domingo, 16 de junho de 2013

Grande Alface

O dia começa de manhã para mim, nada habitual ao domingo. Ontem caí na cama e doía-me todos os músculos das pernas, até os que eu não sabia que tinha! Isto é o que acontece a quem não anda a pé. Acordei diversas vezes durante a noite, nada fora do habitual. E às 9 já estava acordada, antes do despertador dar o toque de alvorada às 9:30. Fui ao Museu Gulbenkian, não para ver a exposição permanente, mas para ver  a exposição da Clarice Lispector – A hora da estrela. Está nos últimos dias, e a última vez que estive cá, não coincidiram os horários. Museu cheio de famílias, turistas, crianças, novos, velhos. E hoje era de graça, coisa que eu não sabia, mas agradeci! A exposição, tal como Clarice Lispector é invulgar e sombria, escura. A primeira sala está coberta de frases da autoria dela, e fotos,  a principal delas a destacar um dos seus olhos, invulgares. A seguinte é parecida mas iluminada. A seguinte tem a transmissão de uma entrevista, dada pouco antes de morrer, e da publicação do seu último livro “A hora da Estrela”. Ali são perceptíveis as marcas deixadas na sua mão direita, provocadas pelo acidente em casa por conta de ter adormecido com um cigarro aceso. A sala dos espelhos mostra a trajectória das cidades por onde Clarice Lispector passou, desde a cidade que nasceu, na Ucrânia até ao Rio de Janeiro, onde morreu. A última sala é constituída de cima a baixo por gavetas, as quais só algumas abrem. São muitos documentos, cartas, cartões, e correspondências entre amigos, dos quais se destaca o poeta e diplomata João Cabral de Melo Neto. É possível ver também  carta a pedir ao Presidente Getúlio Vargas a nacionalidade brasileira, porque apesar de o único país que conheceu como seu ter sido o Brasil, ela saíra da Ucrânia bebé de colo. As outras espectacularidades do museu são os jardins e a esplanada da cafetaria. E o clima e a luz de Lisboa são exemplares para isso.









Segui para o Cais das colunas. Se me perguntarem a minha imagem preferida de Lisboa, é sentar-me nas escadas que dão para o rio e estar ali a olhá-lo sem dar pela passagem do tempo. Quando eu conheci o Mississipi pela primeira vez em Memphis, foi uma desilusão. Eu que achava que o rio era grandioso ao estilo do Amazonas, das histórias do Tom Sawyer, quando cheguei lá apareceu-me um rio normalíssimo. Olhar o Tejo do Cais das Colunas [outra das vistas magníficas é a vista da Fundação Champalimaud] é majestoso. Na semana passada festejaram-se os 125 anos de Fernando Pessoa. Não existe poema que descreva tão bem o Tejo como este:

" O Tejo é mais belo que o rio que corre pela minha aldeia
(...)
O Tejo tem grandes navios
E navega nele ainda,
Para aqueles que vêem em tudo o que lá nã está,
A memória das naus.

O Tejo desce de Espanha
E o Tejo entra no mar em Portugal.
Toda a gente sabe isso.
(...)

Pelo Tejo vai-se para o mundo.
Para além do Tejo há a América 
E a fortuna daqueles que a encontram.
(...)

Ricardo Reis



Depois, como estava próxima, fui à Fundação José Saramago. Para minha surpresa estava fechada. Pelos vistos fecha aos domingos. Para a “Presidenta” Pilar que está sempre a reclamar de tudo, era óptimo que explicasse a lógica de fechar a fundação ao domingo, quando os que trabalham durante a semana não o podem fazer... Sem querer estragar o meu dia que estava a ser perfeito, encontrei a felicidade mesmo ao lado. Almoço:caracóis, sardinhas, uma salada, uma imperial e uma coca-cola na esplanada do “Solar dos bicos”. E ainda estive a avançar a leitura da biografia da Clarice Lispector. 




A meio da tarde, para desgastar, segui pela Praça do Comércio em direcção à Rua do Alecrim, não tão íngreme como a Bica... Depois segui pela Rua da Misericórdia até ao Miradouro São Pedro de Alcântara, que juntamente com o Miradouro de Santa Catarina e a Graça,  é de tirar a respiração.  É quase de desmaiar de tão lindo! Segui até ao Príncipe Real onde me estiquei na relva. Em Braga, os jardins são para olhar e não para usar. Este não, toda a gente deitada nos jardins! E eu que só podia fazer isso em casa dos meus avós, tirei a barriga de misérias e estive ali a olhar para o céu, a ver as nuvens passar devagarinho, a ouvir as crianças a jogar à bola, os gritos das correrias, casais de namorados (as) a ler e a aproveitar o sol, esplanadas cheias, velhinhos nos bancos do jardim, a olhar as palmeiras e outras árvores que não sei o nome. Aproveitei para mais leitura e até ao último minuto porque queria que este dia demorasse mais a acabar.





1 comentário:

  1. Em dias assim o tempo devia ser demorado...e as horas deviam ser minutos e os dias deviam ser horas...em dias assim aprende-se tanto a não fazer nada!!!!!!!! :-D

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