quinta-feira, 9 de novembro de 2017

A minha lista de música, hoje

 “Canção do engate”, António Variações. A minha mãe deve ser uma das maiores fãs do António Variações.  Lembro-me do dia da morte dele, no dia 13 de Junho, dia de Santo António. Tinha 5 anos. Acho que foi a primeira vez que soube o significado de morte: nunca mais voltar, para sempre. E a minha pergunta foi: “Como morreu se está a a cantar?”. Admito muito a história de vida deste homem. Um rural de uma aldeia recôndita perto de Braga, chamada Fiscal. Um incompreendido, um excêntrico, um ET que nasceu antes do tempo e numa terra onde não o entendiam. Um menino da província que não aceitou a sua sorte de ser marceneiro “e andar todo sujo, de ter uma vida normal, casar com uma mulher e ter filhos”. Era, também, homossexual e uma uma das primeiras figuras públicas a morrer de SIDA e que a família,  até hoje 33 anos depois da sua morte, insiste em ocultar e/ou desmentir.

“The man who sold the world”, David Bowie. Podia ser qualquer uma do Bowie mas esta é também uma das versões dos Nirvana que foi outra das bandas da minha adolescência.

“It´s no good”, Depeche Mode e “Sub-16”, GNR .Não sei como é que os CDs ainda existem. Foram os que mais ouvi na minha pré/adolescência.

“Miracle of love”, Eurythmics e “Whiter shade of pale”, Annie Lenox.  É a imagem do fecho das matinees no Club 84 em Braga com aquelas bolas gigantes das discotecas nos anos 80/90.

 “Vapor barato”, Gal Costa com Zeca Baleiro. A letra é de Wally Salomão. Consta-se que Wally Salomão disse a Gal (que acrescentou “Graças a Deus”que não estava no poema): “Gal, dinheiro não rima com Deus”.


"Neighborhood #2 (Laika), Arcade Fire. A primeira vez que os vi em palco, com as cabeças cobertas com capacetes a servirem de bateria, nunca esquecerei.

“The greatest”, Cat Power. Esta música foi-me enviada de madrugada por uma das minhas grandes amigas numa altura que eu estava a panicar para uma apresentação oral que faria em Memphis. (Ainda) achava que havia coisas (profissionais)  pelas quais valia a pena chorar. Hoje não acho. Mas esta música ficou-me para sempre. E ainda hoje a ouço quando preciso de força.

“Fix you”, Coldplay. Num hotel em Shanghai com duas das minhas grandes amigas, no escuro do quarto, iluminado apenas pelas luzes da cidade a panicar antes de uma apresentação oral.


“True faith”, New Order. Ouvi-a muito quando era criança e depois levei-a comigo para Houston. A imagem desta música é o campus de Rice University a alta velocidade de bicicleta.

“Grito”, Amália. Uma pessoa com a 3ª classe foi capaz de escrever: “Sou sombra triste encostada a uma parede”. Eu sou daquelas pessoas que dizia que não gosta de Fado, gosta da Amália. Quando fui fazer o meu doutoramento para Houston uma das minhas playlists no ipod era Amália, que incluía a Amália da voz madura, que muitos acham a pior fase dela mas que para mim é que eu mais gosto.


“Unfinished sympathy”, Massive attack A primeira vez que ouvi esta música ao vivo, num dos maiores festivais de música dos Estados Unidos (Austin City Limits Festival), chorei copiosamente. Fui com um colega e mais quatro desconhecidos a esse festival. Foi dos fins de semana mais felizes da minha vida.  “How can I have a day without a night/ You’re the book the book that I have opened/ And now I´ve got to know I’ve got to know much more (…) The curiousness of your potential kiss/ Has got my mind and body aching (…) Like a soul without a mind/ In a body without a heart/ I’m missing every part”.


“Girl, you’ll be a woman soon”, Urge Overkill. Faz parte da banda sonora de um dos filmes que mais gosto do Tarantino. Nesta música é a voz.

“Tribulations”, LCD Soundsystem. Já fui muito feliz ao som desta música.

