quarta-feira, 27 de dezembro de 2017

Orfãos

Numa mesa estão sentados Helen e Danny (Isabel Abreu e Tónan Quito). Parecem estar a celebrar alguma coisa. Entra Liam (Romeu Costa), irmão de Helen, coberto de sangue. Liam começa por contar uma história incongruente e depois percebemos que é muito pior. A descida ao inferno. A violência gratuita. O racismo. O preconceito. O acaso. A escolha entre o bem e o mal. A violência a troco de nada. As marcas profundas da infância. Família. Valores. O que faremos nós perante situações limite? Até onde estaremos dispostos a ir? Há limites para defender os nossos? O limite do amor. Desilusão.

Este jantar, dividido em quatro actos, que se separam com luzes psicadélicas e um som ensurdecedor a lembrar o filme “Irreversible” . Descobrimos nesta hora e quarenta segredos, omissões, mentiras, encobrimentos de quem se ama. Qual a fronteira ética e moral? O que são os valores? O que uns fazem pelos outros, o que têm que mostrar para serem aceites e não se desiludirem. Até onde se pode ir? Onde está o limite?

Poderíamos reduzir Liam como psicopata, Helen como má que faz de tudo para proteger o irmão e Danny como o bom, cheio de valores. Mas perceberemos que nada é estático e que o mundo não se divide entre bons e maus. Tudo muda, de repente.

Saímos a pensar no que, por amor, seremos capazes de fazer por alguém.Até que ponto estamos dispostos a ir para proteger ou salvar outra pessoa? Mesmo que não haja salvação possível nem do que fugir.  

Encenação de Tiago Guedes
Texto de Dennis Kelly.
Tradução de Francisco Frazão.





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