quinta-feira, 24 de maio de 2012

Sempre Susan – a memoir of Susan Sontag by Sigrid Nunez


Estou a escrever este texto há meses. Demoro imenso. Começo, recomeço, apago, deixo... Decantar e repousar. O simples tão difícil... Tive contacto com a obra da Susan Sontag através das crónicas da Clara Ferreira Alves no “Expresso”. Aliás, quase todos os escritores americanos que adoro conheci-os por intermédio da Clara. Lembro-me perfeitamente de uma crónica, em particular, publicada na semana da sua morte. Isto em 2003. A partir dessa altura comecei a ler alguns livros dela. Desde que estou em NY passei a ler tudo o que encontro sobre elea, biografias, na sua maioria. Há uns anos que tudo o que leio são biografias. Nada mais actual que publicar este texto sobre Susan Sontag a poucos dias da atribuição do prémio de tradução em Língua portuguesa pela sua Fundação (Susan Sontag Foundation) no dia 1 de Junho.
Li o livro “Sempre  Susan – a memoir of Susan Sontag by Sigrid Nunez”  no ano passado.
Sigrid Nunez é autora de 6 livros com boas críticas que descreve Sontag como mentora, amiga e uma inspiração.  Em 1974, depois de ter estudado no Barnard College, estava a frequentar o MFA em Columbia University na tentativa de escrever ficção enquanto arranjou um emprego a ajudar Sontag com a correspondência. Sontag, nessa altura, vivia no último andar na 106th Street com a Riverside Drive com o filho Davied Rieff de 24 anos que estudava em Princeton mas passava a maior parte do tempo em NY. Sigrid começou a andar com David e em pouco tempo mudou-se para a casa deles. Sigrid explica que o título é italiano e que evoca o facto de toda a gente tratar e referir-se a Susan Sontag pelo primeiro nome. Mas ela não explica porque escolheu o título em italiano.
Muito pouco é explicado e descrito neste livro pequeníssimo mas ficamos a perceber o essencial de Susan Sontag. Muitas das passagens parecem lembranças que ela anotou em pequenos cartões e juntou-os sem nenhuma ordem particular.
Susan Sontag  parece ter carregado um trauma de infância pelo egoísmo da mãe pela pouca atenção que lhe dava. Era uma mãe fria, egoísta, narcisista que nunca mostrou afecto pela filha, que nunca reparou que tinha uma filha especial. É descrito também no livro Fala os ataques de asma que Susan tinha em criança e que por esse motivo mudaram-se de NY para Tucson (Arizona) depois de uma estadia breve em Miami. Fala também que Susan bebia um copo de sangue diariamente que a mãe trazia do talho. Aos 3 já lia, aos 8 lia Shakespeare, aos quinze anos o director do liceu chamou-a e disse-lhe: “a menina só está a perder tempo aqui, vamos já dar-lhe o diploma para poder ir para a universidade”. Sontag ingressou imediatamente na universidade e aos 17 casou-se. Nunca perdeu tempo.
Uma das frases de Susan Sontag mais repetia era: “I want two things: I want to work and I want to have fun”
Ela era tão “new yorker”,era tão a imagem que eu tinha das pessoas que viviam em NY: cosmopolitas, intelectuais, modernas. Na opinião de Sigrid Nunez ela era tão “New York” pela sua energia e ambição, no “poder fazer”, espírito de conseguir tudo o que queria, e na convicção do seu excepcionalismo no poder da sua própria escrita, na sua própria criação, no seu poder de renancer, nas possibilidades infindáveis de novas oportunidades. Ela considerava-se uma “beauty freak”. Ela considerava a arte superior à natureza e as cidades muito mais importantes do que os países. Não havia para ela melhor cidade do que NYC (Manhattan) que ela considerava a a capital do século XX.
Susan Sontag recusava-se a ter carteira/bolsa. Não conseguia perceber a ligação das mulheres a esse acessório. Não usava maquilhagem, pintava o cabelo mas deixava aquela madeixa branca tão característica. Usava água de colónia para homem: Dior Homme. Preocupava-se com o peso que oscilava consoante a fase de escrita em que se encontrava, que influenciava também o quanto fumava, o que significava, se fosse muito, que estava também a tomar anfetaminas. Mas adorava comer. Nunca foi adepta de exercício físico, mas adorava andar, quando o tempo começava a aquecer. Ela usava muito preto, que não era a cor que lhe ficava melhor. Achava que Virgínia Woolf era um génio. Não gostava de fazer nada sozinha. Adorava comprar cadernos, canetas e lápis. Sempre adorou viajar. Viajar, para ela, entre outras coisas, era um antídoto para a depressão.
Susan Nunez diz no livro que por causa de Susan Sontag começou a ler rápido e começou a escrever o nome em cada livro novo e que usava um lápis (nunca uma caneta ou esferográfica) para sublinhar. Susan Sontag costumava dizer que se não tivesse sido escritora teria sido médica. Sempre adorou sair (frequentou muito o Studio 54) mas gostava também de receber pessoas em casa.   Dormia muito pouco, o menos possível. Adorava cinema e opera. Quanto mais velha ficava, preferia a amizade e socializar com pessoas mais novas. E gostava também de ir a sítios e fazer coisas associadas com a juventude. Ela era muito física, gostava de ser tocada e de tocar. Era muito fácil de se conversar com ela e se ser confessional. Adorava conversar, quanto mais intimamente melhor.
Ela dizia que poderíamos saber como eram as pessoas pelos livros que liam.  Susan Nunez diz que nessa altura Susan Sontag tinha aproximadamente 6000 livros em casa. Descreve no livro que por influência de Susan começou a organizar os próprios livros por assunto e cronologicamente em vez de ordem alfabética. Susan Sontag chegava sempre atrasada aos encontros marcados e dizia sempre que por essa razão todas as pessoas deviam ter consigo livros (para passar o tempo). Só era pontual para apanhar um vôo ou para a ópera.
Foi enterrada em Paris no mesmo cemitério que Beckett.


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