Há umas semanas deu uma grande entrevista ao Expresso muito diferente daquilo que o
apelidam. Sincero, demorado, descritivo.
Não vi a gala da SPA na RTP. Cheguei ao vídeo do discurso pela
Fernanda Mira Barros. No agradecimento do prémio da SPA Vida e Obra não parece o grande escritor. Parece pequenino. e
(ainda) mais velho. O tempo não o tem poupado. Apesar disso, parece um menino
grande. Tímido. Tom de voz muito baixo. Agradeceu emocionado ao Presidente da
República que lhe lhe enviou um bilhete sobre um livro que tinha saído.
Congratulou-se por termos um Ministro da Cultura que é um grande poeta. Disse
que escrever foi o que sempre lhe deu sentido à vida. E falou do Senhor Barata que
tem um cancro e ao qual prometeu dizer “adeus”. “Livre-se de não vencer essa
puta!”.
Este é a pessoa que tive a honra de conhecer. O maior
escritor vivo. A maior parte das vezes quando conhecemos os génios ou os nossos ídolos temos a tendência para nos sentirmos defraudados. O António é o contrário: perde tempo
com os seus leitores, é um grande ouvinte (apesar de ser “surdo como uma
porta”, como ele diz), terno, meigo, tem uma voz linda, pausada, sorri muito,
agradece na mesma proporção e adora NY.
Gosta de Jorge Amado, mais do homem do que do escritor, e
pergunta quem é que o lê hoje. Eu! Eu adoro Jorge Amado. Parece sempre um
menino grande que teve falta de amor e afecto. O menino prodígio que tem uma
memória de elefante, que aprendeu a ler com 4 anos mas que se recusou durante três anos a decorar 5400 g de Anatomia, embora tendo uma memória prodigiosa. Nunca deixou de ser um menino tímido “que se
virava para a parede” para não enfrentar as pessoas. Costuma dizer que era
muito bonito e que agora é um monstro. Detesta levantar-se cedo. Tem uma vida
monástica. Preparou-se a vida inteira para o talento que sempre teve: escrever.
Ainda hoje escreve com um livro grande aberto (dos tempos em que fingia que
estava a estudar enquanto escrevia).
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