“Roads”, Portishead, “Into my arms”, Nick Cave e “Hope there’s someone”, Antony and Jonhsons. Quando quero “curtir uma fossa” e sangrar tudo é o que oiço. Depois, tudo passa.

 “Hung up”, Madonna. Foi-me oferecido num Natal. Perdi as vezes que ouvi o disco e as vezes que dancei esta música. “Time goes by so slowly for those who wait”

“Beijo sem” Adriana Calcanhotto. Hoje escolho esta, outro dia seria outra. Mas a música que mais gosto dela, apesar de a letra ser do Antonio Cicero, é “Inverno”. Qualquer lista que fizesse tinha que ter Adriana Calcanhotto. Não pela qualidade vocal. De facto, a voz dela não é o melhor. Interessa-me muito mais o que se aprende com as letras dela e onde nos leva. As descobertas que se fazem, tal como com o Caetano.

“Nessum Dorma”. Quando escrevo faço-o maioriatariamente em silêncio total. Nas raras excepções só consigo ouvir música clássica e ópera. Todas as óperas que assisti fi-lo porque conhecia as árias. E Nessum dorma que é o final de Turandot de Puccini, de todas as árias, é a minha favorita. 

“Oceano” na versão do Caetano. “Longe de ti  tudo parou/ Ninguém sabe o qu sofri/ Amar é seus deserto e seus temores”(...)”Vem me fazer feliz porque eu te amo” (...)“Esqueço que amar é quase uma dor só”.

“Cajuína”, Caetano Veloso. Caetano sempre. Tem uma música para qualquer estado de espírito. Para mim Caetano é o brasileiro. Pensa bem, escreve bem, fala bem, canta bem. Tanta qualidade num homem só. Podia ser qualquer outra mas hoje escolhi esta “Existirmos: a que será que se destina?” , uma versão da pergunta existencial de Heidegger. Convenhamos que um autor que é capaz de fazer uma canção com a pergunta das perguntas não é pouca coisa. A cena da canção remete para o encontro de Caetano Veloso com o pai de Toquato Neto (amigo e parceiro de Caetano na época da Tropicália que se suicidou no dia seguinte ao seu aniversário) em Teresina, capital do Piauí.

"La chanson d´Hélène", Mísia e Iggy Pop. Sou muito susceptível a vozes, para o bem e para o mal. Esta combinação de duas vozes, tão diferentes, o cantar e o dizer, a melodia e a língua francesa.

 “Hallelujah”, Rufus Wainwright. Apesar de o original ser do Leonard Cohen, prefiro a versão do  Rufus Wainwright. No ano passado fiquei chateada pelo prémio Nobel da Literatura ter sido atribuído ao Bob Dylan. Não por não lhe reconhecer valor literário, isso acho que tem muito. Mas acho que teria sido muito mais justo para o Leonard Cohen. (Mas eu tenho um problema de fundo com o Bob Dylan que é a voz. Não consigo, até hoje, ter aprendido a gostar da voz fanhosa, anasalada, com o sotaque arrastado do Minnesota).

“Lisboa que amanhece” Sérgio Godinho com Caetano Veloso. Um portuense escrever tão bem sobre Lisboa só pode ser amor: “..E já tudo pode ser/Tudo aquilo que parece/ Na Lisboa que amanhece/ O Tejo que reflecte o dia à solta...”. Prefiro a versão com o Caetano. Torna ainda a canção mais bonita. Existe cidade mais bonita no mundo?
“Deusa do amor”, Moreno +2. Depois dos livros de Jorge Amado, esta é a imagem que tenho da Bahia.
 “Perfect day”, Lou Reed Embora a história da canção não seja (tão só) um dia em NY é é esta a visão romântica de um dia de outono em NY.

“Dreamer”, Uh Huh Her. Descobri esta banda em NY que vi ao vivo e ouvi as músicas todas em contínuo durante meses.


“Consegui”, Arthur Nogueira com Fafá de Belém. Uma letra do António Cicero dedicada a Wally Salomão. Ouço em loop há semanas. 

Sem comentários:

Enviar um comentário

facebook