As crianças entre os 3 e os 4 passam a vida a querer calçar
os sapatos dos adultos. Está a tentar aprender a apertar os atacadores mas não
se tem revelado tarefa fácil. As outras actividades do meu sobrinho mais
novo são as cartas e o dominó. Para além disso anda agora com a mania das
moedas e pede sempre para atirá-las ao ar como os árbitros fazem. Depois
esconde as moedas numa das mãos e está sempre a perguntar qual delas está
vazia. Esta semana desequilibrou-se e o evento vai ficar-lhe registado para
sempre na testa! Já diz que o "dodoi" é grande mas que mudou para um penso
pequenino.
terça-feira, 30 de abril de 2013
segunda-feira, 29 de abril de 2013
Ainda a licenciatura de Sócrates
No Público de hoje:
“O antigo vice-reitor da
Universidade Independente (UnI) Rui Verde encontra semelhanças entre os casos
das licenciaturas de Miguel Relvas e José Sócrates e pediu a declaração de
nulidade do curso do antigo primeiro-ministro, em nome do princípio da igualdade
(...) Verde lembra também a avaliação na disciplina de Inglês Técnico,
que foi feita por um professor que não era o da disciplina e da qual não existe
enunciado. Além disso, a pauta de Sócrates “é totalmente diferente das outras”.
O terceiro motivo apontado prende-se com a inexistência do projecto final de
curso, obrigatório para a conclusão de licenciatura”.
sexta-feira, 26 de abril de 2013
Mário Soares, o visionário
Este senhor foi o mesmo que há uns anos, sem qualquer noção do ridículo se auto-proclamou candidato presidencial do seu partido contra o outro camarada, Manuel Alegre. Nesse ano teve uma derrota que o devia ter enchido de vergonha.... Mas pelos vistos não...
E há ainda quem lhe dê tempo de antena. Nunca simpatizei com este homem. Ainda me lembro nitidamente,
apesar da minha memória ser semelhante à de um peixe, da campanha presidencial
Soares vs Freitas do Amaral. Andava na primária e ouvia “Soares é fixe”. O que
me irrita nele é que viveu a vida toda à custa da política, foi o Presidente português
que mais viagens fez. Depois, segundo as biografias mais ou menos autorizadas,
descrevem-no como um bon vivant e um homem de várias mulheres. Para além de lhe
ficar muito bem, como homem de família, dá uma credibilidade desgraçada ao seu
conceituado casamento com a Maria Barroso. Depois o tão badalado acidente do
filho, que fez a sua mulher reconverter-se ao catolicismo, nunca se soube
muito. Nunca se explorou essas ambíguas relações com Angola e se isso tinha
alguma relação directa com o seu enriquecimento pessoal. Não percebo também,
como a sua própria Fundação, que só serve para os seus proveitos pessoais e
para o da família próxima, continua com o apoio do governo português. Foram tão
céleres a extinguir a Fundação Paula Rego mas continuam a patrocinar a Fundação
Mário Soares...
Este senhor, de
fraca memória, deve ter-se esquecido que foi o governo dele nos anos 80 que
pediu ajuda externa para Portugal não cair na banca rota. E foi 20 anos depois, o mesmo partido a que ele pertence, que voltou a pedir ajuda financeira. O que
me deixa boquiaberta não é a entrevista, mas onde esta foi publicada, num dos
mais importantes jornais brasileiros. Este senhor mostra que vergonha na cara é
coisa que ele não tem. Uma das coisas que ele afirma é que “Nunca houve tanto desemprego, tanta pobreza, tanta
miséria ..”. Este senhor sabe por
acaso o que é pobreza e miséria? Ou reparte a sua fortuna pessoal com alguém?
Ou a sua fundação é mecenas de alguém??
Mais à frente tem a brilhante afirmação “Eu sou partidário da tese da
Argentina e também do Brasil que quando estavam nessa situação disseram: 'nós
não pagamos'....”. Este senhor está bom da cabeça? Não pagamos??? Isso é
solução? O partido do qual ele faz parte assinou um memorando e agora quer
recusar a pagar??
Mais
pérolas: “O Serviço Nacional de Saúde quase desapareceu, há gente que não vai
aos hospitais porque não tem dinheiro para pagar [as contrapartidas cobradas
conforme procedimento]. As universidades, como as de Lisboa, do Porto, de
Coimbra, Aveiro e do Minho, que eram reconhecidas pelo nível internacional,
hoje não têm dinheiro. Os professores são obrigados a sair e a emigrar”. Este
senhor esquece-se de dizer que independentemente de se ser um milionário ou um
indigente, caso se necessite em Portugal de assistência médica, paga-se 20 euros
por uma consulta e necessários exames complementares de diagnóstico. Também se
esqueceu de dizer que o atendimento num Centro de Saúde não ultrapassa os 5
euros. Este senhor já experimentou o sistema de saúde brasileiro ou americano, que quem é pobre morre mesmo?! Deduzo pelas palavras deste senhor, que as
universidades públicas que ele cita que são instituições credíveis e de
reputação internacional, deixaram de o ser por causa da crise...?
