sexta-feira, 11 de maio de 2012

A saga do PCR...

Ontem foi das poucas vezes em muito tempo que saí do lab ainda com luz do dia. A maioria dos dias nem sei se faz calor ou frio... Estas células são daquelas especiais, têm que ser acarinhadas e bem tratadas e mesmo assim não se comportam, na maioria das vezes, como eu queria. O mistério destas coisas é fascinante... como é que se retira células do seu ambiente in vivo e são capazes de simular o batimento cardíaco in vitro? Também nunca acreditei que conseguia tirar um curso e muito menos o Doutoramento. Ainda hoje acordo assustada a não saber onde estou e a pensar que tenho Química Analitíca por fazer... Ah?

Mas agora começou a parte melhor (para mim a pior!!!): PCR!!!. Depois da saga de construir os primers começa a parte da quantificação de RNA, cDNA, PCR... essas coisas todas com siglas e letras que para mim é uma maravilha... eu que não decoro nomes vou decorar siglas... ok! Podem gozar!!!  Ah e lembro-me do inventor do PCR e Nobel da Química Kary Mullis que é um surfista, que vive em La Jolla, perto de San Diego e quando era novo sintetizava ácido lisérgico (aka LSD) para consumo próprio... Quando estive lá ainda não tinha lido a biografia dele "Dancing Naked in the Mind Field". Só com esta idade e depois de um doutoramento é que começo a aprender na prática a técnica de PCR. Claro que me lembro vagamente das aulas práticas, já não sei em quais cadeiras... Passava mais tempo preocupada com a minha equipa das cartas. E lembro-me sempre daquelas perguntas idiotas que colocava ainda há pouco tempo à Marilu: "Como é que é fisicamente?"... Sei agora que os primers vêm liofilizados e que não precisam de estar no congelador/frigorífico. Hoje quando cheguei ao meu gabinete ia tendo um ataque cardíaco porque vi os primers em cima da minha secretária... Lá me explicaram que só depois de preparar as soluções é que precisam de refrigeração. Foi uma alegria enorme ver aqueles tubos minúsculos que têm uns pozinhos imperceptíveis aos meus olhos cada vez mais ceguetas!! Depois da discussão que demorou uma semana com os representantes da Invitrogen! Acho que nunca liguei tanto para ninguém e nunca me ligaram tanto! Repetiram 4 vezes o controlo de qualidade dos primers e só na última passaram... Eu só perguntava se a culpa era minha... Tanta letra... Podia ter-me enganado numa... Pronto, eu sei que não são letras são pb!!! Ui, mas isto já a história vai a meio porque a verdadeira dor de cabeça começou na construção dos primers. Só nomes lindos: NCBI, gene ID, Ensemble, Gene bank, Blast... Fora a cabeça em água que deixei algumas pessoas!!! Pronto, eu reconheço que os meus amigos nunca me abandonam e estão sempre disponíveis quando preciso deles! Está bem assim? Chega?

Ontem comecei a extracção de RNA. Uma sensação espectacular. Para mim talvez semelhante ao medo de andar de avião. Sempre cheia de medo de contaminar o raio das amostras, sempre a querer lavar as mãos com RNA zap. Isto faz-me lembrar alguém que viciava os alunos a estar sempre com as mãos molhadas em 70% etanol...Parece que o TOC me atacou! Passei o dia com dor de estômago. Mas a melhor parte do dia foi quando tinha que reconhecer o pellet no fundo dos tubos!!! Nem com óculos lá chegava! E ainda me diziam  que era grande. Aquilo nem uma caganita de mosca era!

Hoje fui quantificar o RNA. Outra vez TOC. Limpar, limpar, limpar! Estou a ficar obsessiva e ainda vou no segundo dia!!! Almocei às 6 da tarde. Jantei à meia-noite. Que tal? Para saber que a qualidade do meu RNA é uma merda!!! O L. percebeu à distância que eu estava inquieta... era esta a palavra?

Fica aqui um vídeo que a C. me mostrou há uns anos nem sei qual a razão porque na altura não fazia PCR e não me imaginava a fazer!!!! Riam-se:

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