Esta fotografia é a imagem do Brasil, ou a imagem errada que
o Brasil passa para o exterior (através das telenovelas). O estereótipo
capitalista da elite dos cariocas da zona sul. Ou a alta burguesia dos
paulistas das zonas nobres. Há muito que não vejo uma novela brasileira. Não me
lembro da última que vi. Mas eu lembro-me de quando era pequena achar que toda
a gente era rica no Brasil: pequenos-almoços sumptuosos, boas roupas, bons carros, mansões,
piscinas...). Aquele era, evidentemente, um Brasil caricatural.
Anos mais tarde, comecei a ver o ridículo
da elite possidónia brasileira passear por NY com carrinhos de bebés e as suas
babás vestidas de branco atrás, tal e qual como nesta foto. O dinheiro compra tudo no Brasil mas não deve,
evidentemente, comprar a educação e o respeito pelas pessoas. A imagem actual
(provavelmente errada) que eu tenho no Brasil é de uma elite endinheirada,
loira, cabelos penteados de cabeleireiro, mas que não fala inglês (e por isso
grita na expectativa absurda que alguém perceberá, como se o problema fosse a
surdez...) que tem dinheiro para viajar para NY e achar que o dinheiro compra
tudo. No aeroporto e nas ruas de NY reconheço as brasileiras ao longe.
O que tem de errado na fotografia é a estratificação social
gritante que existe no Brasil. A elite branca, rica, em forma (e só olhar para
os gémeos do casal) que vai à “passeata” contra a corrupção e usa a t-shirt
brasileira da CFB ( talvez uma das mais corruptas instituições brasileiras). Como
se não bastasse, a babá vai vestida de branco (como sempre) para se saber que
não é da família. A babá poderá até ganhar muito dinheiro e até ganhar horas
extraordinárias. Mas colocar-se no meio da manifestação, concordando ou não,
não é no mínimo discutível? E o casal de patrões, o que fazia que ocupasse
tanto, que não podia empurrar o carrinho de bebés que fosse necessária a
presença de uma babá?
Eu só coloco esta questão: quais os países democráticos no
mundo constroem (ainda) apartamentos que contemplam elevador de serviço, área
de serviço dentro do apartamento e quarto da empregada?! Aliás, eu na minha
ignorância, quando em SP me falaram em “área de serviço” num apartamento eu
tive que pedir para me explicarem... E não venham com a história da escravidão
e que os hábitos culturais demoram gerações e gerações a mudar. Tudo isto
existia em Portugal antes da revolução de Abril. E hoje, felizmente, passados
pouco mais de quarenta anos, os pobres e os ricos não se distinguem na rua. Quem nasceu numa determinada classe social tanto pode ascender como descer,
de acordo com o talento e trabalho (talvez na política isto ainda não seja
verdade).
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