Mais
à frente afirma: “Um dos grandes objectivos da Revolução de 25 de abril foi
descolonizar...”. A história ainda vai mostrar como a descolonização foi tão
bem feita...
Para
quem tiver curiosidade, aqui fica o link da entrevista.
quarta-feira, 24 de abril de 2013
Os pais e os filhos
Hoje de manhã li um post
da Laurinda Alves que fala tão bem e tão claramente de um assunto que tenho
discutido com muita gente. Quem tem família, nomeadamente pais e avós, em algum
momento da vida já se questionou sobre isto. Numa época que se lê tantas
histórias nos jornais e ouvimos amigos a falar do que se passa nos hospitais,
este texto da Laurinda Alves é tão reconfortante:
“O MAIOR PRESENTE DA
VIDA? Poder ter os meus pais a morar comigo naquele que é seguramente o último
ciclo da vida deles, e podermos todos fazer esta escolha com liberdade e sem
aflições. Ou seja, sem ser em estado de emergência, estando eles ainda com
saúde e muita autonomia. Não concebo maior dádiva do que esta, e sei que muitos
filhos gostariam de poder fazer o mesmo com os seus pais, em vez de os
visitarem à pressa na vertigem dos dias ou, pior, de os irem ver ao hospital ou
a um lar de onde é impossível não sairmos sempre meio desolados. Confesso que o
testemunho que os meus próprios pais deram, quando trouxeram os meus avós para
nossa casa, me marcou para o resto da vida. A minha querida-adorada avó
Laurinda morreu na sua cama, no seu quarto, em nossa casa, rodeada por toda a
família alargada e numerosa. Não consigo imaginar uma morte mais tranquila.
Deus queira que este nosso ciclo familiar ainda seja longo e feliz, mas há
muitos anos que sonhava com isto. Comove-me a realização deste sonho e se há
pais que merecem este suplemento de alegria e ternura, são pais como os meus. E
há muitos como eles, felizmente. Amanhã, depois e depois estamos em mudanças.
Muito cansativo, mas muito bom."
terça-feira, 23 de abril de 2013
Stories I only tell my friends
Na falta de inspiração e de tempo para escrever algo como deva ser, mas para manter a actividade deste blog, aqui vai uma coisa levezinha. O lançamento do livro do Rob Lowe em NYC há 2 anos, mais coisa menos coisa.
sexta-feira, 19 de abril de 2013
Olhos de onda @ Casa da Música
Como a própria Adriana diz nunca nada é igual todas as
noites. Apesar de ela cumprir um rigoroso alinhamento. Até as piadas obedecem a
um roteiro pré-definido. Tudo obedece estritamente a um guião como se de uma
peça teatral se tratasse. Adriana Calcanhotto é assim, tudo nela e nos seus
espectáculos é pura arte.Basta reparar na pontualidade, no cuidado do figurino,
nas luzes, e até na simplicidade do palco onde ela passa quase uma hora e meia.
No Porto, cidade que ela diz "estar no seu destino" (ela é quem sabe), cantou os já conhecidos poemas do Mário de Sá-Carneiro, O outro e Vislumbre. Seguiu-se
Eu vivo a sorrir: “pro caso de o destino me haver reservado
a alegria/ e o meu fado estar fadado a ser a sua sina”. Não parece tão
português?
A terceira foi Três,
dos irmãos António Cicero e Marina Lima, “ uma das tais que ela gostaria de ter
feito mas não fez”: “(...) Três/ eu quero tudo o que há/
o mundo e seu amor/ não quero ter que optar/ quero poder partir/ quero poder ficar/ poder fantasiar/ sem nexo e em qualquer lugar/ com seu sexo junto ao mar”.
Inverno,
escrita com António Cicero e que nunca falta nos concertos da Adriana, mais
referências ao destino, a saudade e ao mar: “...Lá mesmo esqueci/ Que
o destino/ Sempre me quis só/ no deserto sem saudade, sem remorso só/ Sem amarras, barco embriagado ao mar...”.
O
nome da cidade, a lindíssima canção que Caetano Veloso escreveu baseado num livro
de Clarice Lispector, A hora da Estrela.
Esta canção fala da chegada ao Rio de Janeiro da Macabé que é a personagem
central do livro.
