A Maria Mota, que eu também só conhecia
da televisão, pela malária, como o nosso amigalhaço (não é caríssima?!) Miguel
Che Soares. A Maria disse que no 5º ano já sabia o que queria ser quando olhou
para um esfregaço de sangue. E que antes de entrar para a faculdade foi visitar
com a mãe as duas faculdades de medicina do Porto, uma vez, que era de V.N.
Gaia. Gostei desta coisa de ela assumir que é de Gaia e não fazer como todas as
pessoas que são de Ermesinde, Gondomar, Maia e afins, dizem que são sempre do
Porto. Entrou em Biologia no Porto e disse que detestava ecologia e acordar
cedo para ver as aves e isso. Mas como vinha de uma família rígida, o que se
começava era para acabar. Contou que ela mais uns amigos, naqueles anos de “vacas
gordas” candidataram-se a “fundo perdido” de milhares de escudos para
desenvolver umas plantas. E aquilo até ia dar certo. Até que um dia, quando
passava num dos corredores do ICBAS viu um anúncio de Mestrado que lhe chamou a
atenção. Foi para a entrevista, com a Maria de Sousa (pelo que tenho ouvido
dizer bastante intimidadora) e a meio da entrevista mudaram para inglês, que
ela não dominava. Saiu a achar que tinha corrido muito mal, que não seria
aceite e nem sequer contou a ninguém. Mas afinal enganou-se, foi aceite. E para
ela foram meses fantásticos, foi muito duro mas maravilhoso. Foi para Londres e
o chefe de laboratório era fantástico, inteligentíssimo mas só esteve com ele
de Jan de 1995 a 8 Set de 1995. Reformou-se depois disso. Teve toda a liberdade
do mundo. O doutoramento foi “o prazer da descoberta”. Muda-se depois para NYC
para fazer o post-doc, aí, foi “o amadurecimento e o entusiasmo extrovertido”.
Voltou para Portugal, para o IGC, onde continuou a ter “completa liberdade”.
Três anos mais tarde mudou-se para o IMM com muitos investigadores muito
jovens, todos têm o prazer pela descoberta. Não falou do regresso a NYC... Reparei,
como todos os investigadores tem um vício, o de roer as unhas.
O Nelson Lopes, o outro orador, é
médico, farmacêutico e é o responsável pela divisão de ensaios clínicos na
BIAL. Começou por dizer que a ideia que as pessoas têm da indústria: “uma
investigação de terceira, com trabalho de segunda e ordenado de primeira”.
Disse que a indústria recruta cientistas de alto calibre. A carreira dela não
foi um percurso convencional para um médico. Entrou em Farmácia, que não
gostou. E tal como a Maria Mota, também é de V.N. Gaia e de uma família rígida.
Andava numa fase romântica com as leituras do Camilo Castelo Branco. E nessa
altura teve uma conversa com um grande amigo, Dr. Jorge Ferreira, grande pneumologista
português que lhe disse que ele tinha duas opções: doutoramento ou Medicina. O
que ele queria era investigação, algo mais aliciante. Entrou em Medicina na
Universidade de Lisboa com o objectivo de seguir investigação clínica.
O Nuno Arantes de Oliveira que eu
conheci há muitos anos numa conferência de células estaminais no IST, disse nunca
ter sido um aluno brilhante, ao contrários dos oradores anteriores. Apesar de
ter feito Biologia, nunca se considerou biólogo, mas a mãe ainda hoje diz que
ele é biólogo. Foi a uma entrevista no IGC com o Prof. Coutinho para
doutoramento em Biologia e Medicina e foi aceite. Mas ainda sem saber o que
queria ser. Escolheu a UCSF em San Francisco. A escolha teve a ver com a cidade (olha outro como eu!!!) porque laboratórios fantásticos conheceu ele pelo
mundo fora. A cidade para ele era fantástica. O seu doutoramento foi feito na
área do envelhecimento e a pergunta a que queria responder era “Porque é que as
pessoas morrem?”. Fez um Post-doc na área de inovação. Formou a ATGC/Alfama,
empresa de desenvolvimento de fármacos.
Depois ainda houve outros oradores,
menos interessantes, na sua forma de cativar a plateia e de contar a sua
história.
Gostei de ouvir falar o Carlos Caldas
que é oncologista e tem um laboratório no Cambridge Research Institute. Nunca
teve fama em Portugal. Primeiro foi para Dallas, depois para Baltimore, Londres
e ficou em Cambridge, onde conseguiu a cátedra. Segundo ele “subiu à procura da
excelência”. Citou várias vezes poemas, a que não me esqueci foi tirada do “Livro
do desassossego” de Fernando Pessoa: “ Saber não ter ilusões” e ainda
parafraseou o “Comboio descendente”:
No comboio descendente.
Mas que
grande reinação!
Uns
dormindo, outros com sono,
E os outros nem sim nem não
Fernando Pessoa
Um investigador que gosta de poesia, só
pode ser bom! E ainda apareceram por lá o Carlhos Fiolhais e o Mariano Gago.
Do segundo da esquerda para a direita: Nelson Lopes, Nuno Arantes Oliveira, Diana Marques, Irene Fonseca e Maria Mota |
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