal. Quando, mais uma vez provocada, diz achar legítimo que as empresas
queiram algo em troca quando financiam projectos. São empresas. Nunca critica.
Levanta a questão de como podem as PMEs contratar doutorados quando a média da
escolaridade dos superiores é o 9º ano. Falamos do rio por onde partimos para
descobrir novos mundos. Da luz, do clima, dos museus, dos preços e das
condições únicas de Lisboa. Nunca há uma só resposta. As respostas são
demoradas e argumentativas. Soube há pouco tempo através da FLAD que Lisboa
ficava lugares abaixo do Azerbeijão1 no que respeita a estudantes
americanos escolherem cidades para estudar. Tentou inverter isso. Terminamos às
8, como combinado. Um jantar oficial esperava-a. Acompanhou-me à majestosa
escadaria com o “Coração Independente” da Joana Vasconcelos. Eis o retrato de
uma política que já foi investigadora. Sabe do que se fala quando se pronuncia a
sigla FCT e afins. É a antítese da opinião que a maioria dos portugueses têm
(infelizmente) em relação aos políticos. É também uma política que não se põe fora dos políticos e tem orgulho disso. Hajam muitas Graça Fonseca que só
dignificam a nobre causa política. Este é um texto sobre o que retive, o que
esqueci era acessório. O simples tão difícil.
1Exemplo ilustrativo
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