terça-feira, 3 de outubro de 2017

O momento que (se) foi

Partiram, juntos, rumo a coisas diferentes. Eram amigos há muitos anos. Ele ia atrás de um (possível) amor. Ela ia fazer-lhe companhia. Dias antes da partida envolvera-se com uma pessoa. Não tinha sido nada (relevante). (Talvez) uma promessa de (algum) futuro. Na penúltima noite, antes do regresso, saíram. Na hora de irem embora do bar, alguém (re)conheceu-lhes o idioma. Ele era alto, loiro, o fenótipo nórdico. O típico homem bibelot. Mas entendia e falava (mal) português. Estivera um ano no Brasil. O tal do português com açucar. Um encontro casual. Apenas isso. Um desconhecido. Falaram muito e trocaram números de telefone e a promessa de um encontro no que seria o último dia.

Abriu-se com um desconhecido. Contou-lhe tudo. Sem medo de ser julgada e de se expor. Dos medos às paixões. Das fobias aos deslumbramentos. Da vida à ficção. Do que era e do que gostaria que fosse.

Passaram a noite juntos. Na maior intimidade. Mas não houve sexo. Como se aproveita o tempo que resta? Como se eterniza o momento?

Há pessoas que escolhem culparem-se por não ter acontecido, por não terem tido coragem de deixar acontecer, outras escolhem deitar fora o mau, outras fazem por esquecer, outras reprimem-se, outras não se permitem que aconteça, outras em dias menos maus preferem acreditar que guardaram o bom. Nunca perder o momento é tudo. O que é o fado e o destino? Como se os finta?

O que poderia ter sido? A resposta que nunca será respondida. A (in)certeza do nada que (não) existe. O nada não existe na natureza.

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