Braga. Tarde de sábado. Tarde primaveril. Tarde amena. Subo
a Avenida da Liberdade. Vejo os canteiros de flores em frente ao Theatro Circo.
A arquitectura antiga e nova. Contrastes. Passo no Largo Carlos Amarante.
Muitos turistas sentados nas escadarias da igreja de Santa Cruz. Uma feira no
Largo de São João do Souto. Compro um colar de missangas. Não discuto o preço. Lembro-me
da Bahia. Sigo pela Rua D. Afonso Henriques. Reparo no número de lojas e
restaurantes novos abertos. Paro na Mercearia Dom Casmurro. Um género de Vida Portuguesa com preços mais acessíveis. Turistas entram e saem. Um pouco de tudo
mas principalmente comidas e bebidas. Tudo biológico e de excelente qualidade.
Vale a visita. Passamos a tarde entre cerveja Letra, vinho branco, azeitonas,
tostas e conservas. Saio de lá com uma pandeireta artesanal, uma lousa
pequenina para escrever recados e um patê de ovas de pescada.
Próxima paragem: Retrokitchen, Rua do Anjo. Desta vez
conseguimos mesa. Havia tentado há umas semanas atrás. Cedo. Também no sábado,
antes do concerto da Adriana Calcanhotto. Tudo cheio. Lembro-me do cheiro bom.
Massada de peixe. Gostei imediatamente do restaurante e da simpatia do dono.
Aconselhou-nos a Casa de Pasto das Carvalheiras como alternativa e foi lá que
fomos parar.
No Retrokitchen regressamos aos anos 70. Cadeiras e mesas de
fórmica. Garrafas antigas de Sumol, 7UP e Pepsi a servir de jarras. Um quadro de
escola. Um cão de louça. Copos diferentes. Tudo retro. Não achei kitch. Uma
mesa para 8 pessoas às 8:30. Não chegamos a horas, como sempre. Mas aqui a
velocidade não é tudo. Não nos dão o menu nem uma lista. Pedimos o vinho.
Aconselham-nos um verde da casa. Recuso amavelmente o vinho verde. Mas dizem-me
que este é mesmo bom, que devo experimentar e só depois, se não gostar pedir
outro. Assim fiz. Provei e não é que era mesmo bom? Não me lembro do nome mas
vou saber. Trazem-nos um rolos de massa filo com carne, uma tábuas com fatias
de pão e ameijoas à Bulhão Pato. O melhor de tudo não são as ameijoas, mas o
molho delas! Fumam-se uns cigarros no pátio e levam-se os copos de vinho. O
ambiente é mais do que amigável. Nos entretantos o dono, de seu nome Rui,
junta-se a nós. Parece que estamos num jantar em casa. Tudo muito informal.
Trocamos muitas vezes entre o pátio e a mesa. Vê-se no pátio a Abelha Maia que
esteve muitos anos à entrada de um café na Rua do Souto. Quem viveu em Braga
reconhecerá. Começo a chatear a cabeça ao Rui para me dar uma garrafa de 7UP
retro. Às 11:00 estamos a começar a jantar. Posta à Mirandesa com umas batatas
fritas cortadas às rodelas com casca, acompanhadas de couve branca salteada em
azeite. Outros comem salmão. E as vegetarianas comem uma frittata com bom
aspecto. As garrafas de vinho multiplicaram-se durante estas horas. Sei que
havia sobremesas. Mas não consegui ter estômago para mais. O café, que nunca
tomo, foi-me dado no pátio. Que serviço tão bom. Ainda ouvi Tribulations dos
LCD Sound System. Quase chorei! Palmas para o Rui e Cláudia que nos fazem
sentir em casa e querer voltar. O Rui, no final, foi buscar a garrafa e
ofereceu-ma. Está em minha casa numa secretária a servir de jarra e já começou
a fazer sucesso.
Copyright: Retrokitchen |
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Próximas paragens: Juno, Latino e Convento do Carmo. Quando
saio à noite, que é cada vez mais raro,
não fico num sítio só. Percorremos todas as capelinhas. No Juno, encontra-se
sempre alguém conhecido. As caras que fui conhecendo em muitos anos de
Insólito. No Latino acontece o mesmo. O espaço está ligeiramente diferente, sem
o bilhar no centro da sala. O Convento do Carmo é um edifício lindíssimo mas
falta ali qualquer coisa que não sei explicar. Talvez as pessoas. Tem dois
espaços com músicas diferentes. Paga-se para entrar.
Braga está bem e recomenda-se. Acho que começamos a voltar
aos saudosos finais dos anos 80 em que Braga foi o centro da movida. O que vi,
surpreendeu-me pela positiva. Aproveitemos o momento!
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