A partir daqui começam os habituais
monólogos confessionais da Adriana: “Vocês podem perguntar o
que é que a próxima música tem a ver com Portugal e eu vou explicar. A Marisa
Monte faz de vez em quando um ‘amigo oculto’, um ‘amigo secreto’, isso tem um
nome diferente em cada lugar, enfim, é um sorteio...Ela fez o convite onde os
compositores faziam composições de um sorteio, do acaso. Ela me ligou
dizendo: “Traga uma melodia, uma
letra, um trecho, um refrão, uma
ideia...”. Eu levei o que eu tinha, uma melodia e no sorteio tirei o Dadi que é
um autor de melodias, não faz letras. Então eu fui embora e me esqueci do
assunto. Um tempo depois, algum tempo depois, eu esqueci logo porque a minha
memória é um poço sem fundo. Muito tempo depois, eu estava no camarim no
Coliseu de Lisboa pronta para entrar para fazer o espectáculo e me aviaram que
o Arnaldo Antunes estava na plateia: “ele quer falar com você porque
trouxe a letra da canção de vocês”. E eu
“A letra da nossa canção?!”. Isso tudo para dizer que nós concebemos essa
canção em Portugal, no camarim do Coliseu de Lisboa e o Dé Palmeira, meu
director musical, é que deu o título à canção: Para lá”.
Cantou também a inédita Olhos de onda que“batiza o alinhamento, qualquer que ele
seja, fiz enquanto ensaiava. Além de inaugurar nova safra, o que sempre é
motivo de alegria, a canção ajudou a dar o norte do recital. Constatei quando
essa canção nasceu que as outras já estavam também falando do que ela fala e da
língua portuguesa e do mar da língua e por aí vai”.
Olhos de onda
Ela parece comigo
Nalgumas coisas, doidas
Naquilo que crê não deixar transparecer
Ela parece comigo
Numas pequenas coisas
Gosta da lua cheia sobre a Lagoa
Porque será que ela tem os olhos de onda?
Porque será que ela tem medo de amar
Ela parece comigo
Nalgumas coisas, doidas
Naquilo que crê não deixar transparecer
Ela parece comigo
Numa porção de coisas
Gosta da lua inteira sobre Lisboa
Porque será que ela tem os olhos de onda?
Porque será que ela tem medo de amar?
Seu pensamento foi a seguinte. Para quem ainda tivesse
dúvidas que este concerto foi tão pensado para Portugal, como a própria
assumiu: “A uma hora dessas/ por onde andará seu pensamento/ Dará voltas na Terra/ ou no estacionamento? Onde
longe Londres Lisboa/ou na minha cama?...”.
As confissões
continuam com Motivos
reais banais: “ Essa é uma das minhas parcerias com o
Wally Salomão. Quando ele estava vivo nós trabalhavamos da seguinte forma: ele
mandava o poema e eu começava a musicar e aí ele ia fazendo uma modificações.
Modificações no vocabulário do Wally eram
apenas acréscimos, ele não fazia ideia o que eram cortes. Ele
acrescentava versos, mais 2 veros, mais 3 versos, mais 8 versos, mais
estrofes... e não havia como musicar e eu aí dizia “Parou aqui, tudo o mais que
você acrescentar você publica no seu livro. Este trecho, de um poema muito
extenso dele, eu fiz uma canção pequena que se chama Motivos reais banais.
A próxima canção foi um poema do Augusto de Campos “que é um poema
interactivo, para ser lido na tela do computador. E o Cid Campos, filho do
Augusto, musicou esse poema. O que ele diz nesse poema é que após 50 anos de
poesia concreta, ele está respondendo na verdade, aos detractores que disseram que ele com a poesia concreta ia
levar a poesia para um lugar sem saída, ia se encurralar, q a poesia ia se pôr
num beco sem saída. E ele fez esse poema lindo para dizer: “É isso mesmo”.
Por esta altura, alguém
do lado oposto da plateia gritou, também com o sotaque do outro lado do
Atlântico, “Adriana, você é a melhor!”, ao que ela respondeu envergonhada “Agora
você me desconcentrou”.
Seguiu-se Tua
popularizada por Maria Bethânia e Maldito
rádio que contou com um
colaborador, que ia mudando de estação de rádio e respectivas interferências.
Leva-nos à questão: O que é ou não música? O que é arte? O que é apenas barulho
que só polui?...
Devolva-me, não podia faltar mas faltou em Lisboa...
Cantou uma
desconhecida, que me apetecia ter tido coragem no fim do concerto, perguntar
qual o nome da canção com “você desperdiçou sexo do bom”.
Você não quis
Não deu valor
Que sendo amor de verdade
Desperdiçou sexo do bom
Meu próprio som, silêncio e outras raridades
Que faço eu?
