Morrem crianças de fome em África. Refugiados de todo o
Médio Oriente fogem para onde não tem saída. Vivem miseravelmente em campos (
dizem que temporários). Portugueses que ficaram sem nada nos incêndios. O mundo
anda ao contrário. A chuva teima em não cair.
A luz é de outono mas o calor é de verão. Nada combina. A noite chega mais
cedo. Os dias são mais tristes e menores. As castanhas são o pronúncio outonal
em “magoados fins de dia”.
É imune a (quase) tudo. Empedernece, cada dia, um pouco mais.
Será a distância da imagem? Tudo longe via televisão.
O que a devia incomodar, desvaloriza. O que devia
desvalorizar, derrota-a. Coisas insignificantes (ainda) a surpreendem. As noites são mais demoradas. Tem mais horas
que o comum dos mortais. Mas, infelizmente, “quem não dorme não sonha”.
À frente, no aeroporto,
vai um menino de óculos, chupeta e fralda, guiado pela mão da mãe. Estão
felizes, nota-se. Mas ela,
desfaz-se. Vai embora. Chegou o
inverno.
Pensou que estava curada, depois de ter vivido o inferno.
Mas o esgar da realidade (re)lembra-lhe como o castelo de cartas pode desabar
num segundo. Esta é a fronteira ténue do que parece estar bem. A tão escondida
fragilidade. Apesar de parecer impassível. O que é que fez com o pouco que
passou a nada? Dizem que tudo passa. Um princípio e um fim.
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