terça-feira, 21 de abril de 2015

Os 6 anos do afilhado

Braga, 18 de Abril de 2015

Há 6 anos nascia o afilhado. A um sábado, precisamente. Ainda tem os dentes todos de leite. Só um abana e ameaça cair. Madrugou, como sempre. E veio para a minha cama, como quase sempre. Dou-lhe os parabéns e cubro-o de beijos. Ficamos deitados. Explica-me porque não foi ontem buscar-me ao aeroporto. Beijos e muitos abraços.  Primeiro pedido do dia: pequeno-almoço. O costume. Copo de leite com o desenho de uma guitarra de blues de Beale Street trazida directamente de Memphis. Duas colheres de chocolate medidas por ele. Apesar do cuidado, a mão atraiçoa-o sempre, e parte do pó de chocolate suja a mesa. Como sempre, avisa-me e eu como sempre passo-lhe um papel. Vamos abrir o presente. Exactamente o que ele me pediu: um jipe da policia com um barco num reboque da Playmobil. Ainda não entendi as escolhas do meu afilhado. Visivelmente, tal como eu, não tem jeito para coisas de montar e desmontar. Não tem jeito para legos, nem para Playmobil, nem para puzzles, nem para nada que se relacione com isso. Por qualquer motivo que eu desconheço, continua a fazer as mesmas escolhas ao longo dos anos. O que ele gosta é de carros e de motas e de camiões do lixo e de máquinas escavadoras. E de jogos de futebol. E de tablets. Como ele sabe que eu não aprovo jogos no tablet nem na tv, talvez me queira agradar. Está notoriamente contente mas não é por montar nada nem com os pormenores tão pequenos da Playmobil. Está fascinado sim com o jipe e com o barco que são razoavelmente grandes. O seu passatempo preferido nos últimos tempos é escrever. E é vê-lo a preencher cadernos e cadernos com as escritas dele. Coisas que só ele percebe e  algumas que percebemos todos. Anda sempre com um caderno e com uma esferográfica debaixo do braço. Para onde quer que vá. O outro passatempo é escrever e desenhar nas paredes da cozinha! Já quase não há espaço livre tal o tamanho da sua obra. Aquilo já não são paredes. Mais parecem murais. O meu afilhado não gosta de quase nada. Há pouca coisa que goste de comer. Tem mau feitio. O que ele mais gosta é Coca-cola, apesar de lhe ser praticamente proibida. Gosta muito da Bu. Ao contrário do irmão que a trata com muito cuidado, e é o símbolo da meiguice, o afilhado trata-a como companheira das brincadeiras. Carrega-a para todo o lado mesmo que isso seja um processo quase impossível. Tem um fascínio pelo Homem-aranha. E vive na ilusão que eu o conheço e que é real. Quando era mais pequeno adorava que lhe lesse histórias. Agora gosta menos, só quando vai para a cama. Adora cantar. E adora hinos de futebol, principalmente os do Benfica. Adora bolas e jogar futebol. Já assina o nome e depois coloca por baixo “afilhado”. Tem um riso lindo. E uns abraços fortes. Insiste que um dia é ele que pega em mim. Teve a festa que quis. Com os amigos que escolheu. A festa acabou no dia seguinte e excepcionalmente deitou-se no mesmo dia que acordou. 


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