Aonde vou?
Uma dor que me reparte
Aonde for
Para quem eu dou
A flor que em flor se debate?
....
Para terminar deixou as que toda a gente estava à
espera de ouvir: Esquadros, Mais feliz, Cantada e Vambora.
O primeiro encore foi com Fico assim sem você do seu alter-ego Partimpim e terminou com Maresia, trocou "um amor em cada porto”
por “um amor aqui no Porto” e onde soltou o cabelo e ventoinhas simulavam o
vento vindo do mar.
Depois de alguma insistência, La Calcanhotto voltou,
não devia estar à espera. O segundo encore parece não ter sido pensado. Ela
surge novamente no palco, um tanto ou quanto perdida, ao estilo de discos
pedidos: “O que vocês querem ouvir?” E terminou com Ela é carioca e Mentiras.
Olhos de onda @ Culturgest
No livrinho que nos deram à entrada tinha um texto da
Adriana:
“Adoro o palco da Culturgest.
Nunca vou esquecer do meu primeiro concerto em Lisboa, sozinha com minha
guitarra e uma audiência mágica, em Outubro de 2000. Na primeira noite caí de
amores pela cidade, e por Portugal, dentro dela. Naquela noite fiz amigos queridos
e é tudo nítido e intocado na minha memória, em geral bem turva. Naquela noite
entrei em Portugal, ou Portugal entrou em mim, vá lá, para sempre, a porta de
entrada sendo o convite da Culturgest, por António Pinto Ribeiro. Lembro que no
camarim, em um carrinho, haviam garrafas de guaraná do Brasil sem que ninguém
houvesse pedido e aquilo me comoveu logo antes de entrar em cena. Lembro também
de sentir mais frio do que imaginava. Lembro sobretudo do frio na barriga antes
de entrar no palco, que de algum jeito dura até hoje.
De modo que quando recebi o
convite para me apresentar no mesmo formato solo, nas comemorações de vinte
anos da casa, disse sim na mesma hora. Não tinha um concerto preparado, não
tocava há muito, não saberia se conseguiria e até aqui, sinceramente, não sei,
mas por isso mesmo. Andava doida para retomar a guitarra, portanto para
inventar um roteiro pensado para Portugal, para pegar a estrada, pela janela do
quarto, pela janela do carro, trancafiada em quartos de hotel enquanto Portugal
está lá fora, tocando compulsivamente para que o concerto seja lindo e
inesquecível como só em Portugal pode ser, enfim, o novo convite da Culturgest
era tudo o que mais eu podia querer no momento em que ele chegou. Depois pegar
a estrada seca, com Diogo ao volante, comer doces de ovos em Aveiro, partir
atrás de baleias açoreanas, ir ao Fado e acordar inchada na manhã seguinte para
dar entrevistas sem parar, me emocionar cantando meus poetas amados para as
pessoas, pensando bem, o que mais alguém poderia querer?(...) Fiz turnês
solo, pela Europa, toquei na África, no jardim das esculturas do MoMA, no
complexo do Alemão no Rio, em salas antigas, em salas míticas, em ginásios, em
espeluncas. Foi sempre assim, tomando e retomando, que convivemos, o
instrumento fora de moda no Brasil, e eu.
A retomada desta vez deve-se ao
fato de que precisei parar de tocar, o abandono desta vez foi obrigatório, por
conta de uma lesão chatinha na mão direita. Exatos um ano e seis meses sem
poder tocar sendo que no justo momento em que deveria sair em turnê com O micróbio do samba, punhado de
canções que compus e gravei, adivinhem, na guitarra. O óbvio, que seria então
não fazer os concertos do álbum, acabei não conseguindo, já que não tive
coragem de cancelar os três concertos portugueses agendados e eles acabaram
gerando o Micróbio
vivo e o resto é lenda.
No mais, como sempre digo, no
meu ofício quem comanda são as canções, e não me debato com isso. Gosto, aliás,
de ser levada por elas. Então nunca tenho a menor pretensão de ser coerente com
um alinhamento adiantado, adiantando que ando tocando aquelas das quais estava
com muitas saudades, algumas das quais havia até esquecido, algumas do micróbio do samba, algumas das quais
tenho inveja porque gostava de as ter escrito, algumas que escrevi mas foram
gravadas por outros artistas, poemas que musiquei, e alguma coisa nova que
ninguém é de ferro. Olhos de
onda, por exemplo, que batiza o alinhamento, qualquer que ele
seja, fiz enquanto ensaiava. Além de inaugurar nova safra, o que sempre é
motivo de alegria, a canção ajudou a dar o norte do recital. Constatei quando
essa canção nasceu que as outras já estavam também falando do que ela fala e da
língua portuguesa e do mar da língua e por aí vai.
