Continuei pelas ruas de Campo de Ourique, fui até aos
Prazeres e sentei-me no regresso na esplanada da Canas.Vi passar várias vezes o eléctrico 28, do qual tenho um desenho
original numa das paredes de casa e um no frigorífico. Muitas pessoas
escaldadas do sol, provavelmente vindas da praia, duas senhoras velhotas a
comer amendoins e a beber imperiais. Há melhor? Levanto-me em direcção à Estrela
e não resisto a entrar no eléctrico. Não há melhor! O percurso é lindo. O eléctrico vai até ao Martim Moniz mas eu
fico pelo Chiado. Olho para o nosso poeta maior. Sigo para a Bertrand. Depois
para a Fnac, onde comprei quatro livros do “Nandinho”, como lhe chama a Maria
Bethânia. Regresso ao largo Camões, onde
num dos quiosques peço uma ginginha. Mas é tão bem servida que se continuo a
bebê-la sem comer nada fico logo ali. Entro num café que faz esquina com a Rua
da Misericórdia e peço um pastel de bacalhau. Todos me perguntam o que tenho no
copo! E eu respondo, simpaticamente, provavelmente já tocada pela ginginha, a
todos. O pastel de bacalhau é medonho mas serve o objectivo. Acabo a ginginha,
agradeço amavelmente a todos os que me fizeram companhia no balcão e a quem me
serviu. Saio e é tempo de meter-me num táxi que me levará a Entrecampos onde
jantei tão bem no Sakura.
segunda-feira, 24 de junho de 2013
125 anos de Fernando Pessoa
Sempre que posso tento conhecer lugares, casas, cafés que
foram frequentados por génios. Fico ali quieta a olhar. Perco-me no tempo. Não
dou por ele passar. Fico a imaginar que ali, há alguma coisa especial, uma luz,
uma paisagem, uma inspiração divina para o resultado que nunca morre. Ser
eterno é isto. É permanecer para além da morte. Influenciada pelo 125º
aniversário de Fernando Pessoa, fui conhecer a casa dele em Campo de Ourique.
Sábado, uma tarde maravilhosa, com aquela luz que só Lisboa tem, acreditam que
a biblioteca estava fechada? Resposta de uma funcionária: “Hoje é sábado, está
fechada”. Com um ar que queria ter dito: “com este tempo vem esta gente para
aqui chatear quando deviam estar na praia!”. Não seria suposto uma casa destas
ter a biblioteca aberta ao fim de semana, quando o comum dos mortais só a pode
visitar nestes dias, porque nos restantes trabalha? A coisa começou
imediatamente mal. Mas bastou-me subir ao primeiro andar e ver (mesmo só da
porta de vidro fechada) o famoso quadro de Fernando Pessoa pintado pelo Almada
Negreiros, que esqueci imediatamente tudo. Deixei-me impregnar pelo ambiente.
Entrei no quarto completamente escuro do Pessoa. Ali estava a cama se solteiro,
a cómoda e alguns manuscritos. Sentei-me na cama, não sei se era suposto. E
fiquei ali a olhar, não sei quanto tempo, sozinha. Via apenas símbolos do
Zodíaco e que dali, daquele pequeno quarto tinham saído alguns dos melhores
poemas. Saio, vejo a máquina de escrever, vejo o diploma da escola onde nasceu
e estudou, em Durban. Subo ao 3º andar, o Sonhatório.
Quase tudo ali é interactivo. Podem ouvir-se poemas ditos por artistas
portugueses e brasileiros. Pode ver-se pormenores da vida de Fernando Pessoa.
Numa das salas estão expostos alguns dos objectos pessoais de Pessoa: os tão famosos óculos, um caderno de
apontamentos, um isqueiro de prata. Mas o barulho de uns espanhóis estridentes
tiraram-me a concentração. Nem o meu olhar reprovador os fez desistir. Parecia
que estávamos no circo. Detesto este tipo de pessoas que não tem qualquer tipo
de sensibilidade e só visitam os sítios para poderem dizer aos amigos que
estiveram lá.
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