O meu problema com o Bob Dylan é quase o mesmo que os outros galardoados
com o Nobel da Literatura. Não o conheço (bem). Sei que é um grande (e
conhecido cantor, para muitos) e um grande compositor. Não sei apreciar a sua qualidade
musical. Mas sei dizer que detesto a voz fanhosa e aguda dele com aquele
sotaque do sul (Minnesota). Aquele ar superior, de estar a “cagar-se para o
mundo”, enerva-me. E achei espectacular o facto de ele não ter falado (ainda)
com a Academia Sueca. Ele não rejeitou o galardão. Pura e simplesmente
ignorou-o, que é muito pior. A justificação da Academia Sueca para atribuir o
Nobel da Literaura a Bob Dylan baseou-se no facto de ele “ter criado um novo modo de expressão poética na grande
tradição da música americana”.
A minha questão é mais: Não
havia quem mais merecesse nessa categoria. A tradição de premiarem poetas é
quase inexistente. Se a ideia foi premiar “escritores de letras de músicas”
acho muito bem. Não distingo poetas de “escritores de letras de músicas”.
Retiremos a melodia desses poemas e veremos que o poema resisterá sem música e
será igualmente grande. Mas nessa categoria podemos questionar-nos: Vinícius de
Moraes não mereceria muito mais? Um grande poeta que escreveu músicas extraodinárias.
Um menino que sonhava ser poeta. Nunca sonhou ser outra coisa. Foi um dos
grandes percursores de um revolucionário estilo musical: a bossa nova. Ok, mas
está morto e a Academia não premeia mortos. O mesmo poder-se-á dizer sobre
David Bowie. Mas, e sobre Leonard Cohen ou Patti Smith? Esta pergunta não tem
resposta certa. Gosto, apenas, da pergunta. Serve, apenas, para pensar.
A coisa mais improvável que
me aconteceu em relação ao Bob Dylan foi que conheci primeiro quem era Dylan
Thomas antes do Bob Dylan... E eu gosto tanto do Dylan Thomas que até já fui a
todos os loscais e ruas que ele frequentou em NY. As únicas duas músicas que
coheço de Bob Dylan são. “Knocking
on heaven’s door” e “Mr tamborine man”. A primeira um hit da minha
geração popularizada pelos Guns N’ Roses.
Depois, outra coisa, o
mercado livreiro está de tão boa saúde que atribuir o prémio de literatura a
alguém que vive da música, parece-me injusto. Mas provavelmente eu não consigo
esboçar uma opinião neutra porque não gosto, especialmente, do Bob Dylan.
Alguém que nem o próprio nome assina...o tal “bardo romântico judeu do
Minnesota”, como escreveu Caetano Veloso.
Senhores, desculpem-me, mas
eu nunca fui de concordar com a maioria. Esta é a minha opinião. Não pretendo
convencer ninguém.
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