De tudo um pouquinho, como a
receita da felicidade, deixando sempre aberto o espaço para poetas que me
apareçam e para novas canções que podem sempre me arrebatar mais perto da hora
ou que podem ser escritas no camarim, sacrificando para isso certezas absolutas
no repertório, tudo é possível, graças aos deuses.
Aqui estamos, eu, a guitarra e
algumas canções que adoro, nos reencontrando, como se fosse a primeira vez, nos
encontrando pela primeira vez quando é o caso, desejando viver mais uma noite
"daquelas", no palco querido da Culturgest, antes de por o pé na
estrada, enfim. Importante é que aquele frio na barriga antes de entrar no
palco sozinha com minha guitarra, permanece, se não aumentou e foi para isso
que vim”.
Quem escreve assim, como não
esperar o melhor?
Dizem que não há concerto como o primeiro. Começo a
acreditar que é verdade. A primeira vez
que vi a Adriana foi há muitos anos, em 2000 ou 2001 no dia 1 de Portugal (24
de Junho), em Guimarães. Estava um dia de calor que tudo parecia derreter. Eu
não conhecia o trabalho dela e fiquei a gostar nessa tarde e nessa noite. Tocou com o António Chaínho e mais um
violoncelista e um percurssionista. O concerto foi na Praça de Santiago e enche
para vê-la.
Hoje passados mais de 10 anos, a receita voltou a ser quase
a mesma. Entra elegantemente vestida de vestido azul petróleo a cobrir-lhe os
pés e cabelo preso. Achei o concerto melancólico ou eu é que estou “tão à flor
da pele que qualquer beijo de novela me faz chorar”. Apeteceu-me chorar várias vezes. Mas tinha um
gajo a ressonar ao meu lado, com a cabeça tombada quase a tocar-me no ombro.
Eu, a um metro de distância do palco, passei o tempo envergonhada porque achei
que a Adriana ouvisse e visse aquelas figuras.
O alinhamento do concerto, segundo a própria, foi escolhido
propositadamente para a estreia em Lisboa. Os dois poemas de Sá-Carneiro “O
outro” e “Vislumbre”, não podiam ser esquecidos. Cantou a novíssima “Olhos de
onda” que dá o nome ao espectáculo. Canta outra quase desconhecida “Maldito
rádio” com um “ajudante” a mudar de estação enquanto ela toca. Não se esqueceu
das mais conhecidas "Inverno", “Esquadros”, “Mais feliz”, “Vambora”. O encore terminou
triunfalmente ao som de “Fico assim sem você “ e “Maresia” (na qual ela solta o
cabelo e um ventilador simula o vento vindo do mar). A Adriana, com quase 48
anos mostra que é como o vinho do Porto.
Eu cortaria o cabelo....mas ela é quem sabe!
Copyright: Hiromi Konishi |
Copyright: Hiromi Konishi |
domingo, 14 de abril de 2013
Os sobrinhos
Desde que sou tia que tento explicar às pessoas que não o
são, a transformação que elas nos fazem.
Eu sou uma tia babada, não o escondo.
E os meus sobrinhos verdadeiros são dois rapazes. Muito diferentes um do
outro mas que têm a meiguice como uma das suas qualidades. Agora o mais novo
anda com um mealheiro “ambulante” (daqueles frascos de laboratório que nos dão
quando fazemos análises à urina). Segundo ele,
anda a ajudar-me a juntar dinheiro para comprar um carro novo de rodas
grandes!!! Depois, é sempre o mais entusiasta no que se refere a música. Anda
sempre com o tambor atrás e eu sou a cantora oficial. Quando quer dormir vem
munido de chupeta e de fralda e diz: “Titi, canta o cuco para toda a gente”. A canção do cuco era uma canção que a minha
mãe nos cantava antes de dormirmos : “Vai-te cuco/ vai-te cuco/ para cima
daquele telhado/deixa dormir o (a) menino (a)/ um soninho descansado. Quando o
meu sobrinho mais novo pede para cantar o cuco para toda a gente é para
substituir “o menino” por todos os nomes que ele conhece. Obviamente que quando
acabo de cantar as dezenas de nomes já ele vai no 5º sono...
O mais velho é viciado em ver “Mcqueen” de legos no youtube.
Se o deixassem não fazia mais nada. Mas sabe que só pode ver x minutos. Depois tem um peixe que ele escolheu que é
feio que dói. Escolheu-o para o avô e chamou-lhe F. O peixinho coitadinho é
mesmo feio. Tem uns olhos que parecem sair-lhe das órbitas. O meu sobrinho mais
velho tem 5 anos e já começou a ficar desdentado. Para já foi apenas um. Mas
não tardará, será o outro do lado.
