terça-feira, 14 de abril de 2015

O terror das apresentações

Estou com uma dor de costas que não me dá descanso há vários dias. Dor de costas para mim é sinónimo de stress e de preocupação. Para além disso, estou com uma afta, como há muito não me lembrava. Mal como. Essa é a melhor parte. O poder de emagrecer sem querer e sem fazer nada para que tal aconteça. Vou dar uma aula. Uma coisa que detesto. É tipo Joana D’Arc à espera da morte na fogueira. Contagem decrescente. Tudo em função daquele momento. E como os grandes profissionais, que se preparam, eu prefiro viver por antecipação. Em vez de me preparar, antecipo cenários de terror. Nunca digo não e nunca. Muito menos a esta grande amiga.  Este ano, acrescenta-se uma variável pior: uma audiência de 80 alunos de Medicina. Todos inteligentes. Ou pelo menos, com notas altas. Ou com autoconfiança. Numa emblemática Universidade de Lisboa: a NOVA. No célebre edifício do Mártires da Pátria. O berço da Escola-Médico Cirúrgica de Lisboa. Primeira Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa. As escadas, os quadros, os bustos, os anfiteatros, a altura do edifício, tudo é grande. E eu, que já sou pequena, pareço uma formiga. Pior do que isto, só se fosse em Coimbra.  Vá, pelo menos tenho a benção do Dr. Sousa Martins, beatificado pelos lisboetas, e praticante da caridade que me olha lá do alto da sua estátua envergando a toga de Doutor. Vejam a coincidência, ele terminou a tese de licenciatura com o trabalho “O Pneumogástrico Preside à Tonicidade da Fibra Muscular do Coração”. E é sobre isso que vou falar: do coração e da regeneração cardíaca.

Em vez de preparar a apresentação, o discurso e a aula, evito. Como se isso resolvesse alguma coisa. Como se ajudasse, adio. Atitude inteligente, não é? Pior do que isto seria desaparecer ou não aparecer. Timidez tenho que baste, mas vergonha de fazer um disparate desses é o balanço que me obriga a erguer a cabeça. A morrer sim, de medo, mas de pé como as árvores. E como se não bastasse, ainda mais o medo de andar de avião. Enjoo no comboio (ou em quase todos os meios de transporte). Devo ser a única pessoa no mundo que enjoa a conduzir. Como não consigo fazer nada nas três horas de viagem, decidi-me pelo avião. Nada mais sensato, pois claro. Entre o enjoo e o medo vá o diabo e escolha. Pelo menos só são 40 minutos de puro pavor. Como são só 40 minutos, nada de beber. Então toca a encarar esta de frente, sóbria, limpa, aterrorizada. Mas depois lembro-me de Lisboa. A cidade que eu mais gosto no mundo. Só isso anima-me. E isso é quase tudo.

Como se escrever exorcizasse os medos. Em vez de preparar a apresentação, escrevo este texto. Adio sempre decisões importantes. E mais uma vez não toco nos slides. Faço tudo o que não me apetece, como no tempo em que estudava (pouco). Nunca tive a casa tão arrumada. Nunca tive as gavetas tão arrumadas. Nunca tive a secretária tão arrumada. Como diz uma amiga: “secretária arrumada, cabeça desarrumada”. Vá, riam-se. Porque eu rio para não chorar. E como me disseram ainda hoje, eu vivo (quase sempre) a sorrir. Mesmo que nem sempre tenha motivos para o fazer. E acredito cada vez mais na frase “é melhor ser alegre que ser triste”.


Sem comentários:

Enviar um comentário

facebook