domingo, 23 de dezembro de 2012

Amour, de Michael Haneke


Sabemos previamente que Anne morreu, a primeira sequência do filme mostra o arrombamento do apartamento, onde  encontram o corpo de uma mulher morta na cama rodeada de pétalas.“Amor” é um filme surpreendente. As expectativas eram grandes pelas críticas que tinha lido e pela sinopse. Os octagenários actores franceses interpretam em  um casal de músicos cheio de amor e cumplicidades, que quase não precisa de palavras para se entender. Percebe-se a vida cosmopolita deles numa ida a um concerto de um antigo aluno. Mas um dia, como o livro da Joan Didion, toda essa vida desaba, quando ela adoece. O dramático efeito de um acidente vascular cerebral tem numa pessoa que apesar da idade, tinha uma vida normalíssima e que dividiam tudo entre os dois. O corpo entra em declínio e o casal, isolado num apartamento, vive o inferno da própria dor.

O filme, passa-se quase inteiramente num apartamento parisiense,retrata a deterioração lenta, gradual e penosa da velhice, mostrando com compaixão a dor de assistir à doença de um ente querido, de observar sua lenta passagem em direcção à morte, ao fim, sem que nada o consiga evitar.

Este filme mostra acima de tudo o que o amor é capaz de suportar mesmo quando as pessoas nos deixam de reconhecer. A humanidade, compaixão e amor com que aquele marido tratou a mulher até quase ao fim.  O percurso do casal é mostrado em detalhes, na vida quotidiana de um doente, desde o dar de comer, o banho, mudar fraldas... . No limite, ele agride-a, quando tenta que ela beba água e não morra à sede, e ela já sem consciência do que é e do que faz, a cospe. Uma cena particularmente bem filmada.

A minha avó, felizmente, apenas na sua última semana de vida é que se recusou a beber e a comer. E eu revi tanto a minha avó nestas cenas. E este filme mostra e vem dar razão ao que sempre defendi, que as pessoas, apesar das diminuições graduais das suas capacidades, não devem morrer fora de casa e devem ser cuidadas pelos seus familiares próximos. É aquela frase “there is no place like home”.



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