Duas das minhas melhores amigas são mães ou serão este ano.
Fiquei felicíssima. Filhos (as) tão desejados (as) é uma maravilha! E a
transformação delas só pode ser para melhor. Porque as crianças fazem-nos
milagres! Venham elas!
sexta-feira, 12 de abril de 2013
Filadélfia
Já aqui falei de
várias pessoas que me salvaram a vida. A melhor homenagem que lhes podemos prestar é nunca esquece-las em qualquer circunstância. Hoje chegou a vez de falar de mais uma.
No meu último regresso a Houston, onde voltei para terminar experiências,
passados uns dias foi “varrido” pelo Ike. Mas antes disso, eu já tinha planeado
há muito a minha ida a Filadélfia e conhecer a cidade que eu sempre quis
conhecer e que iria finalmente concretizar o desejo. Em Outubro de 2008, a
minha estadia nos Estados Unidos terminou entre Filadélfia e NYC. Estes últimos
dias salvaram-me a vida. Eu que tinha passado 6
semanas em Houston sem luz, a dormir alternadamente entre o lab, casa de
amigos e hotéis, cheguei a Filadélfia outra pessoa. Eu queria tanto regressar a
casa que cheguei até a equacionar não ficar em Filadélfia e regressar directa.
Mas esta minha amiga convenceu-me que eu ia cometer o erro da minha vida se não
aproveitasse para conhecer Filadélfia e NY. Eu como raramente desisto de alguma
coisa, “paguei para ver”. Estes dias
foram tudo e muito mais. Mudaram a minha vida e fizeram-me olhar para o
futuro com optimismo. Gostei muito da
cidade. Totalmente diferente do que eu conhecia até aí. Nunca mais comi um
“black cod” tão bom como lá e nunca fui a um coreano com tanta qualidade! Para
não falar da ausência de impostos e dos outlets! Ah, e dos zipcars que a G.
alugava! Para mim Philly não é a música do Springsteen mas a do Neil Young:
"Sometimes I think that I know
And when I see the light
I know I'll be all right.
….
City of brotherly love
Place I call home
Don't turn your back on me
I don't want to be alone
Love lasts forever"
E quando conheci
Filadélfia, achei que foi melhor ter apenas conhecido depois de ter estado em
Houston. Até aí só tinha estado em Atlanta, Memphis, Austin, Houston e
Pittsburgh.
Foi também a primeira vez que conheci NY. Não sei
explicar. Não foi aquela coisa de desmaiar porque a cidade é linda... Mas teve
a ver com energia, não sei explicar... mas de facto, impactou-me à primeira. E
eu soube ali que regressaria para ficar. Em poucos dias conheci tudo. Central
Park, 5ª Avenida, Times Square, Rockfeller Center, Soho, Chinatown, Little
Italy, Grand central, Nações Unidas, Ferry para Staten Island...
Impressionou-me o conhecimento profundo da G. pela cidade. O trocar de metro,
sabia os sítios de cor. Eu limitava-me a segui-la. O Joe’s Shanghai ficou como
lugar mítico.
Nunca
me vou esquecer da minha primeira visita a NY. Logo no primeiro dia caí de amores
pela cidade. É tudo nítido na minha memória, em geral bem esquecida. Naquele dia
eu entrei em NYC ou NYC entrou em mim, vá lá, para sempre.
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terça-feira, 9 de abril de 2013
Público vs privado
Os meus amigos e os meus familiares mais chegados que
trabalham na função pública não vão gostar de ler isto. Mas a verdade é a
verdade e factos são factos. Comecemos:
1. Quantos dias de férias existe no público? 25 a 30 dias. E
no privado? 22.
2. Quantas horas semanais se trabalha no público? 35 hrs. E
no privado? 40.
3. As pessoas podem ser despedidas no público? Não. E no privado? Sim.
4. A ADSE é outro dos escândalos na diferença de tratamento
e de acesso à saúde entre público e privado. Se os serviços são prestados nos
mesmos locais porque é que os funcionários públicos têm um sub-sistema
específico.
Já pensaram nas diferenças entre os subsídios de reforma dos
funcionários públicos e do privado?
Sabem com que idade pode um juíz do TC pode reformar-se após
apenas 10 anos de trabalho? 40 anos.
Não percebo como o TC considerou constitucional a taxa de
solidariedade aplicada a reformas superiores a 1350 euros...
É curioso como quase ninguém fala disto... Reflictam! [e já
agora, se vos apetecer, comentem].
