Começar um doutoramento está a tornar-se a única saída para muitos, mas uma saída ilusória e temporária. É como aqueles candidatos a programas de música que cantam muito mal e que perante um juri percebem que nunca ninguém lhes disse o quão mal cantavam. Isto dava pano para mangas. Mas com uma população envelhecida, com a falta de incentivos à natalidade, é de perceber que cada vez menos alunos entram nas universidades e que o número de professores funcionários públicos não diminui, e por isso há que criar novos Mestrados e Programas Doutorais para manter o sistema. Não sei como isso se resolve. Não tenho uma solução, mas também não acho, como muitos, que existe uma solução a muito curto prazo. As mudanças são dolorosas, envolvem lobbies, e situações estabelecidas intocáveis.
O presidente da FCT disse que o financiamento dos
projectos aumentou de 70 para 90 milhões. Eu de números não percebo nada, mas
como ninguém na sala contestou, eu acredito.
Ele disse também que a FCT antigamente era um multibanco e é agora muito mais gestão. Falaram na
habitual meritocracia e de um sistema de boas práticas de avaliação. Propôs uma
coisa que eu já há muito pensei. E o Ministro falou para aquela sala de
investigadores que era um luxo podermos fazer ciência em Portugal, porque não estávamos no 3º mundo. No Uganda não deve haver dinheiro para comer, quanto
mais para ciência. Claro, e eu por mim falo, que ninguém imagina o quanto um
doutoramento feito, em parte no estrangeiro, nos enriquece. A questão é que um
país como o nosso, não se pode dar ao luxo de patrocinar na totalidade bolsas,
ajudas de custo, propinas e afins. O mais justo seria um sistema de
co-financiamento, mecenatos ou projectos. Eu, com muito desgosto meu, não fiz o
doutoramento à custa da FCT, que a única coisa q me pagou no meu doutoramento foi
a impressão das teses. Mas fiz o doutoramento porque alguém acreditou em mim e
me deu uma bolsa equivalente à da FCT e que arranjou um acordo com um
laboratório estrangeiro (que é comum no meu grupo) para o qual vamos pro bono
mas as experiências são sustentadas pelo lab de acolhimento.
O orador seguinte foi o António Coutinho, ex-director do Instituto Gulbenkian de Ciência. Acho que nunca o tinha ouvido falar pessoalmente. Pelo sotaque notei ali qualquer coisa do norte, achei que fosse do Porto, confirmo agora na wikipedia que é de Aveiro. Começou por dizer a piada que um colega indiano lhe dissera que o presidente e o primeiro-ministro indiano sabem calcular uma derivada. Formou-se em Medicina e o internato complementar na FMUP e queriam que fosse para a tropa, e como ele não queria foi para fora. Esteve 30 anos fora. Como ele disse, não percebia nadinha de investigação e o primeiro orientador dele disse-lhe: “You go around and talk to the people, I´m not here to teach technitians”. “You need to know what you want to do”. Segundo ele, os estudantes têm que saber fazer e convencer o orientador sobre a sua ideia. Claro que ele criticou esta nova forma de fazer doutoramento em 3 anos que é totalmente não-inovadora. Os alunos não desenvolvem a sua ideia, desenvolvem a ideia dos seus orientadores, que é a coisa pior que se pode fazer, proibir os jovens de pensar por eles próprios. O Prof. Coutinho disse que em 1972 trabalhou dia e noite e não fez nada que se visse, nada de jeito, isto no Karoliska Institute. Mas depois de resolver o problema, as coisas acabam sempre por acontecer.
Da esquerda para a direita: João Íncio, Leonor Parreira. Nuno Crato, Miguel Seabra e Tiago Fleming Outeiro |
O orador seguinte foi o António Coutinho, ex-director do Instituto Gulbenkian de Ciência. Acho que nunca o tinha ouvido falar pessoalmente. Pelo sotaque notei ali qualquer coisa do norte, achei que fosse do Porto, confirmo agora na wikipedia que é de Aveiro. Começou por dizer a piada que um colega indiano lhe dissera que o presidente e o primeiro-ministro indiano sabem calcular uma derivada. Formou-se em Medicina e o internato complementar na FMUP e queriam que fosse para a tropa, e como ele não queria foi para fora. Esteve 30 anos fora. Como ele disse, não percebia nadinha de investigação e o primeiro orientador dele disse-lhe: “You go around and talk to the people, I´m not here to teach technitians”. “You need to know what you want to do”. Segundo ele, os estudantes têm que saber fazer e convencer o orientador sobre a sua ideia. Claro que ele criticou esta nova forma de fazer doutoramento em 3 anos que é totalmente não-inovadora. Os alunos não desenvolvem a sua ideia, desenvolvem a ideia dos seus orientadores, que é a coisa pior que se pode fazer, proibir os jovens de pensar por eles próprios. O Prof. Coutinho disse que em 1972 trabalhou dia e noite e não fez nada que se visse, nada de jeito, isto no Karoliska Institute. Mas depois de resolver o problema, as coisas acabam sempre por acontecer.
Depois, mudou-se para Basileia para fazer o Post-Doc
e as questões mudaram e já eram 3:
What you want to
know? Then, is just to
think about it all the time and to find the most
acute continuation;
Uns anos mais tarde foi nomeado catedrático de
Medicina- Head of Department.Não havia ninguém lá dentro. Nunca tinha feito administração nenhuma na
vida a não ser dos seus ratos. Mas afirmou que lá foram passados os melhores
anos da vida dele. Arrisquem, foi o que disse.
Na sua opinião é uma excelente altura para se voltar
para Portugal. O dinheiro está a diminuir mas a execução está a aumentar, as
farpas lançadas. As posições da FCT são livres, por mérito.
O IGC por muitas críticas que se façam, tem n
laboratórios individuais, com n PIs, tem uma média de publicação incrível em
termos de Factor de Impacto, as ERC atribuídas a iniciantes são imensas. E ele
diz uma coisa, claro que é mais importante e tem mais valor um Science ou um
Nature ser conseguido aqui do que em qualquer outro lab do mundo. Quando falou de publicações, referiu sempre que era o factor de impacto que contava e não o número.
Fez uma crítica directa aos painéis de avaliação da
FCT, que não compreendia, como é que as pessoas que estão nos conselhos
científicos são as mesmas que estão a concorrer para essas mesmas grants.
E terminou a dizer “Deus nos livre ou o Menino Jesus
de pormos a nacionalidade à frente da qualidade científica”. E eu termino a
dizer que quem me dera que o CV dos estrangeiros fosse avaliado como o nosso e
não pelo facto de ser estrangeiro já ser bom! Mas eu sei do que é que ele está
a falar, daquelas “cabeças” estrangeiras que estão no IGC e que o seu CV fala por
eles.
António Coutinho |
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