segunda-feira, 21 de abril de 2014

A Sentinela

A sentinela é o último livro de Richard Zimler. Como eu disse ao autor, este e o anterior, “A ilha Teresa”, são diferentes de todos os outros. A actualidade é que os distingue. O livro centra-se no personagem principal, Henrique Monroe, inspector-chefe da PJ que é chamado para investigar o homicídio de um importante construtor civil. Podemos classificar este livro de policial porque há um crime e o autor é desconhecido, a dúvida e as pistas persistem quase até ao final do livro. No entanto, este livro é muito mais que um policial. Aborda várias questões como a violência e os problemas psiquiátricos que daí advêm.

Henrique Monroe é um americano que sofreu de maus-tratos por parte do pai, juntamente com a mãe e o irmão. Viviam os três aterrorizados. Passavam o dia a esconder-se do pai para evitar as suas agressões. A mãe sofria de depressão profunda e passava os dias sem se vestir. Monroe sofre de um distúrbio psiquiátrico, transtorno dissociativo de personalidade, que toda a gente desconhece, com a excepção do irmão, e que se manifesta no seu alter-ego, Gabriel. Henrique e o irmão vivem com o medo permanente de o pai os descobrir noutro país, após tantos anos. O que o medo faz. E aborda outra questão importante, como o trauma na infância influencia os agredidos, mas estes abominam a violência e a agressão. Há uma frase do personagem principal que manifesta isso mesmo: “Não há dia em que não me preocupe com a possibilidade de os meus filhos terem herdado de mim algum problema genético”.

Depois há a história da filha do homem assassinado, Sandi, uma adolescente com problemas e que esconde um grande segredo. Juntamente com o autor do homicídio, este é outro dos segredos para desvendar no decorrer do livro. Quase até ao final do livro a dúvida e os segredos persistem.  E o desenrolar do enredo é catártico.

A acção passa-se entre o Colorado e as ruas de Lisboa, sempre magnificamente bem descritas.

Um livro duro de se ler e que nos faz revoltar muita vezes. Mas tem de tudo, desde a descrição de como uma família rodeada de amor e unida ultrapassa tudo. E mostra-nos como, apesar de infâncias terríveis que nos podiam transformar em delinquentes ou até fazer com que não chegássemos à idade adulta, podemos ser seres humanos que não querem replicar o mal que nos foi feito. Uma luz no fundo do túnel é o que parece termos todos em comum quando nascemos.

Um livro mais do que interessante e que merece muito ser lido. 





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