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domingo, 7 de abril de 2013
Relvas vs Sócrates
Numa altura em que a turbulência abunda no nosso país, o
caso Relvas acaba por ser o mal menor, mas aquilo que toda a gente esperava há
muito tempo. Para mal e vergonha dele, não saiu por vontade própria, mas quando
já não mais se podia aguentar. Para quem tem telhados de vidro, a atitude mais
sensata, e que lhe ficaria muito bem, teria sido demitir-se quando o escândalo
rebentou. Imaginemos que eu até acreditava que ele não tinha tido qualquer culpa
na obtenção da forma vergonhosa a sua licenciatura. O problema é que o passado
académico deste senhor não indicava nada de bom. Foi sempre um aluno que passou
à rasca e que as suas médias nunca ultrapassaram os 10 e os 11 valores... Pois
bem, ele poder-se-ia ter matriculado normalmente numa universidade privada e
ter obtido de forma normal o diploma. Acontece que existe, o que para mim veio
assassinar a qualidade e o prestígio das antigas licenciaturas, que passaram
para mestrados sem se ter acrescentado matéria ou carga horária. Mas isso são
outra conversas. Bolonha permite que um medíocre aluno, sem passado académico
brilhante requisite a obtenção de equivalências baseado no seu pseudo CV.
Imaginemos que eu até acredito que o coitadinho do Relvas, na sua boa fé,
requisitou as equivalências, sem pedir qualquer favorecimento nem atenção
particular. Surgem as questões: Não seria mais prudente Relvas ter-se dirigido
a uma universidade pública para pedir equivalências? Qual a razão de serem
sempre as universidades privadas postas em causa e de estes casos passarem-se
exclusivamente nelas? Isto leva-nos para outra questão. As universidades
privadas em Portugal, salvo raras excepções, serviram apenas para “acolher”
alunos que pelos mais diversos motivos não entraram nas candidaturas normais
nas universidades públicas. Para além disso, podemos ver a lista vastíssima de
políticos e ex-políticos, deputados e ex-deputados que engrossam a lista de
alunos e ex-alunos e docentes e ex-docentes destas universidades. Muitas destas
universidades serviram para atribuir graus a estas pessoas. No governo anterior
o caso da licenciatura do Sócrates foi muito semelhante a este caso do Relvas.
A única diferença é que de facto o Sócrates, antes de se matricular na
Independente, já tinha um bacharelato em Engenharia Civil pelo ISEC. Embora, já
se achasse engenheiro à época. Adiante, outros tostões. O Sócrates, já com um passado
académico, apresentou as disciplinas efectuadas, e pediu as respectivas
equivalências. Nada de mal. O problema começa nas disciplinas às quais não lhe
deram equivalência e a forma como ele as terminou com sucesso. Ok, partindo do
princípio que eu acredito na boa fé de todas as pessoas e o Sócrates fez apenas
aquilo que lhe foi pedido. Não é estranho para o comum dos alunos que
frequentou uma universidade e terminou uma licenciatura com mais ou menos
dificuldades, se questione como é possível efectuar uma prova escrita fora das
instalações da universidade e enviá-la por fax? Seria menos questionável se lhe
tivesse sido pedido por exemplo uma monografia. Mas não, foi um exame escrito
que depois foi enviado porque fax para o regente da disciplina. Isto é
espectacular. Andamos nós, qual patetas, a acabar licenciaturas com um júri de
pelo menos 3 pessoas doutoradas, mestrados com painéis de no mínimo 3 pessoas
doutoradas e júris de doutoramento com pelo menos 5 pessoas doutoradas, para
estas pessoas acabarem os cursos com exames escritos feitos fora das
universidades. Ok, continuando a achar que não tem mal nenhum, que é apenas um
pormenor, vem o diploma. O diploma de Sócrates, como é público, está datado de
um domingo... As coisas quando começam mal nunca acabam bem. Quem começa com
uma mentira nunca a consegue manter sempre ou para sempre. A licenciatura do
Sócrates foi passada a “pente fino” pelo Ministério Público que não encontrou
matéria duvidosa. Pois bem, aqui começa a minha admiração pelo Prof. Crato. O
Prof. Gago, ministro da tutela à época, lavou as mãos qual Pilates e não
considerou questionável este assunto. O Prof. Crato, independentemente de fazer
parte do governo e de Relvas ser seu colega ministro, não o tratou de forma diferente.
Avisou como deveria o Primeiro-Ministro do resultado da investigação e enviou-a
para o Ministério Público. A ver vamos se o Ministério Público, ao contrário de
Sócrates, vai encontrar alguma coisa nesta licenciatura. Como estava escrito no
“Expresso” Relvas entrou Doutor (devia ter sido escrito Dr. porque Doutor é o
grau dos doutorados) e sai Senhor. Que estes episódios ensinem às pessoas que,
como dizia a nossa Amália “quem tem telhados de vidro não deve andar à pedrada”.
