Uma
das perguntas que se coloca é qual a razão de Manhattan não ter a vida e a
boémia literária de outros tempos? Um dos possíveis diagnósticos é o da
proibição de fumar nesses locais boémios. Outro dos diagnósticos, embora eu
discorde, parece ser a internet. Acho que se vê muitos escritores nas mesas
dos cafés a trabalhar e a procurar a inspiração de uma massa. Há quem diga que
a paixão que uma determinada geração nutria pela poesia e ficção foi canalizada
para a comida, fazer pickles, chocolate ou cerveja. Hoje os interesses são
outros.
Outra
das coisas que foi dita, e com a qual concordo, é que hoje os escritores não
estão nos bares a beber até morrer, como Dylan Thomas, mas em cafés. Muitos
explicam também que a cena literária mudou-se para Brooklyn porque as rendas
são bem mais baratas. Por mais que me expliquem e me apresentem razões que
morar em Brooklyn é que é, e que ser hipster é que é, e que aquele lado do rio
é que está na moda, não me convence. Para mim,
Manhattan é Manhattan e ponto.
No "Café Loup" ainda se encontram muitos editores, académicos e escritores. Nos finais dos anos 90, Susan Sontag e Paul Auster eram
dos frequentadores habituais.
Muitas
das livrarias de Manhattan têm fechado, mas muitos hotéis inspirados em livros
têm aberto. Um deles é o “The library Hotel" na Madison, não muito longe da New
York Punlic Library na 5ª Avenida e Bryant Park. Este hotel tem almofadas com a
seguinte frase: “Book Lovers Never Go to Bed Alone.” Aquelas etiquetas que se
colocam nas portas dos quartos para que sejam arrumados ou não se ser
incomodado têm a frase: “Please dust off my books.” Uma das razões para se passar algumas horas na "New York Public Library":
a loja da biblioteca tem dos melhores presentes relacionados com leitura e
livros. Porque é que eu nunca entrei na loja???
O "The Plaza" no Central Park foi onde Truman Capote fez a sua festa “Black and White
Ball” em 1966 e onde F. Scott Fittgerald colocou partes no “The Great Gatsby”.
Tennessee Williams viveu no último andar do Hotel Elysée em Midtown. Há ainda o mítico Chelsea Hotel onde toda a gente desde Charles Bukowski,
Leonard Cohen até Patti Smith por lá ficaram.Arthur C. Clarke escreveu “2001: A
Space Odyssey” no Chelsea Hotel.
Em
Chelsea, “192 Books”, uma das livrarias que mais frequentei até já escrevi um post. Fazem muitas leituras com escritores consagrados. Não é muito grande e tem uma
pequena mas brilhante selecção de ficção e não-ficção Para mim esta livraria é
adorável.
Há
tantas e tão boas livrarias em Manhattan: “Book Book”, também conhecida por ser a antiga livraria das biografias, uma livraria muito pequenina na Bleecker St. repleta de
bons livros e alguns em saldo.
A “Book Culture” em Morningside
Heights na 112 st com a Broadway. Uma livraria que me faz lembrar a Centésima Página. Cheia de fotos de escritores.
Com dois andares, onde as pessoas percebem de livros e sabem aconselhar, onde há
cadeirões para nos sentarmos a ler. Passei horas e horas no inverno de NYC
nesta livraria por ser muito perto das casas onde morei
Imperdível
também a “McNally Jackson" no Soho ou NoLiTa também espectacular. Tem um café e uma loja. Mais do que livros, tem clubes de
leitura, apresentações de livros, leituras e muitos eventos.
A “St. Marks Bookshop” é uma livraria independente no Lower East Side, logo, uma zona da cidade que não
frequentava muito, só mesmo à noite. Aqui a selecção de livros é excelente, é
um edifício renovado, moderno, espaçoso. Tem uma selecção óptima de de revistas
literárias e jornais estrangeiros . Vale
a pena a visita.
A “Strand”
em Union Square, pela localização, pelas pessoas que a frequentam, pelo ambiente
da zona , não sei explicar...para mim é um achado. É gigantesca, a sua frase
mais conhecida é: “18 Miles of Books.” Na parte exterior tem dezenas de
carrinhos com livros de $1 a $5. Encontrei grandes livros no
meio destes milhares. Depois, no interior vende-se de tudo dos mais pop, aos tops,
a usados, a revistas de especialidade, todos os souvenirs da strand. Tem também
no andar superior uma secção de livros antigos, de verdadeiras preciosidades e
onde se fazem as leituras e apresentações de livros. Mas o andar inferior é o
que mais gosto. Tem sempre imensos livros e CDs a bons preços. Nunca vim de lá
a não ser carregada
Há também um novo restaurante e
cocktail lounge, Dalloway, na Broome Street- SoHo, ao qual nunca fui. Diz-se que está impregnado
com o Espírito de Virginia Woolf. Dizem que é um espaço adorável, com grandes
velas, com uma clientela “girl bar scene” (as donas são lésbicas assumidas). Se
assim é o restauranet só pode ser bom e de bom gosto.
"The
White Horse Tavern", em West Village, também já escrevi um post específico, é
uma instituição. Foi onde Dylan Thomas bebeu até morrer, Anaïs Nin e Seymour
Krim conversavam e onde alguém um dia rabiscou na parede da casa de banho: “Go
home, Kerouac!” durante os anos em que o escritor da geração Beat bebia lá. Vale a pena a visita mas o
atendimento é péssimo. Na esplanada pode apreciar-se as vistas e ver por ex a
Julianne Moore ou a Natalie Portman.
Acho que já estive no “McSorley’s Old Ale House” em East Village com a C. no St Patrick’s Day. É o mais antigo bar irlandês de Manhattan, meados do
séc. XIX. Nos seus frequentadores incluem-se visitors Abraham Lincoln.
Texto inspirado no artigo “A Critic’s Tour of
Literary Manhattan” do do
crítico literário DWIGHT GARNER.
Credits“The New York Times” |
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