Há uns anos tudo me afastava de Guterres. Mas lembro-me do
poder mobilizador daquele homem. Nunca fui socialista nem sou, até hoje. Lembro-me
como se fosse hoje, do ano de eleições para o governo da Republica. Eu gostava
muito de política no ano de 1995. Foi o ano que Cavaco apoiara Fernando Nogueira,
tendo como adversário António Guterres. Nesse ano, Fernando Nogueira terminou
para a política, nunca mais se falou dele. E tinha um gigante da oratória como
adversário. Era visível, já naquele tempo, o talento de Guterres. Foi quase uma
batalha desigual. Guterres era mobilizador, tinha o poder da palavra e
recordo-me dos seus comícios ao som de Vangelis. Guterres teve uma maioria absolutíssima
e uma menos expressiva no segundo mandato. E, depois como todos sabem,
abandonava com a célebre frase do “pântano” quando o PS teve uma derrota esmagadora
nas eleições municipais. Mesmo ao fim de muitos anos, ainda me recordo destes
acontecimentos, como se fossem hoje. A dignidade de se sair de cabeça erguida e
de pé. Políticos assim há (muito) poucos. Homens que ganham quando ganham e que
sabem perder. Como dizia alguém há uns dias é sobretudo “um homem bom”. Depois
de se ser um bom profissional, ter uma vida boa, o que nos faz diferentes, de
facto? O que marca a nossa vida e o nosso nome? Ser bom. Acho que isso faz toda
a diferença. Não importa a ideologia, importa os valores que se tem. E este
homem é unânime por isso.
Nos últimos tempos assistimos às jogadas de bastidores que
mostravam que a batota poderia ser uma forma de ganhar. Felizmente, acabo de
saber que este homem discreto, com um percurso irrepreensível até à sua eleição,
acaba por vencer. Este homem que teve a coragem, quando mais ninguém parecia
te-la, de dizer ao mundo como era possível ver-se morrer tantas pessoas que
fugiam da guerra na Síria. Sei que Guterres não vai mudar o mundo. Mas tenho a
certeza, pelo homem que é, pelos valores que tem que tudo fará e que não ficará
indiferente perante a tragédia.
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