Numa altura em que a turbulência abunda no nosso país, o
caso Relvas acaba por ser o mal menor, mas aquilo que toda a gente esperava há
muito tempo. Para mal e vergonha dele, não saiu por vontade própria, mas quando
já não mais se podia aguentar. Para quem tem telhados de vidro, a atitude mais
sensata, e que lhe ficaria muito bem, teria sido demitir-se quando o escândalo
rebentou. Imaginemos que eu até acreditava que ele não tinha tido qualquer culpa
na obtenção da forma vergonhosa a sua licenciatura. O problema é que o passado
académico deste senhor não indicava nada de bom. Foi sempre um aluno que passou
à rasca e que as suas médias nunca ultrapassaram os 10 e os 11 valores... Pois
bem, ele poder-se-ia ter matriculado normalmente numa universidade privada e
ter obtido de forma normal o diploma. Acontece que existe, o que para mim veio
assassinar a qualidade e o prestígio das antigas licenciaturas, que passaram
para mestrados sem se ter acrescentado matéria ou carga horária. Mas isso são
outra conversas. Bolonha permite que um medíocre aluno, sem passado académico
brilhante requisite a obtenção de equivalências baseado no seu pseudo CV.
Imaginemos que eu até acredito que o coitadinho do Relvas, na sua boa fé,
requisitou as equivalências, sem pedir qualquer favorecimento nem atenção
particular. Surgem as questões: Não seria mais prudente Relvas ter-se dirigido
a uma universidade pública para pedir equivalências? Qual a razão de serem
sempre as universidades privadas postas em causa e de estes casos passarem-se
exclusivamente nelas? Isto leva-nos para outra questão. As universidades
privadas em Portugal, salvo raras excepções, serviram apenas para “acolher”
alunos que pelos mais diversos motivos não entraram nas candidaturas normais
nas universidades públicas. Para além disso, podemos ver a lista vastíssima de
políticos e ex-políticos, deputados e ex-deputados que engrossam a lista de
alunos e ex-alunos e docentes e ex-docentes destas universidades. Muitas destas
universidades serviram para atribuir graus a estas pessoas. No governo anterior
o caso da licenciatura do Sócrates foi muito semelhante a este caso do Relvas.
A única diferença é que de facto o Sócrates, antes de se matricular na
Independente, já tinha um bacharelato em Engenharia Civil pelo ISEC. Embora, já
se achasse engenheiro à época. Adiante, outros tostões. O Sócrates, já com um passado
académico, apresentou as disciplinas efectuadas, e pediu as respectivas
equivalências. Nada de mal. O problema começa nas disciplinas às quais não lhe
deram equivalência e a forma como ele as terminou com sucesso. Ok, partindo do
princípio que eu acredito na boa fé de todas as pessoas e o Sócrates fez apenas
aquilo que lhe foi pedido. Não é estranho para o comum dos alunos que
frequentou uma universidade e terminou uma licenciatura com mais ou menos
dificuldades, se questione como é possível efectuar uma prova escrita fora das
instalações da universidade e enviá-la por fax? Seria menos questionável se lhe
tivesse sido pedido por exemplo uma monografia. Mas não, foi um exame escrito
que depois foi enviado porque fax para o regente da disciplina. Isto é
espectacular. Andamos nós, qual patetas, a acabar licenciaturas com um júri de
pelo menos 3 pessoas doutoradas, mestrados com painéis de no mínimo 3 pessoas
doutoradas e júris de doutoramento com pelo menos 5 pessoas doutoradas, para
estas pessoas acabarem os cursos com exames escritos feitos fora das
universidades. Ok, continuando a achar que não tem mal nenhum, que é apenas um
pormenor, vem o diploma. O diploma de Sócrates, como é público, está datado de
um domingo... As coisas quando começam mal nunca acabam bem. Quem começa com
uma mentira nunca a consegue manter sempre ou para sempre. A licenciatura do
Sócrates foi passada a “pente fino” pelo Ministério Público que não encontrou
matéria duvidosa. Pois bem, aqui começa a minha admiração pelo Prof. Crato. O
Prof. Gago, ministro da tutela à época, lavou as mãos qual Pilates e não
considerou questionável este assunto. O Prof. Crato, independentemente de fazer
parte do governo e de Relvas ser seu colega ministro, não o tratou de forma diferente.
Avisou como deveria o Primeiro-Ministro do resultado da investigação e enviou-a
para o Ministério Público. A ver vamos se o Ministério Público, ao contrário de
Sócrates, vai encontrar alguma coisa nesta licenciatura. Como estava escrito no
“Expresso” Relvas entrou Doutor (devia ter sido escrito Dr. porque Doutor é o
grau dos doutorados) e sai Senhor. Que estes episódios ensinem às pessoas que,
como dizia a nossa Amália “quem tem telhados de vidro não deve andar à pedrada”.
Grande Crato, obrigada!
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