Grande Crato, obrigada!
sexta-feira, 5 de abril de 2013
Clarice Lispector - A hora da Estrela
Hoje abre a exposição "A hora da Estrela" na Fundação Calouste Gulbenkian sobre a obra e vida de Clarice Lispector, no ano que passam 35 anos desde a sua morte. Deixo aqui um vídeo de «uma canção que Caetano Veloso escreveu baseado num livro de Clarice Lispector "A hora da Estrela. Essa canção fala da chegada da Macabé que é a personagem central do livro. O impacto que ela sofre chegando npo Rio de Janeiro e olhando os contrastes e enfim...Quando eu cheguei no Rio de Janeiro tive mais ou menos a mesma sensação da Macabé, achei isso interessante, engraçado porque a Macabé é alguém que chega no Rio de Janeiro vinda do norte. E eu cheguei do sul e era muito parecida à chegada. A canção se chama "Nome da cidade"...».
quinta-feira, 4 de abril de 2013
A demissão do Relvas
Um dia depois da nomeação do embaixador do impulso jovem, o
ministro da tutela demite-se. Fica a questão: este também vai demitir-se?
terça-feira, 2 de abril de 2013
O "embaixador" nomeado pelo Relvas
Leio no “Dinheiro vivo” que o Relvas acaba de nomear para
embaixador do programa “Impulso jovem” o “vendedor de banha da cobra” Miguel
Gonçalves "que conheceu no you tube". Para quem ainda não chegou lá é aquele que fala como quer
para quem quer em programas de tv e toda a gente bate palmas às suas
palhaçadas. Esta é a versão universitária do Tino de Rans, que na sua humildade
e simplicidade protagonizou um inflamado discurso num congresso do PS e cumpriu
o seu sonho ao “tascar” um abraço ao seu camarada Guterres. Estes exemplos são
comuns em todas as aldeias, vilas, cidades pequenas e afins. O problema é estes
casos serem usados como casos de sucesso, quando na verdade, são o motivo da
risota popular de que o nosso caro Eça falava no seu tempo, mas que se mostra
mais actual do que nunca. Podem acusar-me de inveja deste Miguel Gonçalves (não
confundir com o Miguel Gonçalves Mendes realizador do "José e Pilar"). Mas um bocadinho de aprumo no seu discurso não lhe ficaria mal: “eu queria falar cumbosco”; “a
berdadeira rebuluçon”; “eu andei sempre de mangas arregaçadas” e com sound
bites baratos e de qualidade duvidosa (“uns choram outros vendem lenços”, “pimenta
no cú dos outros é refresco”). Para acrescentar, claro que nem tudo o que este
senhor diz é verdade... Neste video (11:27 até 11:58) este senhor diz assim: “Um
dos melhores exemplos que conheço é a minha cara-metade, Tânia. Tinha um sonho
maior que era ser professora universitária. Trabalhou a licenciatura inteira
para acabar o curso com uma média galáctica. Aos 22 foi professora de Economia
na Universidade do Minho. Esteve lá 6 meses. Detestou. Não era a paixão dela,
afinal de contas. Mas ela começou tudo de novo. E foi aquela experiência que
lhe permitiu perceber que ela gostava muito daquele ambiente da academia. E foi
uma das primeiras pessoas na Europa a criar um instituto europeu de
excelência...”. Este senhor que faz
discursos públicos, e não entre quatro paredes para alguns amigos, tem que ter
mais atenção com o que diz. Mesmo que queira vender irrealidades. Claro que
sabemos que a realidade não é tão bonita como a ficção. Há uma figura de estilo
que se chama hipérbole. E eu prefiro usar esta palavra para definir esta parte
do discurso. De facto, a cara-metade dele, não criou nenhuma rede de excelência
nem a ajudou a criar. Mas foi, de facto contratada para trabalhar nesta rede de
excelência europeia, tal como eu e outras dezenas de pessoas. Os louros devem
ser atribuídos, de facto, a quem idealizou e concebeu esta rede de excelência
que foi antes de eu entrar para o grupo. Eu lembro-me do dia em que se soube.
Eu era um “bebé de fraldas”, uma estagiária naquele tempo. Lembro-me das comemorações
no lab, mas de facto, a cara-metade deste senhor ainda não estava no grupo e
como tal, não criou nenhuma rede de excelência. Miguel Gonçalves, na conferência de imprensa quando questionado sobre as políticas do
governo e sobre austeridade, responde: “Estais a tentar apanhar-me de um lado e do
outro. Eu não sei. Faz perguntas importantes.... “Faz uma pergunta que consiga responder...”.Este senhor
que cita Platão e Pessoa não sabe opinar sobre o governo que o contrata?
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