Sabemos previamente que Anne morreu, a primeira sequência
do filme mostra o arrombamento do apartamento, onde encontram o corpo de uma mulher morta na cama
rodeada de pétalas.“Amor” é um filme surpreendente. As expectativas eram
grandes pelas críticas que tinha lido e pela sinopse. Os octagenários actores
franceses interpretam em um
casal de músicos cheio de amor e cumplicidades, que quase não precisa de
palavras para se entender. Percebe-se a vida cosmopolita deles numa ida a um
concerto de um antigo aluno. Mas um dia, como o livro da Joan Didion, toda essa
vida desaba, quando ela adoece. O dramático efeito de um acidente vascular
cerebral tem numa pessoa que apesar da idade, tinha uma vida normalíssima e que
dividiam tudo entre os dois. O corpo entra em
declínio e o casal, isolado num apartamento, vive o inferno da própria dor.
O filme, passa-se quase inteiramente num apartamento
parisiense,retrata a deterioração lenta, gradual e penosa da velhice, mostrando
com compaixão a dor de assistir à doença de um ente querido, de observar sua
lenta passagem em direcção à morte, ao fim, sem que nada o consiga evitar.
Este filme mostra acima de tudo o que o amor é capaz de
suportar mesmo quando as pessoas nos deixam de reconhecer. A humanidade,
compaixão e amor com que aquele marido tratou a mulher até quase ao fim. O percurso do casal é mostrado em detalhes, na
vida quotidiana de um doente, desde o dar de comer, o banho, mudar fraldas... . No limite, ele agride-a, quando tenta que ela beba
água e não morra à sede, e ela já sem consciência do que é e do que faz, a cospe.
Uma cena particularmente bem filmada.
A minha avó, felizmente, apenas na sua
última semana de vida é que se recusou a beber e a comer. E eu revi tanto a
minha avó nestas cenas. E
este filme mostra e vem dar razão ao que sempre defendi, que as pessoas, apesar
das diminuições graduais das suas capacidades, não devem morrer fora de casa e
devem ser cuidadas pelos seus familiares próximos. É aquela frase “there is no
place like home”.
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